problemas fúteis do dia-a-dia
hoje é aniversário de um grande amigo meu. ele vai organizar uma reuniãozinha bancada pelos amigos na casa dele, de noite. tenho que ir numa peça de teatro porque consegui ingressos de graça e tenho que conversar com um dos atores. vai passar no odeon alguns filmes bacanas - inclusive "videodrome" do cronenberg que nunca vi em locadora nenhuma - na maratona por apenas 6 reais, sem carteirinha. amanhã tenho que estar 11 horas no ccbb, inteiro, apenas para ver o resultado da oficina de vídeo digital. hoje, ainda, tenho que entregar fitas de vídeo com multa que não entreguei ontem, porque um dos camaradas que moram lá em casa na república não as tinham visto. e agora, vai querer que eu entregue (e pague a conta extra). agora, tenho que ligar para a menina que organiza a minha festa de formatura e pedir mais convites para a tal. isso sem saber se os meus amigos que deveriam depositar a grana, o fizeram. amanhã, como dito, é a minha festa de formatura. e que acabará tarde. no domingo, cedo, é o churrasco do meu amigo que faz aniversário hoje. e não tenho dinheiro para ir.
problemas, apenas problemas fúteis do dia-a-dia.
sexta-feira, 31 de janeiro de 2003
terça-feira, 28 de janeiro de 2003
participei da colação de grau da turma que comecei a estudar na faculdade, há quatro anos atrás. claro que não me formei, pois faltam algumas matérias. fiz um discurso sobre o homenageado, acho que já até coloquei aqui, mas se não...
Essa é a terceira formatura da faculdade de comunicação social da uerj (a fcs) que participo. E a primeira aqui de cima do palco. Nas outras estava apenas assistindo. Lembro que ri para caramba com todas as piadas internas que só quem freqüentava os corredores da fcs entenderia. E aprendi, no ano passado, o significado exato do que era o patrono da turma. Mas é claro que não vou repetir esse ano, pois é óbvio que não me lembro exatamente das palavras proferidas no último janeiro. Sabem como é que é, passou um ano de faculdade, bares, festas, essas coisas...
Bem, resumidamente, o patrono é o homenageado mais importante dessa noite. O sujeito que a turma leva o nome. A pessoa que escolhemos como nosso representante, nosso ídolo, um exemplo a ser seguido. Em poucas palavras, ele é “o” cara.
E com o tamanho da homenagem, vem o peso da responsabilidade que isso acarreta. Que pode ser traduzido, sem sombras de muitos erros, pelas brigas que ocorrem em qualquer reunião de formatura quando o assunto é patrono. Principalmente quando temos dois cursos se formando. Cada um lembra de um profissional que, acha que, representa perfeitamente o espírito da profissão que acaba de aprender. E nossa turma não foi diferente.
Posso afirmar, e se não confiarem em mim pode perguntar para qualquer um desses aqui sentados, que não houve unanimidade no início. Mas ao sugerir o nome do nosso patrono, todos chegamos a um consenso. Dos mais radicais até os mais desligados, dos mais xiitas até os zen-budistas, dos coorporativos até os anarquistas, todos nutrem alguma admiração por Luiz Fernando Veríssimo.
Junto a isso, LFV, para quem não sabe, trabalha como jornalista, colunista para ser mais preciso, em alguns jornais brasileiros. De cabeça lembro agora do O Globo, do Estadão e do Zero Hora, de Porto Alegre. Logo, todos os jornalistas aplaudiram a escolha do gaúcho. E para convencer os relações públicas da escolha dele, o argumento foi um pouco mais objetivo, disseram (fui eu que disse, mas se eu colocar na primeira pessoa, perco toda a credibilidade até agora conquistada), que ele é uma das únicas pessoas que sabiam o que era o RP.
Para comprovar isso, vou ler agora uma das colunas que melhor retratam esse grande dom do LFV. (aliás, um pequeno e último parênteses. Quando disseram que eu seria o cara da homenagem ao patrono, fiquei preocupado em achar uma crônica que resumisse bem o espírito da escolha do grupo. No mesmo dia, saiu essa)
Essa é a terceira formatura da faculdade de comunicação social da uerj (a fcs) que participo. E a primeira aqui de cima do palco. Nas outras estava apenas assistindo. Lembro que ri para caramba com todas as piadas internas que só quem freqüentava os corredores da fcs entenderia. E aprendi, no ano passado, o significado exato do que era o patrono da turma. Mas é claro que não vou repetir esse ano, pois é óbvio que não me lembro exatamente das palavras proferidas no último janeiro. Sabem como é que é, passou um ano de faculdade, bares, festas, essas coisas...
