quarta-feira, 19 de setembro de 2018
Futurologia
segunda-feira, 17 de setembro de 2018
Bolsonaro é fascista
Claro que isso não garante absolutamente nada - nem que eles vão ler. O tipo de diálogo [se é que podemos chamar as brigas de facebook assim] que eu tenho visto recentemente é geralmente igual: de um lado, quem apoia o absurdo Bolsonero vociferando palavras de ordem e xingamentos, sem se importar com o que lhes é dito; do outro, eleitores dos mais diferentes espectros políticos pacientemente [e perdendo a paciência] tentando mostrar o óbvio: o quanto o ex-capitão é antidemocrático, tem apenas propostas contra o povo mais marginalizado e periférico, e só quer aumentar a violência num país já flagelado - além de ser um corrupto que recebe dinheiro da JBS em campanha e desvia verba de gabinete em benefício próprio.
Mas esse texto também é um desabafo, e serve para lembrar os partidários da democracia que, apesar de barulhentos, os apoiadores do Bolsonaro são comparativamente poucos e, claro, têm todo o direito de expor suas posições e, inclusive, votar nele. O texto não quer convencer ninguém a mudar de posição: apenas dar mais elementos para não dizer que foram enganados.
Se querem votar num candidato elitista (sim, Bolsonaro é elitista), que persegue a população mais pobre e carente, que disse em entrevista para o JN quer entrar com uma metralhadora .50 em favelas, sem se importar com a imensa maioria de moradores que vive lá por falta de opção, que quer aumentar ainda mais o número de homicídios num país que já é o campeão mundial nesse assunto, que entende ainda menos de economia, de gestão, de administração pública e terceiriza todas as suas decisões para economistas que querem repetir e aprofundar o plano do atual presidente Temer, ou para militares que querem manter seus privilégios, tudo bem. É direito de todo mundo fazer o que quiser com o voto.
Também não quero dizer que todas as pessoas que votam no Bolsonaro são fascistas todo o tempo [sim, algumas pessoas são]. Muita gente apenas está assustada com o caos institucional que o país mergulhou nos últimos anos, com a espiral de violência que parece grassar nos centros urbanos em todo o país, na esculhambação em geral da política, e querem apenas um nome que parece ser a exata antítese desse movimento. Ou seja, estão acreditando, esperançosos, numa solução rápida, instantânea, mágica. Mas não: já está bem claro, com as constantes declarações de sua incompetência, que Bolsonaro vai apenas afundar, ainda mais, o país. E uma das razões é simples: Bolsonaro é fascista.
O fascismo é um movimento político de extrema-direita nascido de início e meio do século XX, prioritariamente na Europa, que prezava pelo nacionalismo profundo, a militarização acima de outras formas de socialização e a perseguição a grupos periféricos e marginalizados [como judeus, gays, comunistas...]. Um grupo que se acreditava "superior", "puro", "limpo", "melhor" que os demais componentes das sociedades. Um tipo de comportamento que só valoriza o reflexo no espelho, e qualquer tipo diferente é rechaçado com violência - e até a morte, em escalas industriais, como foi o caso do Shoá (mais conhecido como Holocausto judeu). Duas das suas vertentes mais conhecidas dessa ideologia de extrema-direita foram o fascismo propriamente dito de Mussolini, na Itália, e o nazismo alemão, de Hitler.
Há diversos estudos de gente que passou a vida se debruçando sobre o assunto. Mas, pela praticidade, vamos pegar uma lista de características formulada pelo pensador, escritor, professor Umberto Eco. Ele citou, em um texto chamado Ur-fascismo ou o fascismo persistente, para a New York Review of Books, em 1995, 14 características que identificariam práticas fascistas. Mesmo que qualquer definição mais esquemática assim seja falha, porque não abarca todas as possibilidades de um ente ser na sua totalidade, é um ótimo passo de entrada na questão: as aproximações são bastante precisas. A elas:
1 - culto da tradição.
2 - rechaço do modernismo.
3 - culto da ação pela ação.
4 - rechaço do pensamento crítico.
5 - medo ao diferente.
6 - apelo às classes médias frustradas.
7 - nacionalismo e xenofobia.
8 - Inveja e medo do "inimigo".
9 - Princípio de guerra permanente.
10 - Elitismo e desprezo pelos fracos
11 - Heroísmo.
12 - Transferência da vontade de poder a questões sexuais.
13 - Populismo qualitativo.
