domingo, 7 de agosto de 2016

CHINAnews: Olimpíadas

Há quatro anos estava lá em Londres, tentando me equilibrar entre tablete, celular, televisão e computador, para assistir ao máximo possível das Olimpíadas - quando não estava ao vivo nas competições. [Vi, por exemplo, a medalha de bronze do Cielo nos 50 m livre. Vi Phelps perder para o Chad Le Clos, numa prova que ele é recordista mundial desde os 15 anos, o 200 m borboleta, por um centésimo - ah, o um centésimo na natação...]

Na TV, entretanto, não conseguia ver o que eu queria. Para começar, o óbvio: os quatro canais da BBC focavam em atletas britânicos. Além disso, mesmo quando não havia Britons, a BBC preferia passar os esportes que eles têm mais tradição: hipismo, remo, vela... Essas coisas que nós temos, curiosamente ou demonstrando nosso vira-latismo centenário, história também.



Aqui na China, isso acontece novamente: saltos ornamentais. Tiro com arco. Levantamento de peso. Tênis de mesa. E propaganda com Sun Yang [foto], recordista mundial dos 400 e 1500 livre - que acabou de ficar com a prata na primeira [e quem eu vi em Londres bater um recorde mundial na segunda]. E dá-lhe entrevista com os atletas vencedores na CCTV - a TV estatal com o nome mais piada-pronta que existe.

[Uma pausa para explicar o chiste: CCTV é a sigla para China Central Television, mas também para Close-Circuit Television, no Reino Unido, isto é, a gravação big brother de todos os seus passos, seja nas ruas seja em qualquer outro lugar. Uma TV estatal de um país em que as liberdades são bem controladas ter o mesmo nome do sistema de TV interna é quase batom-na-cueca.]

Voltando. Para quem acha que o Brasil é o único país capitalista-selvagem porque foca mais no futebol, vôlei, basquete e outros esportes que dão audiência, ou para quem acha que o brasileiro é um péssimo torcedor, porque só quer saber de ganhar, pode perceber que isso é um fenômeno mundial. Um fenômeno que respeita um único deus: os lucros e os dividendos.

Seria isso "democrático", portanto? Já que é o "povo" quem escolhe ao que quer assistir? Sem entrar numa discussão que remeteria diretamente à escola de Frankfurt, não consigo aceitar a hipótese facilmente. Só queria levantar a dúvida para quem ainda hoje pensa que a China é um país comunista. Guiar a programação por um critério tão capitalista é, no mínimo, contraditório.

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