terça-feira, 2 de agosto de 2016

CHINA NEWS: Ficção científica

Quando se pensa em China qual é a imagem que vem logo à cabeça?

(a) A Grande Muralha
(b) Mao Tsé-Tung
(c) Agricultores de arroz com chapéu cônico 
(d) um cenário de "Blade Runner"
(e) Todas as alternativas acima

A resposta para o distrito de Chayang, onde estamos alocados, é certamente a letra "D". Prédios imensos, totalmente espelhados, ruas milimetricamente planejadas, lojas ocidentais em todas as esquinas, uma névoa constante que à noite deixa um ar translúcido e com uma luz opaca, carros [de brinquedo] que parecem flutuar e, principalmente, PRINCIPALMENTE: telas. Telinhas, telonas, telas. Celulares e tabletes são itens de primeira necessidade. Os habitantes vivem com a cabeça em ângulo quase reto com o corpo em constante torcicolo. Mas o mais assustador é o teto do shopping aqui do lado.

Diz aí que eu não sou um péssimo fotógrafo?

No céu artificial do centro comercial - onde o supermercado inglês Marks Spencer [ou seria "Marks expensive"?] me cobrou cerca de R$ 50 para um saco de granola e uma garrafa de suco de laranja - um telão de quase 100 metros por 20 de largura [você não leu errado] fica ligado non-stop [ao menos de noite] passando imagens completamente surreais para os nossos padrões.

Na primeira vez que o vimos, ele projetava imagens de candidatos a um relacionamento sério. Como disseram aqui, é uma espécie de Tinder - só que bem mais público. Tenho amigos que iriam se esbaldar com a proposta.

Imagine: aparece a cara de um sujeito em um vídeo em que ele ri para a câmera tentando mostrar toda a sua simpatia, e ao seu lado suas características principais - como um jogo de videogame. Força: 8. Carinho: 7. Amizade: 9. [Não era exatamente assim, mas não me assustaria, agora, se fosse.] Do lado, o telefone para entrar em contato. Match.

Chayang parece, inegavelmente, um cenário de "Blade Runner". Mas, às vezes, percebo que é uma obra feita pelo prefeito do Rio de Janeiro, padrão Olimpíadas 2016. Sempre se percebe que rolou um jeitinho, um cuspe para colar o último azulejo do banheiro. Como um bom símbolo de que nem sempre a velocidade de crescimento segue o cuidado com a execução do projeto. O exemplo mais óbvio disso que encontrei até agora foi a maneira como consertaram o olho mágico do meu quarto. 

Com a exceção do mau gosto na tentativa de parecer ocidental, como o lustre que imita cristal ou a cama rosa e redonda, típica de motéis [mais uma prova de que a tentativa acelerada para entrar na modernidade tem efeitos colaterais visíveis], o quarto pode ser considerado de luxo. Impressiona todas as vezes que ele é mais "oriental" que "ocidental" - como nas madeiras escuras, na cadeira de vime de balanço onde estou sentado agora. Tudo pelo menos em ordem - razoavelmente, ao menos. Menos no olho mágico. 

Provavelmente devem ter descoberto que o vidro permitia que se visse o interior dos quartos desde o lado de fora. Qual foi a peneira usada para tapar o sol? Papel. Higiênico. Isso mesmo.

Devem ter deixado para eu não sentir falta das Olimpíadas. Só pode ser.

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