tag:blogger.com,1999:blog-33828592024-03-17T06:19:20.725-03:00cnca/c: ronaldopelli arroba gmail ponto comCNChttp://www.blogger.com/profile/07194690298049414302noreply@blogger.comBlogger1839125tag:blogger.com,1999:blog-3382859.post-73420174745900008132024-03-15T17:50:00.001-03:002024-03-15T17:50:08.419-03:00Eudaimonia<p>Ninguém menos que Aristóteles, chamado na Idade Média apenas de “o filósofo”, diz que o objetivo da vida é a felicidade. Felicidade, para ele, como se sabe, era eudaimonia. Numa tradução literal, eudaimonia quer dizer algo como ter um bom “daimon”. Daimon é uma figura mística do panteão da antiguidade clássica, uma menos conhecida. Sua função, porém, aparece em outras civilizações e é até bastante popular, desde, ao menos, as Mil e uma noites – e os filmes da Disney. Seria parecido com o jinn da mitologia muçulmana, que são mais conhecidos em português brasileiro como gênios, aqueles que, em algumas versões mais conhecidas, ficam aprisionados em lamparinas. São figuras com poderes sobrenaturais, mas que não necessariamente atuam ao lado das pessoas com quem criam uma relação. No caso tradicional das lamparinas, ao ser libertado o gênio concede três desejos para o seu libertador e logo se sente livre para seguir adiante. Outra forma de entender esses daimons são os anjos da guarda. Porém, como é costume no pensamento cristão, o caráter de imprevisibilidade do personagem é totalmente apagado para que ele fique unidimensional. Cada pessoa tem o seu próprio daimon, como acontece com os anjos da guarda, mas os daimons são imprevisíveis como os jinns. Seria, então, um diabinho da guarda. Não o diabo da tradição a que estamos mais ligados, a encarnação do mal absoluto, mas alguém que poderia atuar de forma parecida com um trickster – para ficar ainda em figuras mitológicas. Um malandro, um embusteiro que nos acompanha e pode, sem que percebamos, nos pregar peças. Daí a fórmula de Aristóteles. O objetivo da vida é conseguir se dar bem com o próprio daimon, com esse ser imprevisível que está sempre ao nosso lado, nem sempre para nos ajudar. É estar preparado para qualquer número que cair dos dados jogados por ele, ter alternativas, saber saídas, inventar novos movimentos, tentar dançar conforme a sua – dele – música. </p>CNChttp://www.blogger.com/profile/07194690298049414302noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3382859.post-66799197114594611622024-02-02T18:08:00.005-03:002024-02-02T18:10:27.522-03:00Nietzsche: GM3 §26, extrato<p></p><blockquote>... não gosto desses túmulos caiados que parodiam a vida; não gosto desses fatigados e consumidos que se revestem de sabedoria e olham "objetivamente"; não gosto dos agitadores fantasiados de heróis que usam o capuz mágico do ideal em suas cabeças de palha; não gosto dos artistas ambiciosos que posam de sacerdotes e ascetas e no fundo não passam de trágicos bufões; tampouco me agradam esses novos especuladores em idealismo, os antissemitas, que hoje reviram os olhos de modo cristão-ariano-homem-de-bem, e, através do abuso exasperante do mais barato meio de agitação, a afetação moral, buscam incitar o gado de chifres que há no povo (– o fato de que toda espécie de charlatanismo espiritual obtenha sucesso na Alemanha de hoje tem relação com o inegável e já evidente definhamento do espírito alemão, cuja causa eu vejo em uma dieta demasiado exclusiva, composta de jornais, política, cerveja e música wagneriana, juntamente com o pressuposto para essa alimentação: a clausura e a vaidade nacionais, o forte, porém estreito, princípio de "<i>Deutschland</i>, <i>Deutschland über alles</i>", e também a <i>paralysís agitans</i> [<i>paralisia que agita, isto é, doença de Parkinson</i>] das "ideias modernas"). </blockquote><p></p><p>Nietzsche GM3 §26</p>CNChttp://www.blogger.com/profile/07194690298049414302noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3382859.post-40451594883740232582024-01-11T17:33:00.007-03:002024-01-11T17:33:48.675-03:00'Memórias do subsolo', Dostoiévski [extrato]<p></p><blockquote> Oh, dizei-me, quem foi o primeiro a declarar, a proclamar que o homem comete ignomínias unicamente por desconhecer os seus reais interesses, e que bastaria instruí-lo, abrir-lhe os olhos para os seus verdadeiros e normais interesses, para que ele imediatamente deixasse de cometer essas ignomínias e se tornasse, no mesmo instante, bondoso e nobre, porque, sendo instruído e compreendendo as suas reais vantagens, veria no bem o seu próprio interesse, e sabe-se que ninguém é capaz de agir conscientemente contra ele e, por conseguinte, por assim dizer, por necessidade, ele passaria a praticar o bem?</blockquote><p></p><p>[Tradução <span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;">Boris Schnaiderman]</span></p><p><br /></p>CNChttp://www.blogger.com/profile/07194690298049414302noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3382859.post-70807091552406844242024-01-03T11:06:00.003-03:002024-01-03T11:06:38.385-03:00'Les essais', Montaigne [extrato]<p></p><blockquote> Ce qu'on nous dit de ceux du Brésil, qu'ils ne mouraient que de vieillesse, et qu'on attribue à la sérénité et tranquillité de leur air, je l'attribue plutôt à la tranquillité et sérénité de leur âme, déchargée de toute passion, et pensée, et occupation tendues ou déplaisantes, comme gens qui passaient leur vie en une admirable simplicité et ignorance, sans lettres, sans loi, sans roi, sans religion quelconque.</blockquote><p></p><p>LIVRE II, CHAPITRE 12: APOLOGIE DE RAYMOND SEBON, de Montaigne.</p>CNChttp://www.blogger.com/profile/07194690298049414302noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3382859.post-12143962976212129632023-12-29T15:52:00.003-03:002023-12-29T15:52:14.014-03:00"Le Horla" [Extrato] - Guy de Maupassant<p></p><blockquote><p>Et voici, messieurs, pour finir, un fragment de journal qui m'est tombé sous la main et qui vient de Rio de Janeiro. Je lis : "Une sorte d'épidémie de folie semble sévir depuis quelques temps dans la province de San-Paulo. Les habitants de plusieurs villages se sont sauvés abandonnant leurs terres et leurs maisons et se prétendant poursuivis et mangés par des vampires invisibles qui se nourrissent de leur souffle pendant leur sommeil et qui ne boiraient, en outre, que de l'eau, et quelquefois du lait !"</p><p>J'ajoute : "Quelques jours avant la première atteinte du mal dont j'ai failli mourir, je me rappelle parfaitement avoir vu passer un grand trois-mâts brésilien avec son pavillon déployé... Je vous ai dit que ma maison est au bord de l'eau... toute blanche... Il était caché sur ce bateau sans doute..."</p><p>Je n'ai plus rien à ajouter, messieurs.</p></blockquote><p></p><p>[todo <a href="https://athena.unige.ch/athena/selva/maupassant/textes/horla.html" target="_blank">aqui</a>]</p><p><br /></p><p> </p>CNChttp://www.blogger.com/profile/07194690298049414302noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3382859.post-38924713280145358562023-10-31T17:52:00.003-03:002023-11-10T10:25:44.502-03:00Filmes mudos<p>No meu atual momento Buster Keaton, acabei por ver um documentário no <a href="https://mubi.com/en/br/films/the-great-buster-a-celebration" target="_blank">Mubi dirigido pelo Peter Bogdanovich sobre o ator-diretor-roteirista</a> considerado um dos maiores do cinema mudo. A obra de Bogdanovich não faz nada além do feijão-com-arroz, entrevistando grandes nomes do cinema para elogiar Keaton, abordando um pouco sua vida -- ele era filho de artistas e começou bem cedo nos palcos -- e dedicando um bom espaço para a obra dele. Keaton, descobri só então, fez todas as suas obras-primas, como <i><a href="https://www.youtube.com/watch?v=X-xMCuSL2rc" target="_blank">The general</a></i>,<i> <a href="https://www.youtube.com/watch?v=X-xMCuSL2rc" target="_blank">Sherlock Jr.</a> </i>ou, como se pode ver abaixo, <i>Steamboat Bill Jr. </i>(isso para ficar apenas nos longas, que nem são necessariamente os seus melhores) em um espaço de dez anos, na década de 1920, antes que o cinema ganhasse som direto. </p><p><br />
<iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture; web-share" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/n9QPfiLuQ9c?si=_3AMwemRjYJOWx65" title="YouTube video player" width="560"></iframe>
