A culpa católica
Vivemos num país que faz jejum de carne vermelha na sexta-feira da paixão porque (acha que) esta representaria a própria carne do filho do hômi. Depois, descobre-se (eu incluído) que é porque se o sr. Nazaré, filho, sofreu tanto por nós que vale a pena o sacrifício de comer peixe em um dia específico no ano por ele? O argumento clerical é este.
No feriado, por coincidência, assisti a duas produções com pano de fundo em comum: a mundialmente famosa igreja apostólica romana. Para tanto, elas utilizam um dogma dos mais característicos. A necessidade das boas ações para se entrar no céu e manter-se à distância do seu antagonismo.
Releve-se o caráter lúdico, abstraia o universo HQ e analise uma ou outra ação de Sr. Constantine, no filme que leva o seu nome. Ele faz o "bem", não porque pensa dessa forma, mas porque tem como objetivo evitar a sua condenação às chamas infernais - já que ele é um suicida. Entretanto, em um dos diálogos com o andrógino Gabriel (não discutamos o sexo dos anjos), o ser angelical argumenta que tais ações só valerão quando forem intrínsecas ao ser humano. Enquanto ele agir para "se dar bem", não haverá perdão.
De certa forma, com bastante abstração, pode-se chegar à mesma conclusão do comportamento de Frankie Dunn em "Menina de Ouro". Ele quer entender como funciona esse negócio de Santíssima Trindade, ou como ocorreu a concepção de Jesus. Mas, principalmente, ele quer a filha de volta. Carrega um peso absurdo por ela ignorar suas cartas enviadas religiosamente em cada semana. Assim, transforma-se num ser que tenta não expor nenhum de seus próximos a eventos que podem trazer qualquer tipo de decepção. Ou que podem culpá-lo por qualquer de suas atitudes.
Constantine não se sente culpado, pois o fato de ter cometido suicídio não o atormenta. Mas ele age para resgatar a sua alma da condenação.
De certa forma, TODAS as religiões baseam-se em códigos de condutas. (Budismo é uma exceção: não há nenhum Deus e crê que suas ações voltam para vc, nesta ou em outra encarnação). O que torna o católico um espécime a ser analisado é exatamente a culpa e a sua face mais caricata, o pecado.
As religiões - e o catolicismo é um exemplo disso - não possuem respostas para todas perguntas. Deve-se crer. Ter fé. Sabemos o que não devemos fazer, mas como agir? Interpretações da Bíblia são tantas quantas as igrejas que são criadas todos os dias.
Não creio haver nada mais difícil (de se entender) que a própria fé. Gastar meus poucos neurônios com isso não faz sentido.
terça-feira, 29 de março de 2005
sexta-feira, 18 de março de 2005
Gosto
Há tempos quero saber do que é feito o gosto dos outros, e o meu próprio. Como embasamento, só tinha uma frase do Borges que dizia algo como "gostar é reconhecer-se". O que é um belo ponto de partida. Junto a isso, numa aula sobre ética, o professor citou as diferenças entre o juízo de fato, de valor e de estética. Exemplos: Chove lá fora; Chove muito lá fora; Chove belamente lá fora - respectivamente.
O primeiro seria uma constatação do óbvio. O segundo uma atribuição relativa, mediante comparação, mesmo não explícita. E o terceiro - o que interessa - uma descrição da qualidade ou do defeito de um determinado objeto de estudo.
Então, por que gostamos de um filme, peça, música etc? Um juízo de fato, para início de conversa: os gostos são diferentes. Então, se conclui que diferentes personalidades têm gostos díspares. Por um raciocínio lógico, pode-se sugerir que há duas formas de gostar: a) daquilo que melhor complementa o seu ser; b) aquilo que melhor representa o seu ser. E, pode-se argumentar que há ainda a possibilidade de trânsito entre esses dois extremos. Mas, é possível sugerir que os dois casos são praticamente iguais, bastando demonstrar que o primeiro seria aquilo que o sujeito quer ser, mas não é (ainda ou nunca será). E, dessa forma, gostar seria somente reconhecer-se - ou como incompleto ou como narciso. Ponto para Borges.
Exemplos são infinitos: via de regra, um brutamontes não gostará de um filme delicado - porque não encontrará nada dele na tela. Por outro lado, um sujeito sensível poderá se intrigar com alguma produção violenta ou de ação, querendo alcançar toda a virilidade que ele não apresenta normalmente.
