sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Os arrastões e a infância na violência

O caso de arrastões nas praias do Rio demonstra dois aspectos que ainda não tinham sido nomeados - e ainda não foram, oficialmente, mas cuja urgência fica cada vez mais difícil de ser escondida. Ambos, claro, têm a ver com a sensação de insegurança, e uma questão é como uma consequência da outra. Em primeiro lugar, esses assaltos e furtos ao atacado mostram como o combate apenas policialesco ao crime não soluciona o problema, apenas o espalha, o modifica, o torna, em alguns casos, mais cruel. O outro é a cruel readaptação da questão inicial: como de uns tempos para cá tenho a impressão de um aumento significativo de crianças e adolescente vivendo na e da rua.

Sempre me impressionou na cena final de "Cidade de deus" a idade dos meninos que assumem o crime na favela

Não há estatísticas que comprovem esse aumento apenas uma percepção de quem vê vários grupinhos, de dez, 15 moleques sujos andando em andrajos, segurando garrafas de plástico transparente e aspirando algum tipo de solvente. Invariavelmente são negros. No Centro, após o horário de expediente, são extremamente comuns, principalmente perto da Carioca, e descendo em direção à Uruguaiana. Em Botafogo, ficam na praia, e em acessos. Sempre se escondendo, se esquivando, sofrendo o processo de marginalização. São presenças constantes, e ausentes da sociedade.

Se não há estatística, ao menos temos um fato que joga luz para essa situação: no arrastão, foram apreendidos tantos garotos - alguns de 10 anos! - que o secretário Beltrame falou que vai penalizar os pais por abandono de incapaz, além de pedir a ajuda do conselho tutelar para resolver o problema. Exatamente porque não é apenas colocando mais policiais na praia que vamos acabar com os arrastões. E não estou dizendo isso por uma impressão esquerdista, do tudo pelo social - não apenas - mas por uma incapacidade generalizada de a polícia dar conta de um problema que é sempre pulverizado. Como estar em todos os lugares ao mesmo tempo? Enquanto a polícia estiver no Arpoador, os meninos vão estar arrastando o posto 9. Quando a polícia estiver no Leblon, eles atacam no 6.

Daí que o Beltrame sempre falou - e não somente ele, mas vários outras pessoas ligadas a área de segurança - que as UPPs não poderiam ser as únicas armas contra a violência. Porque é como se apenas estivéssemos espalhando o problema. Ou espremendo. Se prendemos os cabeças das quadrilhas, outros, geralmente mais novos, vão assumir os lugares. Ou vão arranjar outras formas de ganhar dinheiro, que não vendendo drogas. Ou vão sair das favelas com UPPs porque lá agora há uma certa ordem. Aliás não é incomum de ouvir diversos jovens moradores de favelas com UPPs reclamando das políticas públicas impostas pelos poliças. A ordenação - o viver em sociedade - requer abrir mão de alguns quereres. E eles não estão acostumados.

Todas as vezes que eu vejo esses meninos e meninas nas ruas, com seus corpos sujos e franzinos, me lembro de uma frase que eu ouvi não sei onde, não sei de quem, mas que representa bem esse nosso problema. Pobre é o país que tem medo de suas próprias crianças. #Ficaadica para o próximo lema da nação.

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