</p><p>No doc também descobri que Keaton fez duas participações especiais em obras da década de 1950, obras de diretores que ficaram bem mais famosos que ele: "Luzes da ribalta", do Chaplin, e "Crepúsculo dos deuses", do Billy Wilder. O tema de ambos os filmes é o mesmo, embora seja tratado de forma bastante diferente: a obsolescência do artista, ou, mais simplesmente, o envelhecimento. </p><p>Em "Sunset boulevard", título original do filme do Wilder, a relação com o cinema mudo é direta: a protagonista Norma Desmond é uma ex-estrela que protagonizou vários filmes com diversos dos maiores cineastas do período sem som direto -- entre eles Cecil B. DeMille, que também faz uma ponta no filme, e um certo Max von Mayerling, que é interpretado por ninguém menos que o também cineasta Eric von Stronheim, no que é, para mim, o melhor personagem de todo o longa por conta de sua entrega quase silenciosa. Por sua vez, Norma também é interpretada por uma ex-estrela que fez muito sucesso no período dos filmes mudos e que, com a chegada do som, caiu no ostracismo: Gloria Swanson. Ou seja, é a história que subjaz toda a trama do clássico de Wilder.</p><p>Já no filme de Chaplin, a referência ao cinema mudo é mais sutil, mas só um pouco: o personagem de Chaplin é um ator de comédia em decadência que ficou famoso por interpretar um vagabundo. Se o personagem imortalizado em diversas obras silenciosas se chamava Carlitos (ao menos no Brasil), em "Luzes...", ele se chama Calvero. Atualmente, porém, Calvero não consegue mais arrancar gargalhadas do público e abusa do álcool com a desculpa de que só assim consegue ficar engraçado.</p><p><br /><iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture; web-share" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/z4DiRd9_0_c?si=uR_0TsUrI3tjHYjz" title="YouTube video player" width="560"></iframe></p><p>Em ambos os filmes há uma nostalgia pelos tempos passados, com seus protagonistas querendo recuperar o estrelato de outrora, se digladiando consigo mesmos para não assumirem que se tornaram ultrapassados, que perderam o pulso do tempo presente. Só são reconhecidos pelos mais velhos, que até lhes prestam algumas bonitas homenagens, mas representam ícones de um mundo que se silenciou. Tanto no título em inglês como na versão em português, a noção de apagamento está presente, com mais (no original) ou menos sutileza (na tradução). </p><p>Keaton, em ambos os filmes, faz um papel de um ex-astro também escanteado por conta das mudanças do mundo -- isto é, uma versão encenada dele próprio. Inclusive, em "Crepúsculo...", ele é creditado como "Buster Keaton" interpretando ele mesmo. Uma forma de homenagear uma grande estrela que desapareceu quando o cinema ganhou som.</p><p>Por esses dias, também, vi uma entrevista do Scorsese em que ele fala por quase 30 minutos sobre Glauber Rocha, sua paixão por filmes como "Terra em transe" e, principalmente, "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro". Um dos seus principais argumentos sobre o filme é que ele serve de antídoto contra a caretice, que ele, Scorsese, aplica em novos talentos do cinema. Para mostrar que há possibilidade de fazer filmes fora dos padrões hollywoodianos mais conservadores. </p>
<iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture; web-share" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/h7xSJ2gOMlw?si=aMabcdgxBMXBmDBz" title="YouTube video player" width="560"></iframe><div><br /></div><div>Esse tipo de declaração fica ainda mais forte se lembrarmos que recentemente Scorsese foi um dos poucos a se levantar contra a homogeneização do cinema que aconteceu com a entrada de muitos filmes de boneco que colonizam as salas de cinema e o imaginário de uma geração de cinéfilos. </div><div><br /></div><div>O paralelo que surgiu em minha cabeça foi óbvio: a morte do cinema mudo ocorreu apenas por uma mudança tecnológica em que os espectadores renegavam ativamente os filmes sem som direto, ou houve algum tipo de <i>forçação de barra </i>para se adotar acriticamente uma novidade e se esquecer o passado? </div><div><br /></div><div>Muito provavelmente a resposta está entre os dois lados, mas eu apostaria que apesar do interesse do público pela novidade, há sempre uma campanha pesada da indústria para que o público queira adotar a moda do dia.</div><div><br /></div><div>Longe de mim defender a nostalgia ou um "no meu tempo que era melhor", mas não dá para deixar passar o fato de os filmes de Keaton serem hoje considerados como clássicos por cineastas tão diferentes como Werner Herzog e Quentin Tarantino -- para citar apenas dois dos nomes entrevistados por Bogdanovich no documentário. Ou que os filmes de Keaton são sempre eleitos entre os melhores filmes de comédia de todos os tempos. Ele continua bom, mesmo depois que o som apareceu. Como?</div><div><br /></div><div>Junto a isso, também vi nesse fim de semana passado a peça "A descoberta das Américas", em que um único ator -- o multitalentoso Julio Adrião -- sem auxílio de música ou de grandes estripulias de luz preenche o palco num teatro de ação ao mostrar como foi a chegada dos europeus neste lado do Atlântico ainda no século XVI. É o teatro apenas na carne e no osso, o teatro com todos os recursos que o ator, e só o ator, pode oferecer, de pantomimas a onomatopeias, a fisicalidade, o movimento, as expressões faciais, o timing perfeito. Um <i>tour de force </i>que faz você se esquecer que há apenas um intérprete, quase pelado, no palco.</div><div><br /></div><div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEi60qFEkXbtL1M7bXbs6Z3w14LWJ66RIqmiOfAqVLVoYibTPXZpGcujJncGa1bN6BVZPr56u5Gd8RxFs3LQLdYUziMJ9snaFl8AGl4s5zll20Md3FWEUPB8zZg5iG_o9gq6MYsEmAUaqDihy9oD3KP-1LJd-1W7OClomjUOoHLfHWjxhQt1p9Hf" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="" data-original-height="592" data-original-width="888" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEi60qFEkXbtL1M7bXbs6Z3w14LWJ66RIqmiOfAqVLVoYibTPXZpGcujJncGa1bN6BVZPr56u5Gd8RxFs3LQLdYUziMJ9snaFl8AGl4s5zll20Md3FWEUPB8zZg5iG_o9gq6MYsEmAUaqDihy9oD3KP-1LJd-1W7OClomjUOoHLfHWjxhQt1p9Hf=w400-h266" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Julio Adrião em cena da peça 'A descoberta das Américas' <br />— Foto: Renato Mangolin/Divulgação [roubada <a href="https://oglobo.globo.com/cultura/teatro/noticia/2023/09/27/monologo-a-descoberta-das-americas-com-julio-adriao-completa-18-anos-nos-teatros.ghtml" target="_blank">daqui</a>]</td></tr></tbody></table><br /><br /></div><div>Um ator apenas no palco. Um exemplo da necessidade da adaptação que o teatro precisou passar ao longo dos anos. Diminuir os custos, se ater ao estritamente necessário, ser minimalista. O teatro não acabou com o cinema, mas teve que se transformar enormemente com a chegada do cinema. E da TV. E da internet. Incomum agora são peças grandiosas -- exceção feita aos musicais, pelos seus próprios motivos.</div><div><br /></div><div>O teatro sobreviveu e parece reflorescer e estar até mais inteiro que o próprio cinema, nesse período pós pandemia [será que as pessoas querem o contato face a face, e o cinema pôde ser substituído pela experiência caseira?], mas não é o mesmo que foi há 20, 50, 100 anos. </div><div><br /></div><div>Isso tudo para chegar, finalmente, no assunto que eu queria abordar desde o início: a literatura.</div><div><br /></div><div>Várias ideias passam pela minha cabeça ao mesmo tempo para falar sobre isso, mas a escrita precisa de algum tipo de ordem. Não encarem o que vem a seguir como hierarquia, é apenas aleatório:</div><div><br /></div><div>/ Borges dizia que conseguia entender o fim do romance, mas não o do conto. O romance era um formato recente, quase mercadológico, acompanhando, de certa forma, a sociedade burguesa-liberal. O conto, praticamente eterno, vivendo ao lado da própria linguagem.</div><div><br /></div><div>/ Quando conheci Marcelo Lachter, o saudoso livreiro carioca, nosso santo bateu de primeira. Numa de nossas conversas, ele disse uma frase que nunca vou esquecer: em breve <a href="https://contonocanto.blogspot.com/2012/11/os-3-mil-livros-da-sua-vida.html" target="_blank">seremos pagos para ler, não para escrever</a>.</div><div><br /></div><div>/ Em editoras de autopublicação que parecem lanchonetes fastfood (escolha os toppings: revisão gramatical? ABNT? Orelha? Apenas mais R$ 2,99 por item), há filas para publicar. </div><div><br /></div><div>/ O mercado editorial <a href="https://www.publishnews.com.br/materias/2022/07/05/industria-do-livro-encolhe-39-em-16-anos-aponta-nielsen" target="_blank">encolheu terrivelmente nos últimos anos</a>. </div><div><br /></div><div>Juntando isso tudo, percebe-se que não há exatamente um problema no lançamento de livros, mas no mercado de leitores -- se isso pode ser dito dessa forma. Há, agora, escritores que querem apenas lançar seus livros e abdicam totalmente de serem lidos. </div><div><br /></div><div>Claro que há fenômenos literários -- e isso é inegavelmente interessante --, mas a literatura ocupa hoje um espaço no mínimo diferente na classe intelectualizada, digamos assim. Mudou o perfil do escritor, do leitor, dessa mesma classe intelectualizada? Claro que sim, e ainda bem, mas mudou também o apelo que o próprio livro tinha. </div><div><br /></div><div>O livro de ficção, cuja mensagem, por definição, é mais "abstrata", menos "figurativa" (para usar uma metáfora que escutei esses dias vinda das artes plásticas) que de um livro de não-ficção (usando aqui categorias amplas, por favor), se tornou menos desejado. Não há espaço para tanto lero-lero, é importante chegar diretamente no ponto: qual é a sua mensagem. Os próprios livros de ficção que fazem mais sucesso, mesmo, ficaram mais diretos, menos "metafóricos". É preciso dizer tudo com todas as letras -- sem tempo para a nuance, irmão.</div><div><br /></div><div>Ainda: o próprio suporte livro também perdeu relevância. Vide as vendas em declínio. Mas, de forma paradoxal, ao mesmo tempo continua sustentando uma certa aura, uma certa distinção que nenhum outro objeto artístico-cultural carrega. O livro é quase um sinônimo, ainda hoje, de intelectual, de inteligência e, ao cabo, de superioridade. Contudo, esses sinais não vêm de ler as obras, mas de, sim, escrevê-las.</div><div><br /></div><div>Por que, então me pergunto, por que escrever? Por que colaborar para esse estado de coisas? Por que tentar produzir algum tipo de narrativa, mesmo sabendo que furar essa homogeneização é complicado, quase impossível, percebendo que se esforçar para participar do jogo tem poucas ou nenhuma recompensa e, acima de tudo, desconfiando fortemente da própria capacidade de fazer algo minimamente relevante? Mas relevante para quem, como, onde?</div><div><br /></div><div>Ao mesmo tempo, como não escrever? Embora haja muitos motivos para virar as costas e dar uma banana para toda essa fonte de frustrações, estou eu aqui, arriscando algum texto, mesmo que não-narrativo-ficcional, para falar sobre o que me assombra nesse momento.