Basta pensar em nós mesmos. Conheço um camarada que adora o "Rio 40 graus", do Nelson Pereira, porque em determinadas cenas, o faz lembrar de sua família. Sei de outro que gosta do "Coffee and Cigarretes", porque o ritmo de narrativa é natural para ele. E o que dizer do meu fascínio por Woody Allen?
O que acontece, às vezes, e sobre isso seria interessante um estudo bacana, é como os outros juízos - principalmente o de valor - interfere no estético. A estética deveria ser amoral, ou pelo menos, "sobremoral", se é que tal conceito existe. Mas, conheço gente - inúmeros - que detestam "Irreversível" porque há cenas extremamente fortes e chocantes. Não defendo nem ataco, pelo contrário. Só digo que os argumentos não podem conter um valor. Porque a estética deveria vir antes do raciocínio, antes do argumento formado, antes dos porquês, o gostar deveria ser uma surpresa que te pega antes de pensar e te mostra quem vc é, ou como vc gostaria de ser.
Ou não. E se essa justificativa começasse uma outra discussão: o seu senso estético não seria também influenciado pelos valores pessoais? Porque se gostar é reconhecer-se, e se reconhecer é se conhecer de uma forma nova, isso também incluiria os seus valores éticos e morais. Certo, correto ou belo?
Ok, ok, ok. Deixemos as discussões mais acaloradas para outro dia.
Há tempos quero saber do que é feito o gosto dos outros, e o meu próprio. Como embasamento, só tinha uma frase do Borges que dizia algo como "gostar é reconhecer-se". O que é um belo ponto de partida. Junto a isso, numa aula sobre ética, o professor citou as diferenças entre o juízo de fato, de valor e de estética. Exemplos: Chove lá fora; Chove muito lá fora; Chove belamente lá fora - respectivamente.
O primeiro seria uma constatação do óbvio. O segundo uma atribuição relativa, mediante comparação, mesmo não explícita. E o terceiro - o que interessa - uma descrição da qualidade ou do defeito de um determinado objeto de estudo.
Então, por que gostamos de um filme, peça, música etc? Um juízo de fato, para início de conversa: os gostos são diferentes. Então, se conclui que diferentes personalidades têm gostos díspares. Por um raciocínio lógico, pode-se sugerir que há duas formas de gostar: a) daquilo que melhor complementa o seu ser; b) aquilo que melhor representa o seu ser. E, pode-se argumentar que há ainda a possibilidade de trânsito entre esses dois extremos. Mas, é possível sugerir que os dois casos são praticamente iguais, bastando demonstrar que o primeiro seria aquilo que o sujeito quer ser, mas não é (ainda ou nunca será). E, dessa forma, gostar seria somente reconhecer-se - ou como incompleto ou como narciso. Ponto para Borges.
Exemplos são infinitos: via de regra, um brutamontes não gostará de um filme delicado - porque não encontrará nada dele na tela. Por outro lado, um sujeito sensível poderá se intrigar com alguma produção violenta ou de ação, querendo alcançar toda a virilidade que ele não apresenta normalmente.
Basta pensar em nós mesmos. Conheço um camarada que adora o "Rio 40 graus", do Nelson Pereira, porque em determinadas cenas, o faz lembrar de sua família. Sei de outro que gosta do "Coffee and Cigarretes", porque o ritmo de narrativa é natural para ele. E o que dizer do meu fascínio por Woody Allen?
O que acontece, às vezes, e sobre isso seria interessante um estudo bacana, é como os outros juízos - principalmente o de valor - interfere no estético. A estética deveria ser amoral, ou pelo menos, "sobremoral", se é que tal conceito existe. Mas, conheço gente - inúmeros - que detestam "Irreversível" porque há cenas extremamente fortes e chocantes. Não defendo nem ataco, pelo contrário. Só digo que os argumentos não podem conter um valor. Porque a estética deveria vir antes do raciocínio, antes do argumento formado, antes dos porquês, o gostar deveria ser uma surpresa que te pega antes de pensar e te mostra quem vc é, ou como vc gostaria de ser.
Ou não. E se essa justificativa começasse uma outra discussão: o seu senso estético não seria também influenciado pelos valores pessoais? Porque se gostar é reconhecer-se, e se reconhecer é se conhecer de uma forma nova, isso também incluiria os seus valores éticos e morais. Certo, correto ou belo?
