segunda-feira, 30 de dezembro de 2002

de maneira prática, muitos dos argumentos utilizados para influenciar alguém que não é acostumado a ler livros a fazer esse sacrifício são fracos quando não distantes de carga racional. diz-se que ao ler o livro o sujeito ganha em conhecimento, que pode vivenciar outras realidades, que se tornará uma pessoa culta.

o problema é que esse tipo de argumento ligado ao crescimento intelectual é deveras relativo, pois não existe nenhuma ligação direta entre a quantidade de livros lida e qualidade de informação depreendida. é bem provável, pode-se dizer sem sombra de muito erro, que pessoas consideradas cultas leiam bastante, mas não é raro, ainda mais hoje em dia, encontrar grandes pessoas com vasta cultura e raciocínio para lá de lógico que têm uma certa - como direi? - aversão aos livros.

não se pode fazer também uma escala de acordo com o número de livros lidos. como algo assim, sujeito leu 5 livros, logo ele é mais culto e inteligente do que aquele que leu apenas 4. existem muitas outras variáveis que intereferem de maneira direta nesse jogo para que seja resumido assim.

ou seja, de todos os argumentos, por mais que sejam de ótimas intenções, não convencem ninguém que não queira ser convencido. ainda mais se falarmos que vivemos numa geração em que, para prender a atenção dos espectadores, deve-se propor novas idéias e motivações a cada 4 segundos. a televisão, mtv, e propagandas em geral estão ai que não me fazem mentir. é uma estética em que nós, a garotada, não estamos acostumados. se não existir nada que fale a língua exata, a gente muda de canal. fácil como um zapping.

para citar um leitor dos mais gananciosos, se eu não estiver enganado (o que eu duvido), borges disse certa vez que há duas maneiras de reter conhecimento, através dos livros e vivendo o que os livros contam. mas, mesmo a frase definitiva do argentino é relativa. como poderemos afirmar que ele está certo, tirando o fato do escritor ser um dos homens mais inteligentes do século xx (pausa para dizer que o próprio conceito de inteligente é relativo, principalmente ao considerarmos o objeto de estudo que nunca teve uma família das tradicionais, com filhos e uma esposa que viveu durante anos etc etc etc)

o que me chamou a atenção no último final de semana, e é apenas um chute no escuro, é que, como já foi afirmado por diversos pensadores, dentre eles o divisor de águas da psicanálise carl jung, o humano só consegue produzir pouquíssimas variações de temas. ele - jung - chamou de arquétipos humanos. o próprio borges dizia-se um amontoado de referências, numa ligação direta com a falta de originalidade do mundo e dos humanos. porém, o escritor argentino também afirma ao longo de sua extensa obra que é impossível haver alguma cópia de qualquer coisa que seja. por mais que se fotocopie um documento, o final não será exatamente igual ao primeiro, pois estará em outro local no mesmo espaço de tempo, logo sendo outra coisa. um outro exemplo tátil é tentar copiar um arquivo ou pasta dentro do sistema windows. é impossível colocar o mesmo nome do primeiro, no máximo o chamará como cópia do arquivo original.

bem, com isso, para voltar ao tema inicial, basta entender que se o ser humano é finito nas suas invenções, e que poderemos conhecer todas essas variações sobre o mesmo tema, basta lermos sobre essas variações, que povoam a cabeça de todos os ficcionistas, e poderemos aprender em segunda-mão sobre o próprio ser-humano, assim sendo, vc mesmo.

é claro que para acreditar nisso tudo, deve-se ter fé em algo impalpável, como a teoria do jung dos arquétipos. quem me provará que ela é verdadeira senão eu mesmo? mas, com isso em mente, basta seguir um raciocínio lógico para chegar a uma conclusão óbvia, livros trazem conhecimento.

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li em mais de um jornal hoje que a ciência nada mais é do que uma religião disfarçada. acredita-se cegamente na razão. interessante isso.

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