</div><div><br /></div><div>O exercício possível de se fazer -- e aqui corro o risco de soar como uma receita ou, pior, como autoajuda -- é tentar desenvolver uma força antifrustração, para não arrastar as correntes de um mundo que nunca foi assim tão perfeito, ainda mais do ponto de vista do mercado editorial, e que, ainda mais por isso, jamais vai voltar. Como as estrelas de filmes mudos.</div><div><br /></div><div><b>Um possível pós-escrito</b></div><div><br /></div><div>Ontem, fui ao lançamento da coleção de livros de ensaios organizado pelo Pedro Duarte e pela Tatiana Salem Levy, ensaios que misturam literatura e filosofia, meus dois mundos mais presentes na atualidade. O primeiro livro da coleção tem o sugestivo nome de <i><a href="https://www.tintadachina.com.br/produtos/pre-venda-nao-escrever-com-roland-barthes-paloma-vidal/" target="_blank">Não escrever [com Roland Barthes]</a></i>, e é escrito pela Paloma Vidal, escritora, professora, entre muitas outras coisas, que tenta entender o que poderia ter impedido Barthes de escrever o livro que ele tinha planejado produzir no finzinho da vida.</div><div><br /></div><div>Claro, ele sofreu um acidente que ceifou sua vida de uma hora para outra, o que é mais que uma explicação para não ter terminado seu romance, mas parece que ele já não iria mesmo acabar de escrever. Sua obra, sua arte, parece estar no constante adiar, no caminho, no processo em si de escrever. Mais que terminar o livro, ele queria escrever. Mais que publicar, escrever. Mais que lançar o livro com pompas, se tornando o autor que ele havia matado anos antes: pensar, dar aulas e escrever.</div><div><br /></div><div>Enquanto produz esses textos que se tornarão -- se tornaram -- esse ensaio com Roland Barthes, Paloma <i>não escreve</i> o romance que ela está se preparando para escrever há tempos. As dúvidas de Barthes não necessariamente a contaminam -- talvez elas sejam as mesmas. Ela escreve para não escrever. Ela escreve para escrever.</div><div><br /></div><div>Abri uma exceção orçamentária, interrompi meu lado mais castrador, e comprei o livro da Paloma. Toda a proposta de seu curto livro ecoava muito aqui para que eu não me abalasse.</div><div><br /></div><div>Em certo momento, Paloma cita Barthes diretamente, sobre por que ele queria escrever um romance:</div><div><blockquote>Algo ronda em nossa História: a Morte da literatura: ela erra em torno de nós; é preciso olhar esse fantasma cara a cara, a partir da prática - trata-se, pois, de um trabalho <i>tenso</i>: ao mesmo tempo <i>inquieto</i> e <i>ativo</i> (o Pior não está garantido). </blockquote></div><div><br /></div><div>Em seguida, sobre o curso que ele deu por dois anos enquanto preparava o romance, até morrer atropelado:</div><div><blockquote>A gente poderá considerar que o curso será uma palavra nostálgica que girará em torno desse espectro: a morte da literatura, que está mais ou menos em torno de nós. Mas, nesse momento, é preciso olhar o espectro de frente, a partir da <i>prática</i>.</blockquote></div><div>Paloma nota: "A 'palavra nostálgica' está ali, e percorre o curso, sem dúvida, mas ela não encerra seu sentido, justamente porque há em jogo uma <i>prática</i>". Ela percebe: escrever não é uma falta que precisa ser preenchida, não é um passado que precisa ser resgatado, mas um futuro que precisa ser construído. Se a melancolia existe, ela é combatida pela vontade, pelo desejo de escrever, que é maior que qualquer saudosismo, que as previsões assustadoras, as incertezas e, talvez, as frustrações. </div>CNChttp://www.blogger.com/profile/07194690298049414302noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3382859.post-24563621358423296792023-09-22T14:37:00.002-03:002023-09-22T14:37:27.806-03:00NIILISMO COMO LUGAR DE FALA DE BRANCO<p> </p><blockquote class="twitter-tweet"><p lang="en" dir="ltr">Patrice O’Neal’s take on what “Creep” by Radiohead does to white people, specifically at 59 seconds into the song, continues to be the single greatest opinion anyone has ever had about music <br><br> <a href="https://t.co/e138BmAq60">pic.twitter.com/e138BmAq60</a></p>— Dashiell Driscoll (@dashiell) <a href="https://twitter.com/dashiell/status/1620995481349545984?ref_src=twsrc%5Etfw">February 2, 2023</a></blockquote> <script async src="https://platform.twitter.com/widgets.js" charset="utf-8"></script>CNChttp://www.blogger.com/profile/07194690298049414302noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3382859.post-67942979495162754352023-07-27T07:44:00.003-03:002023-07-27T07:47:38.890-03:00Mas o que diabos é o niilismo?<p>Está sofrendo de falta de perspectiva de vida? Não sabe bem o que é o certo e o errado? Acha que o mundo perdeu seus valores? Cuidado, você pode estar sofrendo de... niilismo.</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjKT60Diz2WHvO-aFoaxWPNkfsv_3kO-ke50CKSW9OsyzLqUzd_PSpHlTsn0sWZP9JNlz4wMGZcgAuJZb2Zfh-FY8xA3YUskNpLiAOuJbLzHrsAQc6BZSoUyYAc24mEJhCXeO9UY-M1PlQz4z6C7Pd9W1BKO-t_yqQogsVfE0KOm38VY7Attq98" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="163" data-original-width="310" height="210" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjKT60Diz2WHvO-aFoaxWPNkfsv_3kO-ke50CKSW9OsyzLqUzd_PSpHlTsn0sWZP9JNlz4wMGZcgAuJZb2Zfh-FY8xA3YUskNpLiAOuJbLzHrsAQc6BZSoUyYAc24mEJhCXeO9UY-M1PlQz4z6C7Pd9W1BKO-t_yqQogsVfE0KOm38VY7Attq98=w400-h210" width="400" /></a></div><br /><p>Brincadeiras à parte, o niilismo foi visto – dentro e fora da universidade – como uma sensação generalizada da falta de um sentido que fosse compartilhado por todes ao mesmo tempo. Durante muito, muito tempo, essa função coube ao Deus cristão nessa parte do mundo ocidentalizada. Mas, com o fortalecimento da confiança na Ciência, com o relativo aperfeiçoamento de formas mais democráticas de organizar politicamente a sociedade, com a libertação de certos tabus de como poderíamos viver nossos desejos, a “hipótese Deus”, como escreveu Nietzsche, caiu por terra. E isso aconteceu “ontem”, no século XIX.</p><p>Sem esse parâmetro em comum, que servia como primeira e última instância a quem recorrer, muita gente caiu em desespero. Sabe aquela frase “se Deus não existe, tudo é possível”, que o pessoal jura que está em “Os irmãos Karamazov” (spoiler: não está)? Pois então: tal frase foi vista como a representação de um liberou geral, uma permissão para as pessoas saírem nas ruas se matando sem qualquer coibição (geralmente, é um certo tipo de pessoa a acreditar nisso: a que gosta de segurança e diz que o mundo está cada vez mais em perigo). </p><p>Outros tipos de pessoas viram nessa falta de um sentido compartilhado uma oportunidade de recriar os valores que dominam nossa sociedade em todos os seus aspectos. Ou seja, viram nesse niilismo uma libertação, uma possibilidade de um novo começo. O problema é que, sem um juiz divino, quem decide o que é o certo e o errado? Pensa como é difícil conversar com um sujeito que pertence a um espectro político diferente do seu e você vai entender bem o que estou dizendo.</p><p>Por esses e outros motivos, vejo o niilismo como um assunto extremamente atual. Um tema que faz refletir sobre como a construção de valores em comum é essencial para se viver em sociedade. E que essa tarefa não é das mais fáceis.</p><p>Para saber mais sobre o tema – e, quem sabe, pensar em formas melhores de se viver em sociedade –, inscreva-se no curso: <a href="https://is.gd/NietzscheNiilismo">https://is.gd/NietzscheNiilismo</a></p><p>E semana que vem há a Aula Zero do curso <a href="https://www.youtube.com/@estudosdopresente" target="_blank">aqui</a>.</p>CNChttp://www.blogger.com/profile/07194690298049414302noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3382859.post-69411818706341330772023-06-21T17:09:00.008-03:002023-06-22T13:01:28.113-03:00A buzina do vendedor<p>Todos os dias, um pouco antes das 5 da tarde, eu escuto uma buzina bem específica, não uma buzina de carro que é praticamente onipresente nessa rua que parece um aluvião de automóveis vindos de Copacabana, mas uma buzina como aquelas que os palhaços usam nos seus números em circos, aquelas bem tradicionais, com fole -- eu escuto a buzina e automaticamente me vejo com uns cinco anos -- mas pode ser mais tarde com dez, 12 até --, o céu avermelhado do fim do dia, provavelmente era a mesma hora, só que em Nova Iguaçu, eu, por algum acaso, não estava na natação, mas em casa, no pátio do prédio em que eu cresci, e escutava aquela buzina e sabia que o vendedor de biscoito doce enroladinho e chupeta de açúcar estava passando. As crianças todas da rua corriam para comprar com ele aquele biscoito que era só uma fina folha de farinha de trigo açucarada enrolada em formato de canudo e o pirulito sui generis e eu sentia algo como uma comunidade, e me dava um quentinho, me sentia pertencendo a algum lugar, e agora sinto quase a mesma coisa, embora nostalgicamente, quando escuto a buzina e sempre me lembro de quando eu era criança, mas sempre também me esqueço de me preparar para ver o vendedor, porque, né, quem vai estar ali naquela hora, parado -- até que um dia eu o vi, e não, ele não vende mais o biscoito e a chupeta artesanais, mas açaí, um açaí deveras industrializado, mas a buzina, ao menos a buzina, é a mesma. eu quase quero comprar o açaí por conta disso.