Bem, resumidamente, o patrono é o homenageado mais importante dessa noite. O sujeito que a turma leva o nome. A pessoa que escolhemos como nosso representante, nosso ídolo, um exemplo a ser seguido. Em poucas palavras, ele é “o” cara.
E com o tamanho da homenagem, vem o peso da responsabilidade que isso acarreta. Que pode ser traduzido, sem sombras de muitos erros, pelas brigas que ocorrem em qualquer reunião de formatura quando o assunto é patrono. Principalmente quando temos dois cursos se formando. Cada um lembra de um profissional que, acha que, representa perfeitamente o espírito da profissão que acaba de aprender. E nossa turma não foi diferente.
Posso afirmar, e se não confiarem em mim pode perguntar para qualquer um desses aqui sentados, que não houve unanimidade no início. Mas ao sugerir o nome do nosso patrono, todos chegamos a um consenso. Dos mais radicais até os mais desligados, dos mais xiitas até os zen-budistas, dos coorporativos até os anarquistas, todos nutrem alguma admiração por Luiz Fernando Veríssimo.
Junto a isso, LFV, para quem não sabe, trabalha como jornalista, colunista para ser mais preciso, em alguns jornais brasileiros. De cabeça lembro agora do O Globo, do Estadão e do Zero Hora, de Porto Alegre. Logo, todos os jornalistas aplaudiram a escolha do gaúcho. E para convencer os relações públicas da escolha dele, o argumento foi um pouco mais objetivo, disseram (fui eu que disse, mas se eu colocar na primeira pessoa, perco toda a credibilidade até agora conquistada), que ele é uma das únicas pessoas que sabiam o que era o RP.
Para comprovar isso, vou ler agora uma das colunas que melhor retratam esse grande dom do LFV. (aliás, um pequeno e último parênteses. Quando disseram que eu seria o cara da homenagem ao patrono, fiquei preocupado em achar uma crônica que resumisse bem o espírito da escolha do grupo. No mesmo dia, saiu essa)
sexta-feira, 17 de janeiro de 2003
o texto que segue é da coleção "personagens cariocas", e é sobre uma velhinha que mora no flamengo.
naquele domingo o sol foi de rachar, mas estávamos, os quatro, com uma ressaca absurda, que dificultou a nossa tradicional ida ao posto nove. apenas eu e jão conseguimos ir. na volta, encontramos cabeça e esteves na entrada do prédio que morávamos desde que éramos moleques. como sempre acontecia quando juntava os quatro, ríamos das piadas sucessivas de jão e das tiradas sarcásticas de esteves que pontuava toda as suas falas com um bordão novo que ele inventava a cada semana. o dessa era "ai que conflito", inspirado, diretamente, na música que o zeca pagodinho canta.
jão, o mais velho de todos e irmão do esteves, sugeriu, "já que não estamos fazendo nada nesse momento, vamos aproveitar e ir tomar uma cerveja no planalto, ali no final da rua". logo concordei, mas esteves e cabeça foram contra, o segundo sugeriu, "por que não aproveitamos a promoção que rola no clarroma?", e esteves interveio, "ó o conflito, o nome do estabelecimento é nova oklahoma. mas aceito a sugestão do pequeno grande cabeça, já que o chope custa a bagatela de 1,40", jão, lúcido, "módicos preços", e fomos os quatro para o bar, no final da rua em que morávamos, do lado do cinema paissandu.
a senador vergueiro nos propunha a dificuldade de escolher qual boteco ou bar beber. havia a possibilidade de tomar cerveja gelada em boteco de balcão, ou, quando rolava promoção, beber chope da mais alta qualidade, no ar condicionado do oklahoma.
quando entramos, cabeça já cutucou esteves que mexeu comigo e falei na orelha do jão, "olha a velhinha ali". foi quase uma explosão de alegria de todos nós, a simples presença de uma senhora de cabelos brancos, que parecia bastante simpática e cheia de vida, que pedia sempre o mesmo prato, macarrão ao molho bolonhesa, e conversava horas com os garçons.
