sexta-feira, 7 de março de 2003

Querido Papai do Céu,

Desculpe-me pedir alguma coisa para o senhor. Eu sei que o senhor deve estar um pouco atrapalhado com um montão de gente pedindo coisas para o senhor, mas é que é muito importante.

Eu sei, também, que não fui um bom menino ano passado, sei que fiquei de recuperação em matemática no colégio, sei que quebrei o vaso preferido da minha mãe na páscoa passada, que impliquei muito com o meu irmãozinho o ano inteiro, mas eu preciso pedir isso para o senhor.

O senhor deve imaginar já. Eu gostaria de pedir para o senhor acabar com o carnaval. Todo ano é a mesma coisa. A gente viaja, meu pai, minha mãe, meu irmão e eu, para a praia. É uma praia enorme, grandona mesmo, cheia de gente. Não, nada contra a praia, eu adoro ir para a praia. É que meu pai e minha mãe sempre brigam no carnaval.

Minha mãe reclama a toda hora das mulheres da praia. Dizem que são umas oferecidas, mas eu não sei o que é isso não. Diz também algumas palavras feias, mas eu não tenho coragem de dizer isso aqui para o senhor. Mas o senhor deve imaginar.

A gente chega na praia e o meu pai pede uma cerveja. E fica pedindo mais cerveja sempre que a cerveja que ele estava bebendo acaba. Ele pede cerveja da hora que chegamos até a hora que vamos embora.

Às vezes, quando minha mãe sai de perto para ir na água com o meu irmão, ou para ir ao banheiro, ele me aponta uma moça e diz que ela é muito gostosa. Um dia, meu pai aproveitou a ausência da minha mãe e chamou uma dessas moças. Queria porque queria falar alguma coisa com ela, mas a moça não parou. Meu pai falou um palavrão. Não sei se foi para ela, para o ar ou para mim.

Da última vez foi pior. Quando a moça que traz a cerveja apareceu com mais uma latinha, meu pai a segurou pelo braço. A moça conseguiu se soltar e saiu correndo lá para dentro. Minha mãe chegou da água com Augustinho, o meu irmão o senhor deve saber, e disse que tinha visto tudo. Dessa vez, eles nem brigaram, ela me puxou com um braço e com o outro carregou Augustinho e fomos embora. Meu pai ainda gritou alguma coisa, mas eu não consegui escutar direito.

Na casa da praia, ela pegou algumas roupas, colocou dentro de uma bolsa e me puxou pelo braço para o carro do papai. Agora, acabamos de chegar em casa, e eu estou escrevendo para o senhor.

Eu acho que o senhor poderia acabar com o carnaval porque, não é que eu não goste da praia, a gente podia ir para a praia outras vezes, mas é que meu pai sempre briga com minha mãe. E piora nessa época. Acho que se não houvesse o carnaval, os dois brigariam menos e ela não estaria agora chorando para caramba.

Muito obrigado, Papai do céu. Eu sei que o senhor vai atender o meu pedido. E prometo estudar mais esse ano para passar de ano direto.

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