</p><div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhiqcRVbwCTKzcPAq42uDYKqmZD3AQOtbbwkKc0pjPk7ofA9kPHQeXWDBmITPE_jHbn6elCN-X__oAA0twesrl38eHUu7pGghaORMQhvCcsDk_0aEUAe-j_KMLZ11iR-WyJF6QfO9fKVXDFKfF8F8K3ULP0egwUrZjPAjwKVDkmD8FdaX9RTCXM" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="1000" data-original-width="1000" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhiqcRVbwCTKzcPAq42uDYKqmZD3AQOtbbwkKc0pjPk7ofA9kPHQeXWDBmITPE_jHbn6elCN-X__oAA0twesrl38eHUu7pGghaORMQhvCcsDk_0aEUAe-j_KMLZ11iR-WyJF6QfO9fKVXDFKfF8F8K3ULP0egwUrZjPAjwKVDkmD8FdaX9RTCXM" width="240" /></a></div><p></p>CNChttp://www.blogger.com/profile/07194690298049414302noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3382859.post-1439966227736094292022-12-30T08:01:00.002-03:002022-12-30T15:38:57.511-03:00A rejeição de Pelé<p>É bastante conhecido o hábito do Edson se referir a Pelé na terceira pessoa do singular, como se fossem dois sujeitos separados, independentes. Mas um detalhe que surgiu em diversos lugares, agora que o rei morreu, sublinha esse comportamento bifurcado de uma forma que vai além do folclórico recurso do distanciamento: Edson não gostava do apelido Pelé.</p><p></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhUmi1bnVG2yu7qWiPoVSEExQM9YguXjVhTDBNwAKk6jOf0KyIuMS8ys09Mhqotf8Ui2chJMhPGmQkW_7_jybiLaEjl9DiQ2o1l23bVx0eM2igB7lmXNjJ1hfxShWAaFs7oYA2lFSfzeLBymtCzNqRiCvTaAsBdcUgx4dS-AHuPANI14aXGCg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="" data-original-height="1000" data-original-width="750" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhUmi1bnVG2yu7qWiPoVSEExQM9YguXjVhTDBNwAKk6jOf0KyIuMS8ys09Mhqotf8Ui2chJMhPGmQkW_7_jybiLaEjl9DiQ2o1l23bVx0eM2igB7lmXNjJ1hfxShWAaFs7oYA2lFSfzeLBymtCzNqRiCvTaAsBdcUgx4dS-AHuPANI14aXGCg" width="180" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Pelé, em 1960</td></tr></tbody></table><br />Como<a href="https://ge.globo.com/pele-70/noticia/2010/10/de-dico-pele-confusao-com-nome-de-goleiro-originou-o-apelido-do-rei.html" target="_blank"> explicou inúmeras vezes</a>, esse seu segundo nome veio de um amigo goleiro do pai Dondinho, (que também era jogador de futebol) e que se chamava Bilé. Quando muito pequeno, Edson -- mais conhecido pela família como Dico -- gostava de se aventurar também agarrando e, ao fazer uma defesa mais difícil, evocava Bilé, como se fosse o próprio goleiro do Vasco de São Lourenço (MG) (ex-time de Dondinho, que havia se mudado recentemente para Bauru), igual a qualquer garoto empolgado com um ídolo. <p></p><p>Os garotos que jogavam com Edson começaram a chamá-lo do que eles entendiam que era o nome, Pilé, e logo o termo se metamorfoseou em Pelé. Segundo os relatos, Edson não gostou nada desse apelido dado pelos amigos, e foi exatamente por isso que Pelé nasceu. Qualquer garoto sabe que reclamar de um nome recebido é a certeza de que você será chamado dessa forma.</p><p>Essa implicância com o apelido poderia ser um questão infantil que teria sido superada com o passar do tempo. Pelé era já Pelé quando apareceu no futebol, quando foi chamado de rei <a href="https://pbs.twimg.com/media/FlLpKt2WYAAZSUP?format=jpg&name=medium" target="_blank">por Nelson Rodrigues</a>, quando ganhou a primeira Copa do Mundo com 17 anos, e nunca mais deixou de ser. Virou um nome maior que o próprio personagem, a maior referência de uma possível identidade brasileira, um patrimônio do futebol, um adjetivo. Michael Jordan é o Pelé do basquete, Muhammad Ali, o Pelé do boxe. Nas <a href="https://twitter.com/SBTVideos/status/1608549328087580677" target="_blank">entrevistas</a> em que foi perguntado porque se referia ao Pelé na terceira pessoa, justificava que se o Edson era um ser humano falho, como qualquer outro, o Pelé era um imortal incapaz do erro.</p><p>Havia contudo uma implicância com esse segundo nome que perpassou toda a sua vida. Em uma <a href="https://www.uol.com.br/esporte/ultimas/reuters/2006/01/01/ult28u41838.jhtm" target="_blank">entrevista em 2006</a> para o jornal <i>Bild</i>, da Alemanha, o Edson já com 65 anos ressaltou o quanto desprezava o apelido, por parecer infantil e bobo. Gostava mesmo de Edson, que seu pai pegou do empresário e inventor Thomas Edison. Mas ele já não podia fazer muito. Pelé era uma figura incomparavelmente maior que o Edson Arantes do Nascimento. Maior talvez até que Thomas Edison.</p><p>O que me chamou a atenção foi esse movimento de aceitação do destino, mesmo que fosse contra a sua vontade mais externa. Embora não gostasse do nome, era assim que era chamado, foi desse jeito que ficou internacionalmente famoso. Não havia espaço para lutar contra, ele só poderia se resignar, na pior das hipóteses. Ou criar um personagem além do Edson.</p><p>O chocante para mim -- na minha infinita capacidade de me surpreender com o óbvio -- foi perceber que nem as grandes estrelas, as figuras mais incontestes, ficam inteiramente satisfeitas com o que o destino lhe reserva. É preciso fazer uma torção entre expectativa e realidade, entre a autoimagem e como se é visto pelos outros -- isso para ficar no exemplo do Pelé. </p><p>Essa história me lembrou outros casos não exatamente iguais, mas em que alguns artistas disseram, muitas vezes, quererem ser reconhecidos em outro campo, e não naquele em que foram projetados. Luis Fernando Verissimo e Woody Allen, para ficar em dois exemplos próximos, sempre afirmaram que, quando novos, sonhavam em ser músicos. Tiveram que se contentar em ser escritor (e desenhista, quadrinista, roteirista) e cineasta (e escritor e...). Quando já reconhecidos em suas profissões, até integraram bandas de jazz, mas nunca foram especialmente associados a esse talento. Ou o caminho contrário do Caetano, que queria ser cineasta, mas foi sendo empurrado para a música e deu no que deu. Os exemplos são vários. Não sou eu quem me navega etc. e tal, como diz a música do Paulinho da Viola, marceneiro nas horas vagas.</p><p>O episódio Edson x Pelé também me lembrou uma frase da atriz Rita Hayworth, famosa pelo personagem título em <i>Gilda</i>, noir de 1946 dirigido por Charles Vidor, que a projetou como sex symbol: "Os homens sempre vão para a cama sonhando com Gilda e se decepcionam ao acordar ao lado de Rita". Há, sempre, um descompasso entre a imagem pública e a privada. Rita, como Edson, era uma mortal cheia de defeitos; Gilda, não.</p><p>Mesmo que Edson não quisesse ser Pelé, ele estava fadado a ser. Poderia desistir desse caminho, ficar recluso e abandonar o futebol, mas sua fome de bola aparentemente era maior que esse entrevero. Porque, suspeito, os desejos, esses atravessamentos que nos empurram adiante, sempre nos dão a coragem para aceitar os obstáculos que aparecem no caminho. </p><p>Além disso, só quando aceitamos todos os nossos lados, não no sentido de nos imobilizar dentro de uma identidade fixa e rabugenta que poderia resvalar num conservadorismo, mas sabendo que somos feitos de luz e sombras, que temos ângulos de que não gostamos, ou que não temos muita gerência sobre o nosso destino e nossas decisões são apenas interferências relativamente pequenas no processo geral, podemos, finalmente, nos tornar quem nós somos.</p><p>Essa conhecida frase do Nietzsche ("como tornar-se quem tu és"), que aparece em vários dos seus livros, e é o subtítulo de sua autobiografia, <i>Ecce homo</i>, sempre me soou estranha, por pura incapacidade minha de interpretação. Mesmo que eu suspeitasse fortemente que o autor não tivesse essa intenção, tinha uma abertura grande para ser lida como um manual de autoajuda. O tornar-se seria um movimento secundário, depois de se ter a ideia de quem nós somos. Idealizaríamos um modo de ser no mundo e deveríamos nos moldar para atingir esse objetivo, como se a conclusão da vida fosse um objeto único da nossa vontade mais consciente. Se isso fosse verdade, Edson jamais seria Pelé, Rita jamais Gilda.</p><p>Na verdade, e esse episódio do Pelé x Edson me ajudou a entender isso, o tornar-se é, sim, um movimento secundário, mas um movimento de aceitação daquilo que já se é. Não uma aceitação passiva, que demonstrasse nossa fraqueza diante do mundo que nos envolve, mas um posicionamento ativo, de se enxergar por inteiro, com todas as nossas nuances.</p><p>Mesmo que quando olhemos para esse ser que já somos, não gostemos de uns cantos obscuros, precisamos nos reconhecer neles, aceitarmo-nos. Porque sem reconhecer nossos defeitos, eles viverão escondidos e aparecerão todas as vezes que a guarda estiver baixa, todas as vezes que a luz da consciência der uma piscadela. </p><p>Isso também não quer dizer que somos condenados a ser o que já se é. Já se é agora, mas não quer dizer que seremos isso eternamente. Nada é fixo, e tudo pode ser, de alguma forma, modificado. Talvez não por inteiro, mas alguma coisa é possível influir, certamente. A aceitação é só um primeiro passo para conseguirmos nos enxergarmos. Nos reconhecer. Só assim, talvez, só talvez, teremos a possibilidade de influir nesse lado menos "bonito". </p><p>Pelé era incontornável para Edson, caso quisesse seguir no futebol. Edson precisava se tornar também Pelé. Pelé não deixava de ser Edson, em alguns casos. O que me lembra outro gigante, dessa vez argentino (não, não é Maradona), mas de um campo correlato, a literatura: "Ao outro, a Borges, é que sucedem as coisas", escreve <a href="https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4865015/mod_resource/content/0/BORGES%20E%20EU.pdf" target="_blank">Jorge Luis Borges no sugestivo textinho "Borges e eu"</a>, "Seria exagerado afirmar que nossa relação é hostil; eu vivo, eu me deixo viver, para que Borges possa tramar sua literatura, e essa literatura me justifica".