sábado, 27 de janeiro de 2007

Como virar uma partida praticamente perdida

Vou contar toda a saga cronologicamente porque faz mais sentido. Saí correndo do trabalho para conseguir chegar antes do horário marcado para o início do show. Chegando ao Metropolitan (ah, não é esse nome mais?), descobrimos que só havia uma bilheteria, do lado de fora do shopping (uma casa de show não pode ficar num shopping). Havia somente uma fila, IMENSA, na hora que, em tese, a apresentação deveria começar (por sorte atrasou). Descobri, em alguns instantes, que a fila era única, mas as formas de pagamento, não. Ou seja, quem só tinha cartões, deveria dar passagem para quem tinha dinheiro. Isso fazia do ambiente, já nitidamente tenso porque estávamos todos atrasados e porque era habitado, principalmente, por estar apinhado de gente que se acha mais importante que o do lado, sem nenhuma razão importante para tal, um local não muito pacífico.

Certo momento, o segurança gritou “quem vai pagar em dinheiro, passa a frente”. Uma garota demorou e uma outra, três pessoas atrás dela, empurrou o grupo. A da frente não pensou duas vezes, empurrou de volta, atingindo a de trás. Começou uma discussão que só foi apartada pela galera do deixa-disso instantes depois. Houve outras confusões, outros empurras-empurra, outras discussões grosseiras, mais demonstrações de falta de educação, até que um cara perguntou quem ia pagar com um cartão “x”. Eu poderia pagar, caso isso me adiantasse. Fui em direção ao caixa, duas pessoas à minha frente. Clima tensíssimo, pessoas ainda se estranhando, outras se xingando, faltava muito pouco para haver uma brigalhada geral. Demora enorme, chega a minha vez. O cara tenta uma, duas, três, quatro vezes e diz que não dava, não estava passando. Logo na minha vez. Peço para R. ficar em outra fila enquanto eu ia pegar dinheiro para tentar a alternativa. No caminho penso seriamente em desistir da idéia de vermos o show. Já estava achando que não valeria a pena pagar tão caro – literal e metaforicamente falando – para assistirmos a Ben Harper. Como é presumível, nada contra ele, tudo contra a organização.

Volto em poucos minutos, ela nem tinha se mexido, tão grande era a fila dela. Vamos para outra, a de cash. Na nossa vez, a moça preenche o verso do ingresso calmamente, como se o show fosse somente na semana que vem. Descubro com um camarada que a apresentação ainda não começou e corro com R. para chegarmos o mais rápido possível.

Entramos e percebo que a casa estava lotada. Não sei se todos ali conhecem o cantor, compositor e multiinstrumentista californiano, eu mesmo me considero um leigo, por só ter quatro CDs dele, mas o que me chama a atenção é que o clima continua tenso. As feições das pessoas estão fechadas, nervosas. Penso que não deveria ter vindo. Teoricamente tinha que dormir, no dia seguinte faria uma operação.



Estacionamos em um ponto que poderíamos tentar ver o palco sem a ajuda do telão. Em poucos instantes ele sobe ao palco, calmamente, sem parecer um sujeito conhecido em meio mundo, low-profile como sempre pareceu ser. Senta em seu banquinho, cata a sua guitarrinha de colo e arrebenta em “Ground on Down”. O povo, ato reflexo à música, começa a sacudir. É automático, mesmo que eles não quisessem, não daria para ficar imune àquela combinação baixo-bateria-guitarras-teclados-percussão. Aliás, a banda merece um parágrafo à parte.



Todos são grandes músicos que acompanham à perfeição a montanha-russa do repertório que vai do hard-rock que não faria feio frente a nenhum Jimmi Hendrix, passando pela soul, gospel, até chegar ao reggae de Bob Marley. Todos têm o seu momento de solo, seja o percursa (Leon Mobley), o supermegahiperbaixista (Juan Nelson), o tecladista (Jason Yates), o batera (Oliver Charles) ou o guitarrista (Michael Ward). Todos se doam para a música, não querendo aparecer mais que ninguém – isso incluindo também, claro, Ben Harper.

O show começou, então, porradeiro. Solos grandes, encorpados, Harper tirando todas as notas possíveis da sua guitarra de colo. Pouco depois, R. começa a passar mal, pressão baixa. Tivemos que sair da área do som e, outra situação péssima. Para comprar uma água havia uma (outra) fila imensa. Depois de esperar uns 20 minutos para ser atendido, descubro que eles não vendiam tíquetes de bebidas, você tinha que comprar o que queria na hora e se quisesse mais, teria que enfrentar novamente toda a fila. Compramos, de uma vez, quatro águas então. Pensei que não era para termos vindo. Tudo estava dando errado.

