sexta-feira, 29 de junho de 2007

A bíblia neon

Quando, há dois anos, assisti ao show do Arcade Fire no Tim Festival, eles não eram exatamente a minha banda preferida. Achava suas melodias bonitas, mas faltava sangue no CD. Eles eram como fotos de crianças com bochechas rosadas. Fofos e de papel. Entretanto, sobre o palco, o quinteto (são só cinco mesmo?) fez de tudo para me convencer do contrário, que eu estava errado.

Foi espetacular, numa acepção que se aplicaria mesmo que o objetivo não fosse exatamente esse. Foi impressionante. Foi memorável ao ponto de até hoje lembrar detalhes da apresentação, como o grupo inteiro em pé em silêncio antes de começar a primeira música e, em seguida, começar apenas o bumbo e o coro acompanhando. Ou os caras subindo pelas instalações do palco. Excelente...

Bem, isso tudo para dizer que não consigo parar de ouvir o último álbum dos moços que saíram do Texas para se estabelecer em Montreal, "Neon Bible". Todo o punch que faltava a primeira incursão nos estúdios sobra nesse. Os arranjos, contudo, continuam lindos, impressionantemente lindos. De chorar. É como se os escutasse ao vivo, todos os dias, quando quisesse.

Arrisco, desde já, que é o melhor CD do ano.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Ponte aérea

São Paulo tem inveja do Rio, como o estudante esforçado que, freqüentemente, perde uma oportunidade para a prima, uma menina bonita, simplesmente porque ela é, claro, bonita.

A bela menina, porém, não se preocupou com o tempo. Viveu o momento como se fosse o último, se transformou em ícone e se desgastou. O estudante se formou, arrumou emprego e ganha um bom dinheiro - no ramo de serviços. É sempre atencioso, cordato, organizado. Não adianta muito.

Apesar de todos os esforços, a menina-mulher continua a mais famosa da família, enquanto o rapaz é lembrado, também, pela sujeira e feiúra.

Ultimamente, contudo, o rapaz se tornou o cosmopolita. Com amigos taxistas italianos, garçons árabes, jornalistas nordestinos. A menina-moça continua deitada em berço esplendido, aguardando que as modificações caiam do céu.

Ela continua interona, mas anos de desajuste a transformaram em perigosa - ou, ao menos - assustadora. Continua com o gingado, a manemolência, as curvas, enquanto ele grisalhou, colocou um pulôver cinza para escutar algo eletrônico, noturno, quadrado.

Ele gosta de carros, ela, praia. Ele vai ao shopping, ela, ao samba. Ele trabalha, ela ri (dele). Ele continua completamente apaixonado - por ela; ela, também.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Adiós, amigos

O ultimíssimo show dos Hermanos, na Fundição, foi o mais diferente de todos que eu presenciei. E olha que, desde uma longíqua apresentação na Loud, no Cine Íris, após terem lançado o "Bloco do eu sozinho", já fui em pelo menos um show a cada novo disco. Ou seja, numa conta por baixo, esse foi o quinto.

Não me comparo com outros fanáticos - conheço quem foi três vezes só na turnê do "4", por exemplo -, mas sei mais ou menos como funciona as cabeças de Camelo, Amarante, Medina e Barba, sobre o palco. E posso assegurar, essa foi diferente.

Claro, nenhuma das apresentações é igual a outra. Eles sempre mudam de repertório por causa do público que os assiste, do disco em questão, do tamanho do palco e do tempo com a mesma roupagem. Mas é nesse ponto que eu quero chegar: eles são conhecidos por não serem óbvios nas apresentações. Ou seja, "Ana Júlia" não é exatamente um top ten ao vivo. Além disso, eles não optam, necessariamente, por músicas mais agitadas, para animar o público cativo.

Funciona como se eles, normalmente, jogassem contra a vontade do público, não se deixando levar pelas facilidades. Não que eles sejam marrentos - até são - mas o caso é lutar contra a morosidade, a preguiça e o lugar-comum. Por isso, inclusive, eles são e serão lembrados para sempre.

MAS no show, eles estavam, como diria o Amarante, sentimentais. Camelo, vestido de um not-cool terno, pulava de um lado para outro, dava cabeçadas amigáveis nos outros componentes, se enrolava no fios da guitarra. Mas o sentimendo que o fim estava chegando, a nostalgia do que estava terminando, ficou mais evidente com a escolha das músicas.

Eles tentaram agradar o público. Tocaram vários sucessos, músicas conhecidas e poucas baladas. E não pareceu que eles estavam se curvando ao gosto popular(esco), mas uma comunhão, um "por que não tocar 'Pierrot' e agradar a multidão que grita?". Pareciam que, desta vez, os meninos estavam em uma festa, uma jam session, algo familiar, particular, algo entre hermanos.

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Lost dos Dragões

Com o último capítulo da terceira temporada, começamos a nos afogar com tantas e variadas especulações sobre "Lost". Mas, como não gosto de ler spoilers, fico órfão até fevereiro de 2008, quando se inicia a próxima season. Claro que ainda não consegui me desintoxicar de Jack, Sawyer, Kate e cia. ltda. Então, imaginei uma seguinte situação:

"Lost" é uma versão "adulta" de "Caverna dos Dragões". Se não, vejamos. O espectador do desenho animado é, praticamente, o mesmo da série de TV, apenas mais velho. "Lost" e "Caverna dos Dragões"abusam de idéias fantásticas, de mundos secretos - "Caverna dos Dragões" com mais seres irreais e "Lost" mais violência -, já foram interpretados como uma metáfora para a morte e o purgatório e, principalmente, em ambos os casos os protagonistas querem sair de onde estão e voltar para o "mundo real".

Claro que "Lost" tem mais complexidade, há mais personagens, situações mais impressionantes. Devemos levar em conta, porém, que mais de 20 anos se passaram, os roteiros precisam se adaptar às novas realidades, além de a série ser focada num público mais velho. Mas não custa nada fazer uma brincadeira de quem é quem na ilha e no mundo.

- Jack, claro, é Hank - líder nato que tem lidar com a própria insegurança.
- Sawyer seria Eric - o anti-herói clássico, que foge das regras, tenta caçoar sempre das idéias de Jack / Hank. Com o tempo, Eric ficou mais sarcástico e menos bobo.
- Kate - Sheila - arrasta uma asa para Jack/Hank. No desenho não cabia um triângulo amoroso porque, sei não...
- Hurley - Presto - o escape cômico.
- Sayid - Bobby - os bárbaros.

Dos principais de "Caverna dos Dragões" só falta o correspondente para Diana, a acrobata, que não protagonizou nenhum episódio, que eu me lembre. Porque, até para Uni, aquele unicórnio mala do desenho, existe o seu paralelo: Jonh Locke, que diz pertencer à ilha e que faz de tudo para ninguém ir embora de lá.

Será que os roteiristas de "Lost" pensaram nisso?