Ok, ok, ok. Deixemos as discussões mais acaloradas para outro dia.
sexta-feira, 11 de março de 2005
Édipo
Admito que estou apreensivo. É a primeira vez que ela vem à minha casa. Falamo-nos diariamente - quase ao menos - mas não houve a oportunidade dela vir aqui. O relógio, como é de costume nessas situações, parece que fica imóvel. Levanto-me e sento-me inúmeras vezes. Abro a geladeira e depois a fecho, sem pegar nada lá dentro. Caminho em direção à porta e depois faço o percurso inverso. Volto, destranco e tranco a porta. Não estou confortável. Olho para o meu pequeno apartamento procurando algo que possa estar fora da ordem e ela venha a reclamar, apontar como desvio da minha norma. Sei que ele está um pouco sujo, mas, agora, não há nada que eu possa fazer. Pelo menos organizado está. E, principalmente, guardei todos os indícios de solidão e tristeza pelos quais eu passei nos últimos meses.
Saí de sua casa quando eu percebi que a minha vida era mais da porta para fora que dentro das quatro paredes. Havíamos vivido 20 anos juntos. Nos últimos tempos nos suportávamos. Saí e resolvemos manter a civilidade. Eu usava um argumento para me convencer: todo o tempo não poderia ter sido em vão. Ligava para ela como que obrigado. Não era agradável. A conversa beirava a burocracia.
Senti que ela perdia o interesse, de uma maneira geral. Ela, que sempre fora bastante alegre, organizava festas para os familiares, mesas enormes com pessoas completamente desconhecidas para mim. Não pertencia àquele mundo, àquela realidade. Já ela, ela era a favor da união sangüínea, diferenças seriam diminuídas, amigos formados pelo sobrenome em comum. Nós não brigávamos nunca, mas esse teria sido um bom motivo para discussões. E, agora, ela perdeu por completo a empolgação. As suas falas são decoradas, quase ladainhas. Reclama de tudo, argumenta que estava sozinha, que se sente perdida, que não há ninguém. Não sei lidar como isso e apenas a escuto, sem pronunciar nenhuma palavra. Não quero me envolver, não acho que é da minha conta, que eu devo fazer alguma coisa. Mantenho-me à distância dos fatos e sou apenas um observador frio da sua queda.
Não creio que a sua doença tenha começado por minha causa. Pelo menos não quero ter essa culpa, já que não vejo utilidade nesse sentimento. Mas é coincidência demais ela ter piorado assim que eu saí de casa. Ela começou a murchar, acinzentar-se, desistir da vida. A doença veio logo em seguida. Não havia mais porquê dela lutar contra. Entregou-se à fatalidade e esperou o inevitável.
Neste dia ela vem à minha casa porque eu moro mais perto do hospital que ela. Quero demonstrar que eu posso viver sozinho, sem ela. Parecer independente, este é o intuito. Mas me parece que quanto mais luto para me desvencilhar dela, mais me perco de mim mesmo e de todos a minha volta. Com a independência tão almejada, veio a solidão profunda. Eu passo dias inteiros, finais de semana sem abrir a boca para conversar com qualquer pessoa. Saí de casa poucas vezes. E para nunca me divertir. Todas as festas não tem mais nenhuma graça porque não me atingem. São distantes da minha realidade de solitário. Chego a pensar que para sempre viverei assim. Todos os meus planos estão naufragando. Continuo porque não tenho opção ou sou covarde, ou para provar que eu conseguirei sobreviver.
Vivemos o mesmo sentimento, apenas distanciados um do outro. E não há forma de consertarmos, deve ser assim. Eu não quero diferente, ela não enxerga outra forma ou tem medo de tentar.
E, então, a campainha soa...
Admito que estou apreensivo. É a primeira vez que ela vem à minha casa. Falamo-nos diariamente - quase ao menos - mas não houve a oportunidade dela vir aqui. O relógio, como é de costume nessas situações, parece que fica imóvel. Levanto-me e sento-me inúmeras vezes. Abro a geladeira e depois a fecho, sem pegar nada lá dentro. Caminho em direção à porta e depois faço o percurso inverso. Volto, destranco e tranco a porta. Não estou confortável. Olho para o meu pequeno apartamento procurando algo que possa estar fora da ordem e ela venha a reclamar, apontar como desvio da minha norma. Sei que ele está um pouco sujo, mas, agora, não há nada que eu possa fazer. Pelo menos organizado está. E, principalmente, guardei todos os indícios de solidão e tristeza pelos quais eu passei nos últimos meses.
