domingo, 29 de março de 2009

Co-incidências históricas

Ele não escreveu nada em vida, tendo passado o seu conhecimento para as futuras gerações por meio das anotações de um discípulo (que, aliás, pode ter inventado tudo). Foi condenado à morte porque desagradou os hierarcas da cidade onde morava, principalmente os homens da religião. Já na cadeia, tem a oportunidade de escapar ileso, mas acredita que se sobreviver à sua condenação estará renegando tudo o que pregou durante a sua vida. Era um homem averso aos bens materiais, vivia na pobreza, e prezava que o mais simples dos homens tivesse tanto poder quanto o mais rico.

Mesmo sem saber, parece que todos já conhecemos a história de Sócrates.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Woody Allen, lagostas e Bernie Madoff

Nem li. Mas esse início é impactante:

"Two weeks ago, Abe Moscowitz dropped dead of a heart attack and was reincarnated as a lobster."

Daqui. Via aqui.

sábado, 21 de março de 2009

Radiohead, Apoteose, 20 de março de 2009


Confesso que chorei. Confesso que pulei, que gritei como se estivesse sozinho, aos 15 anos, no meu quarto. Ao fim do show do Radiohead, na Apoteose, dia 20 de março de 2009, não me sentia feliz e satisfeito, apenas. Me sentia pleno. Como se pudesse ficar ali, apenas digerindo tudo o que eu tinha visto, sem fazer nada pelas próximas horas.

Mesmo que não tenha tocado "aquela música", porque não dá para tocar todas as faixas de sete discos de estúdio, ao fim, sabia que poderia ir para casa. Estava completo, não faltava nada mais. Posso morrer agora.

Desconte o fato de eu ser uma tiete. Dessas que clica em foto do Thom Yorke meditando na praia ou do Ed O'Brien visitando o Afroreggae. Mas a questão é metafísica, foge dos parâmetros normais da razão. Como eu iria saber que meus olhos iriam encher de lágrimas com "Airbag", logo a segunda música? Para mim, aquela guitarra que imita um cello remete ao início de "OK computer", portanto, o começo do regojizo. E, por si só, já um motivo para a contemplação.

Não tinha como prever também que o meu corpo tomaria vida sozinho e começaria a se remexer ao som de "Idioteque" para o espanto da plateia bem comportada que me circundava na arquibancada - aliás um ponto positivo (poder assistir sem precisar levantar a cabeça nem os pés) e um negativo (os seguranças implicando para não se debruçar na grade).

E o que dizer de "Paranoid Android", aquela miniópera pop-contemporânea, provavelmente uma das 20 melhores músicas de todos os tempos do universo rock and roll? Sem uma gota de álcool no sangue (filas quilométricas, preços proibitivos), me senti inebriado. Respondi, como um hipnotizado, às guitarras de O'Brien e Jonny Greenwood, o mago dos inúmeros instrumentos.

Aliás, o Radiohead, esse quinteto de Oxford, parece ter, no mínimo, o dobro de integrantes. Por usar os recursos que a eletrônica lhes permite e recriar versões mais eletrizantes de músicas como "How to disappear completely" ou "Everything in its right place"; ou por mexer com outros instrumentos "mais tradicionais", como um percussão que O'Brien toca em "There there" ou o piano que Yorke toca, por exemplo, em "You and whose army".

Isso sem contar que o momento atual da banda é histórico. "In rainbows" é um orgulho dentro da discografia do grupo. "Faust arp", "All I need" e "Reckoner", sem ordem, devem - no sentido de tem que - figurar nos futuros set lists da banda, mesmo após outros muitos álbuns lançados. (Confira o que tocou.)

É muito difícil (em ambos os sentidos - de ser profundo e de ser raro) ver a maior banda do momento, ou melhor, o maior acontecimento pop do mundo contemporâneo, no auge do seu amadurecimento, quando já consegue mesclar, música sim, música não, simples canções complexas com o peso da guitarra de hits para a arena.

Foi escolhida "Creep" para ser a música para o desenlace. Nada melhor para coroar uma geração que acreditava ser estranha e não pertencer a esse lugar. Mas que se sentiu bastante à vontade na Apoteose ontem.

Fotos: Marcos Hermes / Divulgação