</p>CNChttp://www.blogger.com/profile/07194690298049414302noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3382859.post-81877323166021301682022-11-29T20:25:00.003-03:002022-11-29T20:25:15.846-03:00O fim da literatura<p>Quando o escritor chileno Benjamin Labatut, <a href="https://www.youtube.com/watch?v=iSaL1siRMic" target="_blank">durante sua apresentação na Flip que acabou de acabar</a>, fez um comentário esnobando a literatura, a primeira reação de todas as pessoas foi revirar os olhos. Parecia apenas um personagem criado para se mostrar superior a essas banalidades mundanas que fazem com que pessoas se desloquem para uma cidade para assistir aos seus escritores e escritoras favoritas, enquanto ele enxergaria mais longe. O problema era mais o tom, a (im)postura, o ar blasé -- não necessariamente o que ele falou. De alguma forma estranha, ele tocou numa ferida que continua a borbulhar em quem -- suspeito -- se propõe a escrever com algum grau de profissionalismo.</p><p>Recentemente, quando me perguntaram o que seria essencial para mim, o que eu usaria de todas as minhas forças para salvar, eu não titubeei: a água. Depois, imaginei que era uma resposta "correta", e não algo que eu que eu me importava mesmo. Não que eu ache a água desimportante - verdadeiramente é o que há de mais importante, sem dúvida - mas por algumas razões que a própria razão etc., a água, esse ser tão abstrato, tão amplo, tão gigantesco, não me motiva a me mexer. Pensei de novo e falei: comida. Gostaria que todo mundo tivesse comida boa e saudável em casa. É uma área em que eu já faço algumas (pouquíssimas) ações, o que já demonstra como me parece mais "importante", nesse aspecto. Curiosamente, eu não pensei em nenhum momento em literatura.</p><p>Mesmo que, certamente, literatura seja aquilo que mais me move, hoje, e há mais de 20 anos. É o meu trabalho, apesar de nunca ter ganhado um centavo até hoje com [segundo o contrato, o primeiro pagamento de direitos autorais de <i><a href="https://www.amazon.com.br/dp/6588317026/ref=sr_1_3?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=1LAP4N6VD58JW&keywords=universo+guara+maquina%C3%A7%C3%A3o&qid=1658178864&sprefix=universo+guara+maquina%C3%A7%C3%A3o%2Caps%2C174&sr=8-3" target="_blank">Maquinação</a></i> sai só ano que vem...]. É daquilo que eu quero viver para, e de. Por que, então, não passou pela minha cabeça falar que eu queria salvar a literatura?</p><p>Fiquei pensando sobre isso e cheguei a conclusão de que há uma certa vergonha em defende algo que é tão pouco importante para o mundo. Aqui eu não estou fazendo o gesto do Labatut de cuspir no prato que eu como - mesmo porque eu não como desse prato. Minha intenção é mostrar que, mesmo que ainda haja uma cultura que valorize a leitura e a literatura, outras muitas formas de transmissão de cultura, de informação, de entretenimento até, já ultrapassaram em muito a importância geral dos livros, físicos, mais tradicionais. Mesmo que Bradbury tenha escrito <i>Fahrenheit 451</i> há menos de 50 anos [foi publicado em 1953], mesmo que as vendagens de grandes autores em países ricos se mantenham em padrões elevados, o posto de destaque na sociedade do livro foi suplantado, já há um tempinho.</p><p>Defender o livro impresso parece ser anacrônico, num tempo em que algoritmos decidem a qual tipo de conteúdo de menos de um minuto você vai assistir, em sequências que dão descargas elétricas e soltam serotonina em quantidades viciantes no corpo. O tempo do livro passou. A paciência para o livro esgotou.</p><p>Claro que eu fiz uma confusão de propósito entre livro e literatura: não são a mesma coisa. Enquanto o primeiro é um objeto físico, o segundo pode ser visto como uma forma mais ampla de narrativa, e aí sim poderíamos imaginar que não há qualquer chance de esse tipo de comunicação acabar. Aliás, ao contrário: parece que todas as outras formas de comunicação bebem, atualmente, da mesma água da literatura. O popular termo storytelling está aí que não me deixa mentir. </p><p>O problema é que aquele tipo de literatura que necessita de imersão, de um mergulho, de estar atento durante muito tempo para receber uma recompensa só de vez em quando -- bem diferente do jogo de cassino que todas as redes sociais se transformaram -- essa parece também fadada a acabar, ou virar um nicho. Por um lado, isso é uma tremenda vantagem: corta-se o supérfluo dos textos, a enrolação, a encheção de linguiça, que é o que todo escritor fazia quando precisava assinar mais um folhetim para pagar as contas do mês. </p><p>Agora é necessário ter tramas mais bem arquitetadas e surpreendentes desde o início do jogo. O cinema, com o seu tempo fechado, raramente passando das duas horas, virou umas das principais influências -- e não o inverso [e isso não é, nem próximo disso, uma crítica]. Na primeira meia hora de projeção, já devemos ter noção do argumento do livro.</p><p>Há ainda livros que experimentam com os limites do livro, que aproveitam a liberdade maior que o papel dá para criar tramas em cima, há uma série de exceções que mostram que o meu argumento pode soar mais como um medo conservador da transformação. Não é de todo errado. Mas o ponto não é exatamente esse, ao menos não tinha isso em mente. </p><p>Se o livro acabar, da forma como nós o conhecemos, eu com certeza ficarei arrasado. É improvável que eu veja esse movimento ainda em vida. De qualquer forma, a contação de histórias, que acompanha a humanidade desde que duas pessoas dotadas de linguagem se sentaram em volta de uma fogueira, essa vai continuar. É sempre bom lembrar Borges quando ele dizia que não via futuro para o romance, já para o <i>cuento</i>, esse termo em espanhol que abarca desde a narrativa ficcional curta até algo mais próximo da anedota, ele dizia que era eterno. </p><p>Talvez o desejo, esse termo tão utilizado e tão pouco entendido nos dias de hoje, seja, em vez de simplesmente seguir toda e qualquer intuição que nos atravessa, insistir nas pistas que insistem em permanecer, mesmo contra todas as expectativas, <i>against all odds</i>, como dizem os anglófilos. Lutar para alguma coisa permanecer, mesmo que ela seja desimportante, do ponto de vista da necessidade. Porque não é mesmo uma necessidade. É algo de outra natureza.</p>CNChttp://www.blogger.com/profile/07194690298049414302noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3382859.post-16681114105718963952022-10-25T16:03:00.004-03:002022-10-25T16:03:44.043-03:00"Aprendei a rir de vós mesmos"<p>Quanto mais elevada sua espécie, tanto mais raramente logra uma coisa. Vós, homens superiores aqui presentes, não sois todos — malogrados?</p><p>Não desanimeis! Que importa? Quanta coisa é ainda possível! Aprendei a rir de vós mesmos, tal como se deve rir! </p><p>Não surpreende que malograstes e meio que lograstes, ó meio-destroçados!</p><p>Dentro de vós não empurra e abre caminho o — <i>futuro</i> do homem? [ZA, 4ª parte: “Do homem superior”, 15; P. 350d]</p><div><br /></div>CNChttp://www.blogger.com/profile/07194690298049414302noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3382859.post-50344155326661491812022-10-18T21:09:00.003-03:002022-10-18T21:10:39.230-03:00Nietzsche contra os "jamais contentes"<p> “Para que viver? Tudo é vão! Viver — é debulhar palha; viver — é queimar e, contudo, não se aquecer.” —</p><p>Esse palavrório antigo ainda é considerado “sabedoria”; embora seja velho e embolorado, por isso é ainda mais respeitado. Também o mofo enobrece. —</p><p>Crianças poderiam falar assim: elas receiam o fogo, porque as queimou! Há muita criancice nos velhos livros de sabedoria.</p><p>E aqueles que sempre “debulham palha”, como teriam o direito de blasfemar contra a debulha? Deveríamos amordaçar a boca desses loucos!</p><p>Eles se sentam à mesa e nada trazem consigo, nem mesmo uma boa fome; e agora blasfemam: “Tudo é vão!”.</p><p>Mas bem comer e bem beber, ó meus irmãos, não é verdadeiramente uma arte vã! Destroçai, destroçai as tábuas dos jamais contentes!</p><p><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[ZA, 3ª parte: “Das velha e novas tábuas”, 13]</span></p>CNChttp://www.blogger.com/profile/07194690298049414302noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3382859.post-73944732297708535832022-10-17T16:25:00.003-03:002022-10-17T16:25:56.504-03:00Caetano Zaratustra<p>Há muito tempo tiveram fim os velhos deuses — e, em verdade, foi um bom fim, alegre, de deuses!</p><p>Eles não tiveram um “crepúsculo ”: — isso é mentira! O que houve, isto sim, foi que um dia morreram de — rir!</p><p>Isso ocorreu quando as mais ímpias palavras saíram da própria boca de um deus: “Existe apenas um só Deus! Não deves ter nenhum outro deus além de mim!” —</p><p>— um velho deus barbudo e raivoso, bastante ciumento, excedeu-se a esse ponto.</p><p>E todos os deuses caíram então na risada, mexeram-se nas suas cadeiras e exclamaram: “Justamente isso não é divino, que haja deuses, mas nenhum Deus ?”.</p><p>Quem tem ouvidos, que ouça. — [Nietzsche, em ... <i>Zaratustra</i>, 3ª parte: “Dos apóstatas”, 2]</p><p>Que me lembrou na hora do:</p><p>Quem é ateu e viu milagres como eu <br />sabem que os deuses sem Deus <br />não cessam de brotar nem cansam de esperar <br />E o coração que é soberano e que é senhor <br />Não cabe na escravidão, não cabe no seu não <br />Não cabe em si de tanto sim <br />É pura dança e sexo e glória <br />E paira para além da história - [Caetano, "Milagres do povo"]</p><p><br /></p><p> </p>
