terça-feira, 29 de março de 2005

A culpa católica

Vivemos num país que faz jejum de carne vermelha na sexta-feira da paixão porque (acha que) esta representaria a própria carne do filho do hômi. Depois, descobre-se (eu incluído) que é porque se o sr. Nazaré, filho, sofreu tanto por nós que vale a pena o sacrifício de comer peixe em um dia específico no ano por ele? O argumento clerical é este.

No feriado, por coincidência, assisti a duas produções com pano de fundo em comum: a mundialmente famosa igreja apostólica romana. Para tanto, elas utilizam um dogma dos mais característicos. A necessidade das boas ações para se entrar no céu e manter-se à distância do seu antagonismo.

Releve-se o caráter lúdico, abstraia o universo HQ e analise uma ou outra ação de Sr. Constantine, no filme que leva o seu nome. Ele faz o "bem", não porque pensa dessa forma, mas porque tem como objetivo evitar a sua condenação às chamas infernais - já que ele é um suicida. Entretanto, em um dos diálogos com o andrógino Gabriel (não discutamos o sexo dos anjos), o ser angelical argumenta que tais ações só valerão quando forem intrínsecas ao ser humano. Enquanto ele agir para "se dar bem", não haverá perdão.

De certa forma, com bastante abstração, pode-se chegar à mesma conclusão do comportamento de Frankie Dunn em "Menina de Ouro". Ele quer entender como funciona esse negócio de Santíssima Trindade, ou como ocorreu a concepção de Jesus. Mas, principalmente, ele quer a filha de volta. Carrega um peso absurdo por ela ignorar suas cartas enviadas religiosamente em cada semana. Assim, transforma-se num ser que tenta não expor nenhum de seus próximos a eventos que podem trazer qualquer tipo de decepção. Ou que podem culpá-lo por qualquer de suas atitudes.

Constantine não se sente culpado, pois o fato de ter cometido suicídio não o atormenta. Mas ele age para resgatar a sua alma da condenação.

De certa forma, TODAS as religiões baseam-se em códigos de condutas. (Budismo é uma exceção: não há nenhum Deus e crê que suas ações voltam para vc, nesta ou em outra encarnação). O que torna o católico um espécime a ser analisado é exatamente a culpa e a sua face mais caricata, o pecado.

As religiões - e o catolicismo é um exemplo disso - não possuem respostas para todas perguntas. Deve-se crer. Ter fé. Sabemos o que não devemos fazer, mas como agir? Interpretações da Bíblia são tantas quantas as igrejas que são criadas todos os dias.

Não creio haver nada mais difícil (de se entender) que a própria fé. Gastar meus poucos neurônios com isso não faz sentido.

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