Falar que a ideologia acabou já virou rotina. Demonstrações do fim dos ideais são fáceis. Descobrir em qual campo a política está atuando é que é o complicado. Principalmente no Brasil.
Normalmente todos os políticos aparecem na TV ou tem seus rostos estampados nos outdoors ligados à tríade de palavras que, parecem, abrir todas as portas: saúde, educação e segurança. Como recurso de visualização, podemos citar um presidente que dizia fazer “tudo pelo social”. Lembram?
E é bem comum, também, que, ao serem empossados, esses mesmos governantes, que lutam por uma vida mais igualitária, que querem acabar com as disparidades sociais brasileiras, quando assumem os cargos públicos os quais foram eleitos, se tornem econômicos (com os famosos cortes para zerar a conta) nessas pastas. Hoje em dia o grande “vilão” se chama lei de responsabilidade fiscal. Mas, com certeza, já houve outros culpados.
Então, chegamos numa nova eleição, em ano de copa do mundo de futebol, e temos que eleger presidente, governador, senador e deputados federais e estaduais. Todos terão as mesmas posturas ditas de “esquerda” e atitudes de “direita”. E teremos encontros no mínimo curiosos. Maluf desprezando o PT para atacar o Alckmin, os ex-inimigos declarados ACM e Ciro apertando as mãos para os fotógrafos e (esse eu espero ansioso) o Quércia abraçando o Lula.
Para o governo do Rio não teremos nenhuma surpresa. A dita esquerda, com seus quinze candidatos de sempre, e a direita representada por uma mulher só. Aliás, essa será a eleição das mulheres. Serão três: Benedita da Silva (atual governadora em exercício), do PT, Rosinha (ex-Matheus) Garotinho do partido do marido, PSB e a Solange Amaral, apoiada pelo prefeito da capital, do PFL. Além do prefeito de Niterói, filho do ex-governador do estado, Jorge Roberto Silveira, do PDT.
Bené terá ao seu favor todo o poder da máquina admistrativa. Mesmo ela tendo ficado por pouco tempo no governo, e não tendo feito nada de importante para mostrar em seus programas, ela pode argumentar que em oito meses (o período que ela permanecerá no poder) não dá tempo para consertar toda a lambança que o seu antecessor fez. Bené terá também os votos cativos na legenda do seu partido, mas amargará os descontentes com o seu nome, considerado muito leve para um petista.
Rosinha Garotinho, como seu próprio nome diz, vai deixar que a candidatura e a exposição de seu marido a empurre para frente. Como ela nunca teve experiências em cargos públicos, ela deve se comportar como um coco na maré. Vai estar sempre ao lado do presidenciável e responderá as eventuais perguntas de repórteres iniciando com: “eu, enquanto (sic) mulher do criador do piscinão de ramos...”.
Talvez a candidata do PFL seja o político menos conhecido de todos. Por mais que tenha experiência pública, ela não é casada com nenhuma figura do ramo, não é filha de ninguém do ramo, nem é favelada, pobre, preta e casada com artista global. Ela é a queridinha do atual prefeito do Rio (e criador profissional de factóides) César Maia. Secretária de Governo dele, ex-vereadora seu nome ainda não tinha sido explorado para fora dos limites da capital. Provavelmente ela vai incorporar o discurso de um governo responsável e maduro, com linguajar técnico e econômico. Bem ao estilo do seu padrinho.
Já o Jorge Roberto Silveira vem de um governo com alto índice de aprovação popular, lá do outro lado da poça. No seu terceiro mandato de prefeito de Niterói, ele conseguiu colocar a cidade com uma das melhores qualidades de vida do estado. Junte a isso um pai governador lembrado por oito em dez pais como um dos melhores governadores do estado da Guanabara e temos um ótimo candidato. O seu calcanhar de Aquiles é o seu secretariado que nem sempre se opõe ao “jeitinho” e conhece bem as frases “levar o por fora”, ou “o da cerveja”. O PFL adora usar esse tipo de informação e, com certeza, usará.
Porém na TV (é óbvio que) todos aparecerão carregando criancinhas no colo, conversando com velhos e se mostrando simpático com todos que os cumprimentarem. Os que estão no poder exaltaram seus feitos, e os que não estão meterão dedos em feridas. Todos falarão mal da segurança, uns culpando aos outros, e não chegarão a nenhum consenso. Os programas de governo (se existirem) não fugirão do clichê social. Enfim, todos terão os mesmos rótulos estampados na testa. O problema dessa vez será a ausência de diferenças gritantes no conteúdo.
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