<iframe width="560" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/3faMa5dLAwQ" title="YouTube video player" frameborder="0" allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture" allowfullscreen></iframe>CNChttp://www.blogger.com/profile/07194690298049414302noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3382859.post-20571282423014691412022-10-17T16:22:00.001-03:002022-10-17T16:22:05.730-03:00Entrevista para podcast sobre "Maquinação"<iframe allow="autoplay; clipboard-write; encrypted-media; fullscreen; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="352" loading="lazy" src="https://open.spotify.com/embed/episode/4VDBIYJXdVUH5p4iNeubRE?utm_source=generator" style="border-radius: 12px;" width="100%"></iframe><div><br /></div><div>Fui chamado para participar desse podcast pela Ananda para falar sobre o "Maquinação" - e acabamos falando de vários assuntos correlatos: ficção científica, aquecimento global, supremacia tecnológica, a maneira como a cidade é partida, transporte público, e até mesmo "Maquinação".</div>CNChttp://www.blogger.com/profile/07194690298049414302noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3382859.post-36966707794232077882022-09-13T20:01:00.002-03:002022-09-13T20:01:21.234-03:00Entrevista sobre 'Maquinação'<iframe width="560" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/WmFjGfVKomc" title="YouTube video player" frameborder="0" allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture" allowfullscreen></iframe>CNChttp://www.blogger.com/profile/07194690298049414302noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3382859.post-14936635664522940022022-09-12T16:16:00.002-03:002022-09-12T16:16:14.414-03:00Lala, por Mariana Enríquez<p></p><blockquote>Hace años que Lala decidió ser mujer y brasileña, pero había nacido varón y uruguayo. Ahora es la mejor peluquera travesti del barrio y ya no se prostituye; fingir el acento portugués le resultaba muy útil para seducir hombres cuando era puta en la calle, pero ahora no tiene sentido. Igual, está tan acostumbrada que a veces habla por teléfono en portugués o, cuando se enoja, levanta los brazos hacia el techo y le reclama venganza o piedad a la Pomba Gira, su exú personal, para quien tiene un pequeño altar en el rincón de la sala donde corta el pelo, justo al lado de la computadora, que está encendida en chat perpetuo.</blockquote><p></p><p>Mariana Enríquez, "El chico sucio", in <i>Las cosas que perdimos en el fuego</i>.</p>CNChttp://www.blogger.com/profile/07194690298049414302noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3382859.post-84220359441283732132022-08-27T09:22:00.003-03:002022-08-27T09:22:58.185-03:00Referências para ‘Maquinação’<p> <b data-originalcomputedfontsize="16" data-removefontsize="true" style="-webkit-text-size-adjust: auto; color: #757575; font-family: -apple-system, HelveticaNeue; font-size: 1rem; word-spacing: 1px;">3. De onde vieram suas referências e inspirações para escrever o livro?</b></p><div data-originalcomputedfontsize="16" data-removefontsize="true" style="-webkit-text-size-adjust: auto; caret-color: rgb(49, 49, 49); color: #313131; font-family: -apple-system, HelveticaNeue; font-size: 1rem; word-spacing: 1px;">Além das referências e inspirações mencionadas acima, da minha vida pessoal e profissional, há algumas obras clássicas que dialogam com "Maquinação", algumas direta outras indiretamente. Suspeito que a principal referência, mesmo que não explícita, é <i data-originalcomputedfontsize="16" data-removefontsize="true" style="font-size: 1rem;">1984</i>, de George Orwell, com o seu mundo de repressão, com uma instância superior sempre controlando o que fazemos. Um spoiler: há um certo trecho de "Maquinação" que, para mim, é a tentativa de responder ao trecho correspondente do livro de Orwell. Ele propõe uma determinada solução talvez mais sombria, eu acho que o pessimismo deveria ficar para tempos menos complicados. Como uma espécie de complemento, há também alguma coisa de <i data-originalcomputedfontsize="16" data-removefontsize="true" style="font-size: 1rem;">Admirável mundo novo</i>, do Aldous Huxley, principalmente a maneira de dizer que, bem, não basta nos revoltarmos contra os poderes que querem coibir nossas vontades, nossos desejos -- ao contrário. O "sistema" (para usar um termo genérico e impreciso) não precisa mais nos reprimir, ele também pode lucrar com a nossa "liberdade". Acho que <i data-originalcomputedfontsize="16" data-removefontsize="true" style="font-size: 1rem;">Blade runner</i> também é uma referência forte, inclusive porque a continuação do filme foi lançada durante o processo mais duro de escrita do livro -- sobretudo na atmosfera e ambientação. Aliás, uma das epígrafes (adoro epígrafes) pega uma frase de um dos curtas feitos para lançar a sequência do longa clássico da década de 1980. Ainda na categoria filme, <i data-originalcomputedfontsize="16" data-removefontsize="true" style="font-size: 1rem;">Branco sai, preto fica</i>, do Adirley Queirós, tem uma ou duas coisinhas que eu roubei para o livro, acho que é fácil identificar. Por último, mas não menos importante, acho que a minha principal referência, mesmo que não necessariamente na superfície, é o argentino Jorge Luis Borges. No caso de "Maquinação", há uma certa cena, ao fim da segunda parte do livro, que, para mim, remetia diretamente ao conto "El Aleph". </div>CNChttp://www.blogger.com/profile/07194690298049414302noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3382859.post-35790973128647206332022-08-25T07:27:00.009-03:002022-08-25T07:27:58.667-03:00Como foi escrever “Maquinação”?<p> Já no clima de lançamento, a editora Guará me pediu para contar como foi escrever “Maquinação”.</p><p>/2. Como foi seu processo de escrever Maquinação?
</p><p>Houve várias fases. A primeira vez que eu escrevi uma linha no papel virtual da história que viria a ser "Maquinação" aconteceu em 2012, quando eu morava em Londres. Tinha trabalhado antes na saudosa Revista de História da Biblioteca Nacional e feito uma matéria sobre guerrilheiros que combateram a ditadura militar brasileira -- e o tema sobre um grupo de pessoas "comuns" que se juntam para tentar mudar um regime opressor, com as armas que tiverem nas mãos, me pareceu bem interessante. Há um heroísmo implícito, uma identificação imediata, mas também uma vocação para a tragédia, considerando que as forças em questão [no caso os militares, apoiados por caminhões de dinheiro do empresariado nacional X jovens de classe média urbana, agricultores buscando terras para trabalhar, operários querendo condições de vida mais justas, militantes de causas solidárias...] são, no mínimo, discrepantes. Voltei de Londres esse mesmo ano e o projeto foi para a gaveta, porque passei para o mestrado em Filosofia no fim de 2013 -- e é muito difícil, para mim, escrever ao mesmo tempo ficção e não-ficção. O ano de 2013 serviu, por si só, de mais inspiração, com os imensos protestos que tomaram as ruas do país inteiro. Junto a isso, pesquisei no mestrado a questão da técnica que me deu, entre outras coisas, o título "Maquinação" (é um termo associado ao filósofo que eu estudava mais de perto, Martin Heidegger). Mas só consegui me dedicar por completo ao livro, novamente, em 2016, quando acabei o mestrado e, por uma dessas coincidências, acabei indo passar dois meses em Beijing -- uma cidade com toques sci-fi. O tema dos guerrilheiros se mantinha, mas eu percebi que tinha que virar o ângulo da temporalidade e, em vez de olhar para o passado, mirar o futuro. O meu primeiro ponto final aconteceu em 2017, depois de -- outra coincidência -- passar um tempo em Paris. Essa última temporada me serviu para mostrar que a política pode e deve ser parte do nosso cotidiano, que não é algo que exercemos apenas em anos de eleição, mas que nossas decisões mais cotidianas são sempre carregadas de política, queiramos ou não. Abdicar de decidir politicamente é entregar a decisão para o status quo, para o mundo como ele já é, e nunca se esforçar para mudá-lo. Depois "Maquinação" participou e foi finalista do prêmio Rio de Literatura, e, agora, dez anos depois do seu início, vai para o mundo.</p>CNChttp://www.blogger.com/profile/07194690298049414302noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3382859.post-52632840646403977192022-08-24T07:15:00.002-03:002022-08-24T07:15:56.299-03:00Por que ler ficção científica?O pessoal da editora <a href="https://www.universoguara.com.br/" target="_blank">Guará</a>, que lança o meu livro “Maquinação”, me perguntou por que ler ficção científica, e eu arrisquei essa resposta aí embaixo:<div><br /></div><div>Tenho uma suspeita de que a ficção científica cumpre uma "função" que era reservada, ali pelo século xix até a chegada dos vanguardistas no início do século xx, para o realismo. Se o realismo tinha como proposta -- como o nome sugere -- retratar a realidade, a ficção científica, de uma forma bem mais curiosa, faz o mesmo processo atualmente. Não apenas porque vivemos em um tempo e em uma sociedade que já poderia ser considerada como digna de uma história de ficção científica -- tanto do ponto-de-vista da tecnologia, quanto da relação com as nossas expectativas sobre o futuro --, mas porque outros estilos, menos "fantasiosos", mais colados ao registro puramente factual, não conseguem competir com a realidade contemporânea. Fenômenos com a dimensão da crise ecológica, que chega a mudar a era geológica em que vivemos, ou a nossa relação com algoritmos, que acabam decidindo boa parte de todas as nossas relações (sociais, comerciais, amorosas etc.), são tão complexos que o realismo parece apenas enfadonho quanto colocado ao lado. Por fim, a ficção científica, que eu classifico talvez de forma pouco ortodoxa como uma das vertentes da literatura fantástica, também pode atuar como potente fonte imaginativa num período histórico que parece que estamos sempre condenados a um determinado destino. Se o realismo retrata o presente ou o passado, tempos já consolidados (mesmo que essa consolidação esteja sempre em disputa), a ficção científica propõe (no caso da utopia) ou conjura (da distopia) um futuro, matéria essa que precisa ainda e sempre ser moldada.