Saí de sua casa quando eu percebi que a minha vida era mais da porta para fora que dentro das quatro paredes. Havíamos vivido 20 anos juntos. Nos últimos tempos nos suportávamos. Saí e resolvemos manter a civilidade. Eu usava um argumento para me convencer: todo o tempo não poderia ter sido em vão. Ligava para ela como que obrigado. Não era agradável. A conversa beirava a burocracia.
Senti que ela perdia o interesse, de uma maneira geral. Ela, que sempre fora bastante alegre, organizava festas para os familiares, mesas enormes com pessoas completamente desconhecidas para mim. Não pertencia àquele mundo, àquela realidade. Já ela, ela era a favor da união sangüínea, diferenças seriam diminuídas, amigos formados pelo sobrenome em comum. Nós não brigávamos nunca, mas esse teria sido um bom motivo para discussões. E, agora, ela perdeu por completo a empolgação. As suas falas são decoradas, quase ladainhas. Reclama de tudo, argumenta que estava sozinha, que se sente perdida, que não há ninguém. Não sei lidar como isso e apenas a escuto, sem pronunciar nenhuma palavra. Não quero me envolver, não acho que é da minha conta, que eu devo fazer alguma coisa. Mantenho-me à distância dos fatos e sou apenas um observador frio da sua queda.
Não creio que a sua doença tenha começado por minha causa. Pelo menos não quero ter essa culpa, já que não vejo utilidade nesse sentimento. Mas é coincidência demais ela ter piorado assim que eu saí de casa. Ela começou a murchar, acinzentar-se, desistir da vida. A doença veio logo em seguida. Não havia mais porquê dela lutar contra. Entregou-se à fatalidade e esperou o inevitável.
Neste dia ela vem à minha casa porque eu moro mais perto do hospital que ela. Quero demonstrar que eu posso viver sozinho, sem ela. Parecer independente, este é o intuito. Mas me parece que quanto mais luto para me desvencilhar dela, mais me perco de mim mesmo e de todos a minha volta. Com a independência tão almejada, veio a solidão profunda. Eu passo dias inteiros, finais de semana sem abrir a boca para conversar com qualquer pessoa. Saí de casa poucas vezes. E para nunca me divertir. Todas as festas não tem mais nenhuma graça porque não me atingem. São distantes da minha realidade de solitário. Chego a pensar que para sempre viverei assim. Todos os meus planos estão naufragando. Continuo porque não tenho opção ou sou covarde, ou para provar que eu conseguirei sobreviver.
Vivemos o mesmo sentimento, apenas distanciados um do outro. E não há forma de consertarmos, deve ser assim. Eu não quero diferente, ela não enxerga outra forma ou tem medo de tentar.
E, então, a campainha soa...
sábado, 5 de março de 2005
Todos os direitos liberados
Foi no já longínquo ano de 2001 que eu li pela primeira vez a expressão "software livre". Na época não sabia nada sobre o assunto. A diferença agora é que, ao menos, já encontrei esse conceito em alguns meios de comunicação e até outras pequenas denominações que me chamaram a atenção e remetem ao mesmo tema: copyleft e creative commons.
O que elas têm em comum, a grosso modo? Propõem um relaxamento das regras do copyright e daquela frase que aparece após alguns filmes, livros, sites e dentro de encartes de CDs: "Todos os direitos reservados".
O autor continuaria dono de sua própria obra (o que é óbvio), mas permitiria que ela fosse reproduzida, dando o devido crédito e sem fins comerciais. Ou seja, romanticamente falando, a propagação da idéia se sobressairia à comercialização das mesmas. Porque hoje, em tese, ainda é contra a lei baixar uma música do soulseek, copiar livros nas xerox de faculdades ou possuir uma versão pirata de filme em casa.
Claro que isso não agrada a muita gente. Editoras, gravadoras, produtoras, distribuidoras, ou seja, a pessoa jurídica do processo criativo sempre é contra as propostas de compartilhar suas minas de ouro. É de se esperar. Nasceram para ganhar dinheiro com as obras alheias, não teria nenhuma lógica em ficarem a favor de uma idéia que vai contra as suas ideologias básicas. Nem mais discuto isso. Esses são dinossauros que me lembram (sempre uso a mesma metáfora) os Luddistas, que quebravam as máquinas porque eram elas que lhes tiravam o emprego. Essas empresas lutam contra a evolução tecnológica que é, em princípios, uma disputa perdida. Só podem adiar a capitulação.