Voltamos ao show, mas completamente fora de sintonia. Nem me lembro direito quais nem que músicas ele tocou até o fim (a última, foi a mesma de sempre “With my own two hands”). Estava desatento. Quando os músicos saíram do palco, cogitei fortemente ir embora. Era tarde, deveria acordar às 7h do dia seguinte, para fazer uma cirurgia, não creio que era aconselhável dormir tão pouco. Mas o pouco de teimosia que carrego comigo me impediu de sair. Uns 15 minutos depois (tempo suficiente para burn one down), Ben Harper volta solo, para um momento voz e violão. Músicas belas, mas que não me marcaram. Depois, os outros instrumentistas voltaram aos seus postos. E, então, toda a minha expectativa mudou.



Houve o momento homenagem ao Brasil, quando ele anunciou que a música composta há quase dez anos, quando ele veio pela primeira vez para o Free Jazz. Houve o momento participação especial com a presença do Donavon Frankenreiter, o pupilo do pupilo Jack Johnson, e de Matisyahu, o judeu ortodoxo do reggae, hip-hop e ragga, ambas beeem legais. Mas o melhor momento foi o da oração. Ponto parágrafo.

No único instante em que ele cantou uma música (“Where Could I Go”) do meu álbum favorito (o que ele canta com os Blind Boys of Alabama) há uma diminuída ao fim da música. Ben pede para que o público faça silêncio, o público demora a responder – não são, na sua maioria, muito educados – e começa a cantar / rezar fora do microfone, como um pastor de uma igreja à beira do Mississipi. Costumo dizer que a minha religião está na música, mas há certos artistas que levam isso mais a sério. Harper, principalmente nesse CD, e, durante o show, especialmente nessa música, ele conseguiu chegar próximo do transcendental. O público observava atônito, boquiaberto, querendo aplaudir a cada pausa para ele pegar mais fôlego, mas ele pedia para acabar o seu hino primeiro. Eu sei que ele usa o mesmo “artifício” em todos os shows, mas comigo, funcionou perfeitamente.

Depois, partida já ganha, de virada, o clima foi se apaziguando, aterrissando, até que, inexplicavelmente, as luzes da casa se acenderam, durante o cover de “Get up, stand up”. Todos os músicos se enrolam na mesma bandeira do Brasil e Ben Harper pede para falar umas últimas palavras para o público. Em primeiro lugar, ele se desculpa por estar falando em inglês. Em seguida, ele diz que ainda tinha muitas músicas para tocar, mas que tinha que terminar. Agradece ao público brasileiro por acompanhar todas as músicas tocadas com o mesmo vigor. Ele diz que para seguir os “Innocent Criminals” não é nada fácil. Diz que isso não se encontra em todos os lugares. Poderia ser mais um desses elogios lugar-comum, tão ao gosto dos artistas gringos que vêm ao Brasil, mas não parece o caso para um sujeito que vai fazer um “diários de motocicleta” no Brasil até o carnaval.

ps. Caetano Penna sugere um excelente vídeo dO Momento do show. Voto.

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Chico e eu

Conheci Francisco Buarque de Hollanda há, razoavelmente, pouco tempo. Estava já na faculdade (a primeira). Ou seja, não sou daqueles que cresceram com os pais escutando os discos dele. Contudo, quando o ouvi, liguei o nome à pessoa, como dizem. Foi numa dessas exposições da Imagem do Som, no Paço Imperial, nos idos de 1999. Cheguei lá, coloquei um fone e, durante a execução da música, me deliciei com as imagens produzidas. Impressionei-me sobremaneira.

Tudo isso para dizer que fui ao show dele, neste último domingo. Foi bom, mas não excelente. Ele tocou músicas que adoro ("Morena de Angola" [lembro que a "imagem", na exposição, era uma mulher morena com apenas uma das pernas], "Futuros amantes", entre várias), e outras do novo CD, "Carioca".

Minha teoria é que Chico está "abandonando" a poesia para adentrar na prosa. E isso se reflete até nos arranjos de suas músicas. As letras parecem não fluir. As métricas são esquecidas, o ritmo sumiu. Mesmo assim, a média de suas canções é altíssima, vide "Ode ao rato", a única canção mais moderna e a melhor do "Carioca". Eu que me decepcionei.

E foi um típico show do Chico. Mulheres gritando, platéia com o Caetano presente e até uma fã mais corajosa que subiu no palco e tascou um beijo no cantor.

Aliás, em falando no mano Caê, tenho outra teoria: o baiano seria um músico que se adaptou ao tempo percorrido, enquanto Chico virou um especialista em um tempo, isso, claro, sem desmerecer nem um nem outro. Mas essa teoria é papo para outro dia...

Co-incidências

"Foram apenas 36 anos de vida para deixar marcas musicais e pessoais tão poderosas que muitos sustentam com convicção que ela foi a maior cantora da música popular brasileira. "

Elis Regina, 25 anos após a sua morte, consegue que duas pessoas, de diferentes lugares, escrevam uma primeira frase exatamente igual, sem tirar, nem pôr.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

Links legais

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