Miguel Gonçalves Mendes, diretor do delicado - e longo - documentário sobre ela e o marido, chama a assistente para entregar-lha metade de sobra do pequeno sanduíche que comera. Pilar, como só uma mulher que não teve filhos pode agir, dá uma bronca nele, maternalmente, como se ele tivesse que comer tudo. Tento brincar, aproveitando a fama dela e do marido de esquerda, e digo que é por uma questão de comunismo, que ele quer dividir. Ele ri, ela leva a sério e diz que não é, que ele não come nada, nunca. Insisto [sim, o erro é meu], dizendo, então, que Miguel está preocupado com a forma física, porque está no Rio. Ele gargalha, ela me fulmina com um olhar, chamando-me, sem abrir a boca, de imbecil, para baixo. Como disse um amigo meu, cansa.
- Gostei do filme do Jabor, como a grande minoria. Nem ouvi os argumentos dos muitos que reclamaram. Mas, achei curioso a reação de uns amigos ao contar-lhes um detalhe do filme. Na hora tiveram a mesma sensação que eu tive, de reconhecimento. O pipoqueiro Bené, vivido
O filme do Jabor é nostálgico. Ele fala sobre um Rio de Janeiro que nunca existiu, que ele criou para si e o revive constantemente. O curioso é quando ele consegue uma conexão nostálgica com quem assiste.
E, como se sabe, gostar é uma das formas de se reconhecer.
- Acho que o Michael Madsen força aquela voz rouca para parecer mais durão. Mas, com um senso de autoironia difícil de se encontrar, ele mandou uma frase lapidar, ontem: "To be tough is tough".