</div>CNChttp://www.blogger.com/profile/07194690298049414302noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3382859.post-71722082268650805942022-08-15T11:15:00.004-03:002022-08-15T11:15:23.380-03:00'Maquinação': A questão da tecnologia e o título<p><span style="background-color: white; color: #262626; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><br />Apesar de a primeira frase de "Maquinação" ter sido escrita ainda em 2012, o grosso do projeto foi desenvolvido principalmente em 2017. Eu tinha acabado de terminar o meu mestrado em Filosofia, e estava com a cabeça lotada de termos do sujeito [para lá de controverso] que estudei: Martin Heidegger. Controverso porque ele foi filiado ao partido nazista, mas, apesar disso, produziu algumas ideias que influenciaram boa parte do pensamento ocidental do século XX. Uma delas foi a noção de técnica que me chamou a atenção de cara. Ele estava falando lá na década de 1940 que a gente estava se especializando tanto que viraríamos supérfluos. O primeiro termo que ele usou para falar desse tema foi Machenschaft, algo como "fazeção", o ato de fazer algo. A ideia é que fazíamos as coisas no automático, sem pensar muito sobre os processos. A tradução para o termo em português tentou buscar uma sonoridade parecida, sem se afastar muito do conceito e escolheu... Maquinação.</span></p><p><span style="color: #262626; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, Segoe UI, Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 14px;"><br /></span></span><span style="background-color: white; color: #262626; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgOCC9lNHqDIYmkbvvEP13c5rzz6eEai4QLBN_KmEj7BIEuHrGVbC6lO10cCdLTzAtl4_qrSao5X421Qjy77YjUr5_cDg8mmokHP3ovWnLfxABZNLTCLhdyyWaEoqMKM62vaWWF18b8kTF4mlGbdAm4CTuwD63bmoEkgnSyQZdrZTHBPYCeOQ" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="785" data-original-width="830" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgOCC9lNHqDIYmkbvvEP13c5rzz6eEai4QLBN_KmEj7BIEuHrGVbC6lO10cCdLTzAtl4_qrSao5X421Qjy77YjUr5_cDg8mmokHP3ovWnLfxABZNLTCLhdyyWaEoqMKM62vaWWF18b8kTF4mlGbdAm4CTuwD63bmoEkgnSyQZdrZTHBPYCeOQ" width="254" /></a></div><p></p><span style="background-color: white; color: #262626; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div><span style="background-color: white; color: #262626; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><br /></span></div>O resto, vocês podem imaginar. Ou ler no livro.</span><br style="background-color: white; color: #262626; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #262626; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><br /></span><div><span style="background-color: white; color: #262626; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Lançamento: dia 2/9, Travessa de Botafogo</span></div>CNChttp://www.blogger.com/profile/07194690298049414302noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3382859.post-85147732529154873322022-07-26T14:58:00.002-03:002022-07-26T14:58:24.306-03:00A capa de "Maquinação"<p><span style="background-color: white; color: #262626; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Compre o livro pela capa. Ou também pela capa. Isso é uma das coisas que dá para falar de "<a href="https://is.gd/MaquinacaoAmazon" target="_blank">Maquinação</a>".</span></p><span style="background-color: white; color: #262626; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Imagine: tivemos inúmeras discussões sobre como seria a porta de entrada para o livro, ainda mais numa editora com diversos e incríveis artistas gráficos. Mas, ainda assim, cogitamos usar uma dessas inteligências artificiais que produzem imagens a partir de termos genéricos ou frases - tem tudo a ver com o livro! Pensamos em trabalhar com fotos de personagens existentes. Pensamos em tanta coisa... Nada dava conta da nossa expectativa. Foi aí que foi sugerido </span><a class="oajrlxb2 g5ia77u1 qu0x051f esr5mh6w e9989ue4 r7d6kgcz rq0escxv nhd2j8a9 nc684nl6 p7hjln8o kvgmc6g5 cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x jb3vyjys rz4wbd8a qt6c0cv9 a8nywdso i1ao9s8h esuyzwwr f1sip0of lzcic4wl notranslate _a6hd" href="https://www.instagram.com/alexandre.contador/" role="link" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; background-color: white; border: 0px; box-sizing: border-box; cursor: pointer; display: inline; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; font-stretch: inherit; font-variant-east-asian: inherit; font-variant-numeric: inherit; line-height: inherit; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-decoration-line: none; touch-action: manipulation; vertical-align: baseline;" tabindex="0">@alexandre.contador</a><span style="background-color: white; color: #262626; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"> - coincidência, ou não, nome de um dos personagens principais do livro. <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFRWxC0ScMquWoIKVnVSBq0Dc03j1601MA6DGnZyapiR3g4AjTP_vyqFT_VVz9wMJj0tZrQGCcD2AMx2D-wOU4va-KPq4EJEAXNstMUclYhVo9EyQn1zVNQTXERdmgJI803mj5xbIz-sMqjYUxmTLOCRB7G5l-iGsV1gueiZeG6g19Bpr7gA/s900/capa_klimt%20matrix.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="636" data-original-width="900" height="226" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFRWxC0ScMquWoIKVnVSBq0Dc03j1601MA6DGnZyapiR3g4AjTP_vyqFT_VVz9wMJj0tZrQGCcD2AMx2D-wOU4va-KPq4EJEAXNstMUclYhVo9EyQn1zVNQTXERdmgJI803mj5xbIz-sMqjYUxmTLOCRB7G5l-iGsV1gueiZeG6g19Bpr7gA/s320/capa_klimt%20matrix.jpeg" width="320" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEges8fJaAA-DvPvBOLtydaRkxynSBl9rcRHbY3bpp0arSIEvApD3Okg26E19OlJhdUPDoGhKbIYRZ0H8NT8_ZBI4Ozeo4HuijWCzHIT5W0AKT0GMMYQ0I0zvtzQZPhFyHzO9NVflpxT9LHyS5KoAu3APUxCdbi_n5LalsVpierQmOdPDsMIDg/s900/capa_esbo%C3%A7os.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="636" data-original-width="900" height="226" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEges8fJaAA-DvPvBOLtydaRkxynSBl9rcRHbY3bpp0arSIEvApD3Okg26E19OlJhdUPDoGhKbIYRZ0H8NT8_ZBI4Ozeo4HuijWCzHIT5W0AKT0GMMYQ0I0zvtzQZPhFyHzO9NVflpxT9LHyS5KoAu3APUxCdbi_n5LalsVpierQmOdPDsMIDg/s320/capa_esbo%C3%A7os.jpeg" width="320" /></a></div><br /><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFCxj9nqB3LIBbflKAt_LNItP4GbQ-YpvFhL7N55Z0DOefcCdC3kfEQy-MsDON7rOPgce8-pacsdExSEEfvQnQnLx9_I6ftfioz7C1TED_K3TnI9TJxnpNBFF55CL0Dqpl17J0-4N1jZK13XKDyBVYvVCfVdr76ZItE64Dhq-qQOU8j0D93w/s900/capa_beijos.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="636" data-original-width="900" height="226" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFCxj9nqB3LIBbflKAt_LNItP4GbQ-YpvFhL7N55Z0DOefcCdC3kfEQy-MsDON7rOPgce8-pacsdExSEEfvQnQnLx9_I6ftfioz7C1TED_K3TnI9TJxnpNBFF55CL0Dqpl17J0-4N1jZK13XKDyBVYvVCfVdr76ZItE64Dhq-qQOU8j0D93w/s320/capa_beijos.jpeg" width="320" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHKXuntHBloKuWBtojCsFZsK53scobnikhF7FdvIrLLk9FM5Dfmglkzp9P2WCV-5YeHXrmc_5L31faeIBJJjQEau8jnkCfNwN_Sb9T737QFwh29Td6AhunBHRZs5hF89Vk4IwOJYQWTtl66hQ5uAB70Xw36emlL-0VZzz-5LyxwISUcbU_pQ/s900/capa_beijos%20protestos.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="636" data-original-width="900" height="226" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHKXuntHBloKuWBtojCsFZsK53scobnikhF7FdvIrLLk9FM5Dfmglkzp9P2WCV-5YeHXrmc_5L31faeIBJJjQEau8jnkCfNwN_Sb9T737QFwh29Td6AhunBHRZs5hF89Vk4IwOJYQWTtl66hQ5uAB70Xw36emlL-0VZzz-5LyxwISUcbU_pQ/s320/capa_beijos%20protestos.jpeg" width="320" /></a></div><br />Fui conferir as obras dele no instagram e falei: é ele. Nas primeiras imagens de conceito, ele me manda o Klimt - que eu adoro. Depois, "From here to the eternity". Depois, fotos de protestos e beijos. Por fim, o primeiro esboço do que seria a capa e a gente pensava: quantos braços tem aqui? Bem, o resto já é história.</span><div><span style="color: #262626; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, Segoe UI, Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 14px;"><br /></span></span></div><div><span style="color: #262626; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, Segoe UI, Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6L_lQHFKGopAfEI_MsCLa4nG77-mGlDK988KP4ydHVEk47cyMIZCBrAhJHFa-UJ8uAJ4V8f8HUqkbdmN953P63EnEf9oRwJQrfZOlhdWbv1blUCk_QrSwnEXYmwJBlJyfgAYu4iVJYMZNAVMp3LrL62Dvz6J17zQ1Cx8Tmw4zwFvCbnr29w/s1280/capa_esbo%C3%A7o%20inicial.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1280" data-original-width="719" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6L_lQHFKGopAfEI_MsCLa4nG77-mGlDK988KP4ydHVEk47cyMIZCBrAhJHFa-UJ8uAJ4V8f8HUqkbdmN953P63EnEf9oRwJQrfZOlhdWbv1blUCk_QrSwnEXYmwJBlJyfgAYu4iVJYMZNAVMp3LrL62Dvz6J17zQ1Cx8Tmw4zwFvCbnr29w/s320/capa_esbo%C3%A7o%20inicial.jpeg" width="180" /></a></div><br /><span style="font-size: 14px;"><br /></span></span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.blogger.com/video.g?token=AD6v5dxTVuDLSxYYv7vCUkWdWGD1yZ4HtD4C9oVA4hqr3g3rVb5QA6s1ug8U_nPYDyG9TH4pF2zExhRNMeI' class='b-hbp-video b-uploaded' frameborder='0'></iframe></div><div><br /></div></div>CNChttp://www.blogger.com/profile/07194690298049414302noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3382859.post-89114443811479662162022-07-26T14:53:00.006-03:002022-07-26T14:53:36.743-03:00A orelha de "Maquinação"<p>A publicação de um livro nunca é uma linha reta em que a cada dia você necessariamente chega mais perto do objetivo. Ou não foi esse o caso de "Maquinação". Há sempre uma série de dúvidas, de "e se...?", de "não vai rolar" - e os cinco anos entre o primeiro ponto final e sua publicação demonstram isso. Mas há também confirmações e, em raros momentos, certezas incentivadas por olhares mais experientes que aceitam participar do projeto por pura camaradagem. Foi o caso do <a href="https://mundofantasmo.blogspot.com/" target="_blank">Bráulio Tavares</a>, grande ícone de tantos campos (música, poesia, teatro, repente... um polímata clássico) mas principalmente um grande farol dentro da literatura e, em especial, dessa literatura fantástica com toques de ficção científica a qual "Maquinação" paga tantos tributos. Para vocês terem a noção do tamanho dele: sabe aquela velha coleção da Brasiliense em que se tentava responder "O que é x, y, z?"