Devemos ficar atentos para que o sentido dessas palavras [“liberdade”, “ditadura”] não seja esquecido de novo. O Ur-Fascismo ainda está ao nosso redor, às vezes em trajes civis. Seria muito confortável para nós se alguém surgisse na boca de cena do mundo para dizer: “Quero reabrir Auschwitz, quero que os camisas-negras desfilem outra vez pelas praças italianas!”. Ai de mim, a vida não é fácil assim! O Ur-Fascismo pode voltar sob as vestes mais inocentes. Nosso dever é desmascará-lo e apontar o indicador para cada uma de suas novas formas — a cada dia, em cada lugar do mundo.
quinta-feira, 13 de setembro de 2018
Churchill, o fascismo e as alianças
Ninguém, em sã consciência, diria que Churchill era de esquerda (hoje em dia, em tempos de "nazismo é de esquerda", temos que fazer essa ressalva). Membro do partido conservador inglês, militar, a favor de guerras, colonialista, monarquista, nacionalista, violento anti-comunista e anti-socialista, anti, enfim, esquerdista, defensor da Inglaterra acima de todas as outras nações, responsável pela morte de pelo menos 3 milhões de indianos em 1943, por conta do desvio de arroz para abastecer a nação europeia no meio da Segunda Guerra (entre outros atos controversos), Churchill facilmente poderia ser o ídolo de vários daqueles que querem acabar com a "confusão" que está "aí".
Churchill é, ainda, de uma direita vistosa, elegante, daqueles que dá até para apresentar para a mãe. Excepcional frasista, imenso orador, com um humor que é quase a síntese da verve inglesa, escritor de mão cheia, grande historiador, chegou a ser até laureado com Prêmio Nobel - de literatura (em 1953). Isso mesmo, de literatura, junto com vários do grandes escritores, filósofos e poetas do século XX, em vez de ganhar um prêmio na sua "categoria", como o Nobel da paz. Tudo o que FHC queria ter sido quando crescesse, mas não teve metade do talento.
A Alemanha invade a Polônia, o primeiro-ministro Neville Chamberlain, outro político do partido Conservador, que defendia uma neutralidade da ilha, se vê obrigado a sair (colaborou o fato, claro, de ele estar muito doente - morreu no mesmo ano; mas enfim), e Churchill, a única voz que nunca se calou, que era vista como aquele chato que repete sempre as mesmas ladainhas, se tornou, de uma hora para outra, o principal nome para assumir o governo inglês. O resto é História.
Há, contudo, um detalhe curioso nessas movimentações.
Em 1941, Hitler invade a a comunista, socialista, esquerdista União Soviética, de Josef Stalin - outro monstro do século XX. O que o conservador, tradicional, pela família, os bons costumes, e anti-esquerdista Churchill faz? Com a palavra, o próprio:
Ninguém foi um oponente mais consistente ao Comunismo nos últimos 25 anos. Eu não vou desdizer nenhuma palavra que eu falei sobre isso. Mas isso tudo desaparece ante o espetáculo que está agora se desdobrando. O passado, com os seus crimes, suas loucuras, suas tragédias, desaparecem... O perigo russo é portanto o nosso perigo, e o perigo dos Estados Unidos igualmente, assim como a causa de qualquer lutador russo por terra e casa é a causa de homens livres e povos livres em todo os quarteirões do globo.Em inglês é ainda mais bonito:
No one has been a more consistent opponent of Communism for the last twenty-five years. I will unsay no word I have spoken about it. But all this fades away before the spectacle which is now unfolding. The past, with its crimes, its follies, its tragedies, flashes away.… The Russian danger is therefore our danger, and the danger of the United States, just as the cause of any Russian fighting for earth and house is the cause of free men and free peoples in every quarter of the globe.No dia anterior à invasão, Churchill já tinha demonstrado a sua inclinação contra Hitler, não importa quem, em uma das suas frases mais famosas e repetidas: "If Hitler invaded Hell, I would make at least a favourable reference to the devil in the House of Commons" (Se Hitler invadir o inferno, eu faria ao menos uma declaração favorável ao diabo no Parlamento).
Há momentos em que mesmo o mais conservador entre os conservadores percebe que entre o "perigo vermelho" e o fascismo, não há dúvida sobre qual lado devemos tomar. Há momentos extremos em que ou se é nazista ou se é judeu - não há terceira alternativa.
sábado, 8 de setembro de 2018
O fenômeno Bolsonaro e a iconoclastia dos tempos
quarta-feira, 5 de setembro de 2018
Sampa
São Paulo parece o retrato do fim do capitalismo.
hotel chique no centro
Rua Ipiranga, quase esquina com São João
quarto com banheira e os caralho
do lado tem um Mcdonald
do outro, um habib
ao lado do habib, aquelas cabines de vídeo pornô particulares
em seguida, uma lanchonete com um sanduíche de pernil excelente e suco de cupuaçu, cujo banheiro é frequentado por gente que cheira de tarde
um garçom é boliviano
os demais são paulistas filhos de nordestinos
dobrando a esquina, outros restaurantes populares
sendo um do Senegal
em frente, uma bandeira do Peru
o céu, cinza
a garoa frequente
o ambiente degradado
como se o capitalismo tivesse dado "certo" aqui
o capitalismo no seu último estágio - em que todos são zumbis, o céu é cinza, a chuva ácida, as comidas são bem servidas, e tem dinheiro para todo mundo
eu to numa relação tão em desarmonia com o Rio
que até isso, até esse encontro, está me fascinando