segunda-feira, 6 de março de 2006

Quando crescer, quero ser Sufjan

Se você tivesse dinheiro suficiente para comprar apenas um CD de música para o resto da vida, neste exato momento eu aconselharia um sujeito de nome estranho: Sufjan Stevens. Falar que ele faz "folk" é resumir muito o trabalho do moço, mas não se pode negar a paternidade de suas músicas. O issue é que ele usa tantos e tão variados instrumentos que em certas músicas parece até música clássica. Ou, como Ana Maria Bahiana precisamente escreveu na Bizz, "Pop de câmara".

Aliás, o texto dela é sensacional. Ela diz que "hoje, quando o ritmo, no tambor de transe da música eletrônica ou no stacatto de impropéios do rap, impera acima de todas as coisas, eu me vejo ansiando por melodia", juntando no mesmo texto Calexico ("sua sonoridade, tão perfumada de sálvia, mezcal e poeira do deserto encheu minha alma como os ventos de Santa Ana"), Hem ("o Hem não soa, flutua") e explicando toda a história desse sujeito que foi achado na porta dos pais, em 1975, em Michigan.

"Tinham me jurado que Sufjan Stevens era filho de Cat Stevens, e, com esse nome (tomado emprestado de um poeta/místico Sufi), eu até acreditei. Mas a história verdadeira era ainda mais bizarra: este nativo de Michigan vem de uma fam¡lia de hippies com uma passagem por uma radical seita muçulmana - daí o nome. De sua criação Sufjan guardou a inclinação m¡stica por tradições abrâmicas - a primeira parte de sua carreira foi com o grupo de gospel avant-garde Danielson Famile - mas há outra explicação para seu extraordinário talento como compositor, arranjador e multi-instrumentista, capaz de tocar 20 instrumentos diferentes com exatamente o mesmo brilho, todos tecidos impecavelmente em arranjos complexos que ecoam Steve Reich e Philip Glass. Como ourives de melodia, é difícil achar outro em sua geração. Como conceitualista, felizmente sua ambição‚ é igual ao seu talento - seu grande projeto ‚ criar um álbum para cada estado americano (algo que They Might Be Giants também anunciou mas jamais cumpriu). Entretanto, com canções sobre super-heróis, assassinos em série, amigas com câncer e Al Capone, seus flagrantes tem voado muito mais além da mera exploração geográfica."

Bem, como o sujeito fez sucesso em 2005, pode parecer velho para alguns. Para quem não se importa com a idade de música, aproveite. Ana Maria diz que é de fazer qualquer marmanjo chorar. É mesmo.

fotos: Allmusic.com

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