O que é chocante é que até alguns escritores, músicos, cineastas, a pessoa física do processo, são contra essa flexibilização. A argumentação é a mesma dos empresários. Perguntam sempre do que vão viver se tirarem os seus ganha-pães. Não pensam, ou deixam em segundo-plano, o fato de ter a possibilidade de multiplicar exponencialmente a divulgação de suas obras.
Por parte dos escritores, então, tal argumento se torna ainda mais ridículo. Quem fala que sobrevive de vendagem dos próprios livros ou é mentiroso, ou é faquir, ou é o próprio Paulo Coelho. Escritor vive de escrever em outros meios, salvo no Brasil as três ou quatro exceções.
Músico tem a possibilidade de fazer show, vender o hit para tocar em celulares, sei lá. Cineasta tem em sua defesa que a experiência da sala do cinema é única, por enquanto, ao menos, mas também pode trabalhar em outros mídias.
Esses "artistas" deveriam ser os primeiros a defender a "democratização" de suas obras. E pensam apenas (ou mais) em ganhar o seu. A sorte é que eles caem no mesmo erro das empresas: estão lutando contra o óbvio. O avanço da tecnologia não respeita vontades pessoais.
Leia mais aqui:
http://oglobo.globo.com/jornal/Suplementos/ProsaeVerso/167170082.asp
http://members.tripod.com.br/RamonFlores/GNU/copyleft.html
http://creativecommons.org/
http://www.gnu.org/philosophy/free-sw.pt.html
http://www.gnu.org/
Foi no já longínquo ano de 2001 que eu li pela primeira vez a expressão "software livre". Na época não sabia nada sobre o assunto. A diferença agora é que, ao menos, já encontrei esse conceito em alguns meios de comunicação e até outras pequenas denominações que me chamaram a atenção e remetem ao mesmo tema: copyleft e creative commons.
O que elas têm em comum, a grosso modo? Propõem um relaxamento das regras do copyright e daquela frase que aparece após alguns filmes, livros, sites e dentro de encartes de CDs: "Todos os direitos reservados".
O autor continuaria dono de sua própria obra (o que é óbvio), mas permitiria que ela fosse reproduzida, dando o devido crédito e sem fins comerciais. Ou seja, romanticamente falando, a propagação da idéia se sobressairia à comercialização das mesmas. Porque hoje, em tese, ainda é contra a lei baixar uma música do soulseek, copiar livros nas xerox de faculdades ou possuir uma versão pirata de filme em casa.
Claro que isso não agrada a muita gente. Editoras, gravadoras, produtoras, distribuidoras, ou seja, a pessoa jurídica do processo criativo sempre é contra as propostas de compartilhar suas minas de ouro. É de se esperar. Nasceram para ganhar dinheiro com as obras alheias, não teria nenhuma lógica em ficarem a favor de uma idéia que vai contra as suas ideologias básicas. Nem mais discuto isso. Esses são dinossauros que me lembram (sempre uso a mesma metáfora) os Luddistas, que quebravam as máquinas porque eram elas que lhes tiravam o emprego. Essas empresas lutam contra a evolução tecnológica que é, em princípios, uma disputa perdida. Só podem adiar a capitulação.
O que é chocante é que até alguns escritores, músicos, cineastas, a pessoa física do processo, são contra essa flexibilização. A argumentação é a mesma dos empresários. Perguntam sempre do que vão viver se tirarem os seus ganha-pães. Não pensam, ou deixam em segundo-plano, o fato de ter a possibilidade de multiplicar exponencialmente a divulgação de suas obras.
Por parte dos escritores, então, tal argumento se torna ainda mais ridículo. Quem fala que sobrevive de vendagem dos próprios livros ou é mentiroso, ou é faquir, ou é o próprio Paulo Coelho. Escritor vive de escrever em outros meios, salvo no Brasil as três ou quatro exceções.
Músico tem a possibilidade de fazer show, vender o hit para tocar em celulares, sei lá. Cineasta tem em sua defesa que a experiência da sala do cinema é única, por enquanto, ao menos, mas também pode trabalhar em outros mídias.
Esses "artistas" deveriam ser os primeiros a defender a "democratização" de suas obras. E pensam apenas (ou mais) em ganhar o seu. A sorte é que eles caem no mesmo erro das empresas: estão lutando contra o óbvio. O avanço da tecnologia não respeita vontades pessoais.
Leia mais aqui:
http://oglobo.globo.com/jornal/Suplementos/ProsaeVerso/167170082.asp
http://members.tripod.com.br/RamonFlores/GNU/copyleft.html
http://creativecommons.org/
http://www.gnu.org/philosophy/free-sw.pt.html
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