Na minha tese, brinco que o niilismo virou o último lugar de fala do homem-branco-hétero-cis. Seria apenas uma blague se o modo de pensar desse personagem, que se acha a maioria, não estivesse ainda no comando do mundo atual. Por isso que o niilismo ainda é contemporâneo.
Talvez não o niilismo da falta geral de sentido, que é o modo mais comum de entendê-lo – ou não apenas esse. Mas uma busca incessante para encontrar um fim para a vida, mesmo que seja o fim da vida. E estão aí religiões castradoras e trabalhos entediantes que não me deixam mentir.
Como não ter um sentido gera muita angústia, e podemos perceber isso em pessoas que sofrem de depressão, aqueles que acreditam nos paradigmas de sucesso do mundo contemporâneo precisam encontrar algo para dar um motivo para as suas vidas. Mesmo que seja um sentido asfixiante.
Nada contra saborear pequenas vitórias no cotidiano – e essa é provavelmente uma das formas de sobreviver nesse mundo –, nem contra certas concessões que devemos fazer para continuar funcionando enquanto a ~~revolução não vem e tudo mudará. Mas certas escolhas são derrotas dadas, antecipadas.
Quando optamos por uma vida em prol unicamente de reconhecimento externo, em vez de buscar realizar nossos desejos mais íntimos, estamos bem perto de cometer um longo e sofrido suicídio. E essa morte em vida é uma das formas mais simples de definir o que é esse niilismo hoje.
Por isso que é comum em diversos filmes bem populares que um personagem quando se descobre à beira da morte comece a, finalmente, viver tudo aquilo que ele sempre quis viver, mas nunca teve coragem para tal. Ironicamente, apenas ao fim da vida, que ele reconhece o seu valor.
Vamos falar sobre esses e outros temas correlacionados no meu curso Niilismo hoje, que será realizado na Acaso Cultural, uma casa de cultura que começou a funcionar numa construção histórica linda em Botafogo. Inscrições aqui.
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