? Pois bem, Bráulio foi o responsável pelo tema ficção científica (terceira imagem do carrossel). Uma referência e há muito tempo. Isso sem contar seus livros "Mundo fantasmo" e "A espinha dorsal da memória", já clássicos nacionais do gênero, e suas coletâneas, e suas crônicas, suas aulas...</p><p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrZyNK6qwppVOKg9-IPSjfxrv8kKpw2g5rhmTF1KW4QC9ozt9h5t94zvxzJmBc9Xxj0uzXbBrXX8fUvIRnX7PTPq1cW00CHdxA5rBZYQrUhQb7n76yDp8fui_NkykydshwZA9YjnkQlc_iKVgg5XHOOEzPsXdXi4Sd7dhtp6wFfXHy4Nr5MQ/s780/1%20orelha_trecho%20inicial.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="780" data-original-width="475" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrZyNK6qwppVOKg9-IPSjfxrv8kKpw2g5rhmTF1KW4QC9ozt9h5t94zvxzJmBc9Xxj0uzXbBrXX8fUvIRnX7PTPq1cW00CHdxA5rBZYQrUhQb7n76yDp8fui_NkykydshwZA9YjnkQlc_iKVgg5XHOOEzPsXdXi4Sd7dhtp6wFfXHy4Nr5MQ/s320/1%20orelha_trecho%20inicial.jpg" width="195" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Trecho inicial da orelha</td></tr></tbody></table></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div>Por isso que foi mais que uma honra poder contar com a orelha desse artista, desse homem das letras, foi um dos momentos em que eu pensei: vai dar certo. <p></p><p><br /></p><br /><p><br /></p>CNChttp://www.blogger.com/profile/07194690298049414302noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3382859.post-52865814315591272912022-07-20T11:54:00.003-03:002022-07-20T14:23:25.456-03:00Começou a pré-venda de "Maquinação"<p> Dá para comprar por esse link: <a href="https://is.gd/MaquinacaoAmazon">https://is.gd/MaquinacaoAmazon</a></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://is.gd/MaquinacaoAmazon" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;" target="_blank"><img border="0" data-original-height="1007" data-original-width="745" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHy1O_o7hUyxV-lyXRgtY-cAzYU0lpgfrMt3NgQM9a6ydK7PU9ELlrcvl046UkhOx1dN1pgPisDKl8DfQV_Idk68rR1j0aJzISOjf6rkCvj0ZXNY-92V_x0ImOdS8wJSGs1KNTUHEUJXTFC2rQJFio1Iq2K10GHJv81SLaCAo9xUItEm_S7g/s320/WhatsApp%20Image%202022-07-20%20at%2011.37.57.jpeg" width="237" /></a></div><br /><p><br /></p>CNChttp://www.blogger.com/profile/07194690298049414302noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3382859.post-77022119722868283632022-07-16T11:10:00.010-03:002022-07-20T11:49:55.824-03:00Lançamento "Maquinação"<p><i>Maquinação</i>, o livro de ficção que eu escrevi após o mestrado, está vindo à luz. </p><p>Aqui temos o primeiro vídeo de promoção: </p><p><br />
</p><blockquote class="instagram-media" data-instgrm-captioned="" data-instgrm-permalink="https://www.instagram.com/tv/CgEW4IRPu0M/?utm_source=ig_embed&utm_campaign=loading" data-instgrm-version="14" style="background: rgb(255, 255, 255); border-radius: 3px; border: 0px; box-shadow: rgba(0, 0, 0, 0.5) 0px 0px 1px 0px, rgba(0, 0, 0, 0.15) 0px 1px 10px 0px; margin: 1px; max-width: 540px; min-width: 326px; padding: 0px; width: calc(100% - 2px);"><div style="padding: 16px;"> <a href="https://www.instagram.com/tv/CgEW4IRPu0M/?utm_source=ig_embed&utm_campaign=loading" style="background: rgb(255, 255, 255); line-height: 0; padding: 0px; text-align: center; text-decoration: none; width: 100%;" target="_blank"> <div style="align-items: center; display: flex; flex-direction: row;"> <div style="background-color: #f4f4f4; border-radius: 50%; flex-grow: 0; height: 40px; margin-right: 14px; width: 40px;"></div> <div style="display: flex; flex-direction: column; flex-grow: 1; justify-content: center;"> <div style="background-color: #f4f4f4; border-radius: 4px; flex-grow: 0; height: 14px; margin-bottom: 6px; width: 100px;"></div> <div style="background-color: #f4f4f4; border-radius: 4px; flex-grow: 0; height: 14px; width: 60px;"></div></div></div><div style="padding: 19% 0px;"></div> <div style="display: block; height: 50px; margin: 0px auto 12px; width: 50px;"><svg height="50px" version="1.1" viewbox="0 0 60 60" width="50px" xmlns:xlink="https://www.w3.org/1999/xlink" xmlns="https://www.w3.org/2000/svg"><g fill-rule="evenodd" fill="none" stroke-width="1" stroke="none"><g fill="#000000" transform="translate(-511.000000, -20.000000)"><g><path d="M556.869,30.41 C554.814,30.41 553.148,32.076 553.148,34.131 C553.148,36.186 554.814,37.852 556.869,37.852 C558.924,37.852 560.59,36.186 560.59,34.131 C560.59,32.076 558.924,30.41 556.869,30.41 M541,60.657 C535.114,60.657 530.342,55.887 530.342,50 C530.342,44.114 535.114,39.342 541,39.342 C546.887,39.342 551.658,44.114 551.658,50 C551.658,55.887 546.887,60.657 541,60.657 M541,33.886 C532.1,33.886 524.886,41.1 524.886,50 C524.886,58.899 532.1,66.113 541,66.113 C549.9,66.113 557.115,58.899 557.115,50 C557.115,41.1 549.9,33.886 541,33.886 M565.378,62.101 C565.244,65.022 564.756,66.606 564.346,67.663 C563.803,69.06 563.154,70.057 562.106,71.106 C561.058,72.155 560.06,72.803 558.662,73.347 C557.607,73.757 556.021,74.244 553.102,74.378 C549.944,74.521 548.997,74.552 541,74.552 C533.003,74.552 532.056,74.521 528.898,74.378 C525.979,74.244 524.393,73.757 523.338,73.347 C521.94,72.803 520.942,72.155 519.894,71.106 C518.846,70.057 518.197,69.06 517.654,67.663 C517.244,66.606 516.755,65.022 516.623,62.101 C516.479,58.943 516.448,57.996 516.448,50 C516.448,42.003 516.479,41.056 516.623,37.899 C516.755,34.978 517.244,33.391 517.654,32.338 C518.197,30.938 518.846,29.942 519.894,28.894 C520.942,27.846 521.94,27.196 523.338,26.654 C524.393,26.244 525.979,25.756 528.898,25.623 C532.057,25.479 533.004,25.448 541,25.448 C548.997,25.448 549.943,25.479 553.102,25.623 C556.021,25.756 557.607,26.244 558.662,26.654 C560.06,27.196 561.058,27.846 562.106,28.894 C563.154,29.942 563.803,30.938 564.346,32.338 C564.756,33.391 565.244,34.978 565.378,37.899 C565.522,41.056 565.552,42.003 565.552,50 C565.552,57.996 565.522,58.943 565.378,62.101 M570.82,37.631 C570.674,34.438 570.167,32.258 569.425,30.349 C568.659,28.377 567.633,26.702 565.965,25.035 C564.297,23.368 562.623,22.342 560.652,21.575 C558.743,20.834 556.562,20.326 553.369,20.18 C550.169,20.033 549.148,20 541,20 C532.853,20 531.831,20.033 528.631,20.18 C525.438,20.326 523.257,20.834 521.349,21.575 C519.376,22.342 517.703,23.368 516.035,25.035 C514.368,26.702 513.342,28.377 512.574,30.349 C511.834,32.258 511.326,34.438 511.181,37.631 C511.035,40.831 511,41.851 511,50 C511,58.147 511.035,59.17 511.181,62.369 C511.326,65.562 511.834,67.743 512.574,69.651 C513.342,71.625 514.368,73.296 516.035,74.965 C517.703,76.634 519.376,77.658 521.349,78.425 C523.257,79.167 525.438,79.673 528.631,79.82 C531.831,79.965 532.853,80.001 541,80.001 C549.148,80.001 550.169,79.965 553.369,79.82 C556.562,79.673 558.743,79.167 560.652,78.425 C562.623,77.658 564.297,76.634 565.965,74.965 C567.633,73.296 568.659,71.625 569.425,69.651 C570.167,67.743 570.674,65.562 570.82,62.369 C570.966,59.17 571,58.147 571,50 C571,41.851 570.966,40.831 570.82,37.631"></path></g></g></g></svg></div><div style="padding-top: 8px;"> <div style="color: #3897f0; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 14px; font-style: normal; font-weight: 550; line-height: 18px;">Ver essa foto no Instagram</div></div><div style="padding: 12.5% 0px;"></div> <div style="align-items: center; display: flex; flex-direction: row; margin-bottom: 14px;"><div> <div style="background-color: #f4f4f4; border-radius: 50%; height: 12.5px; transform: translateX(0px) translateY(7px); width: 12.5px;"></div> <div style="background-color: #f4f4f4; flex-grow: 0; height: 12.5px; margin-left: 2px; margin-right: 14px; transform: rotate(-45deg) translateX(3px) translateY(1px); width: 12.5px;"></div> <div style="background-color: #f4f4f4; border-radius: 50%; height: 12.5px; transform: translateX(9px) translateY(-18px); width: 12.5px;"></div></div><div style="margin-left: 8px;"> <div style="background-color: #f4f4f4; border-radius: 50%; flex-grow: 0; height: 20px; width: 20px;"></div> <div style="border-bottom: 2px solid transparent; border-left: 6px solid rgb(244, 244, 244); border-top: 2px solid transparent; 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line-height: 17px; margin-bottom: 0px; margin-top: 8px; overflow: hidden; padding: 8px 0px 7px; text-align: center; text-overflow: ellipsis; white-space: nowrap;"><a href="https://www.instagram.com/tv/CgEW4IRPu0M/?utm_source=ig_embed&utm_campaign=loading" style="color: #c9c8cd; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 14px; font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 17px; text-decoration: none;" target="_blank">Uma publicação compartilhada por Ronaldo Pelli Jr. (@ronaldopelli)</a></p></div></blockquote> <script async="" src="//www.instagram.com/embed.js"></script>
<p></p><p>Pré-venda começa agora, na Amazon.</p><p>Lançamento presencial dia 2 de setembro, na Travessa de Botafogo, às 19h.</p>CNChttp://www.blogger.com/profile/07194690298049414302noreply@blogger.com0