ficávamos encucados com a presença da figura. por mais que o ambiente fosse bastante familiar, principalmente num domingo de tarde depois de praia, a velha destoava de todo mundo por sempre aparecer sozinha e repetir o mesmo ritual. nós nos identificávamos porque também éramos estranhos naquele meio. jão sempre gritava impropérios que deixava esteves um pouco envergonhado e me matava de rir. íamos num restaurante razoavelmente arrumadinho apenas para beber e beliscar comidas do buffet, como se fosse um bar de rua. fazíamos comemorações esporádicas que reuniam um grupo ainda maior de pessoas que sempre chamava bastante a atenção para nós.
entretanto, o mais incomum era a atitude da velhinha, que sorria sempre, todos os dias que a víamos, apesar de nunca mudar de atitude. talvez fosse por ter essa segurança nunca abalada, talvez porque se sentisse em casa, talvez porque já não tinha mais vigor para tentar mudanças no dia-a-dia. a velha bem provavelmente era sozinha, não tinha ninguém para quem dividir a vida, ninguém com quem comentar o último capítulo da novela ou falar sobre a última receita da ana maria. mas ela nunca parecia ser sozinha, quiça triste.
a velhinha foi palco de vários papos entre nós, na mesa do oklahoma, na lapa, na portaria do prédio, ou em qualquer lugar que nos juntávamos. foi assim, que um dia, esteves sugeriu que escrevêssemos sobre ela. e eu inventei uma história de um grupo de amigos, que se chamavam meio de troça meio de verdade, de otimistas, e coloquei a velhinha no meio. porém é uma história para outro dia.
naquele domingo o sol foi de rachar, mas estávamos, os quatro, com uma ressaca absurda, que dificultou a nossa tradicional ida ao posto nove. apenas eu e jão conseguimos ir. na volta, encontramos cabeça e esteves na entrada do prédio que morávamos desde que éramos moleques. como sempre acontecia quando juntava os quatro, ríamos das piadas sucessivas de jão e das tiradas sarcásticas de esteves que pontuava toda as suas falas com um bordão novo que ele inventava a cada semana. o dessa era "ai que conflito", inspirado, diretamente, na música que o zeca pagodinho canta.
jão, o mais velho de todos e irmão do esteves, sugeriu, "já que não estamos fazendo nada nesse momento, vamos aproveitar e ir tomar uma cerveja no planalto, ali no final da rua". logo concordei, mas esteves e cabeça foram contra, o segundo sugeriu, "por que não aproveitamos a promoção que rola no clarroma?", e esteves interveio, "ó o conflito, o nome do estabelecimento é nova oklahoma. mas aceito a sugestão do pequeno grande cabeça, já que o chope custa a bagatela de 1,40", jão, lúcido, "módicos preços", e fomos os quatro para o bar, no final da rua em que morávamos, do lado do cinema paissandu.
a senador vergueiro nos propunha a dificuldade de escolher qual boteco ou bar beber. havia a possibilidade de tomar cerveja gelada em boteco de balcão, ou, quando rolava promoção, beber chope da mais alta qualidade, no ar condicionado do oklahoma.
quando entramos, cabeça já cutucou esteves que mexeu comigo e falei na orelha do jão, "olha a velhinha ali". foi quase uma explosão de alegria de todos nós, a simples presença de uma senhora de cabelos brancos, que parecia bastante simpática e cheia de vida, que pedia sempre o mesmo prato, macarrão ao molho bolonhesa, e conversava horas com os garçons.
ficávamos encucados com a presença da figura. por mais que o ambiente fosse bastante familiar, principalmente num domingo de tarde depois de praia, a velha destoava de todo mundo por sempre aparecer sozinha e repetir o mesmo ritual. nós nos identificávamos porque também éramos estranhos naquele meio. jão sempre gritava impropérios que deixava esteves um pouco envergonhado e me matava de rir. íamos num restaurante razoavelmente arrumadinho apenas para beber e beliscar comidas do buffet, como se fosse um bar de rua. fazíamos comemorações esporádicas que reuniam um grupo ainda maior de pessoas que sempre chamava bastante a atenção para nós.
entretanto, o mais incomum era a atitude da velhinha, que sorria sempre, todos os dias que a víamos, apesar de nunca mudar de atitude. talvez fosse por ter essa segurança nunca abalada, talvez porque se sentisse em casa, talvez porque já não tinha mais vigor para tentar mudanças no dia-a-dia. a velha bem provavelmente era sozinha, não tinha ninguém para quem dividir a vida, ninguém com quem comentar o último capítulo da novela ou falar sobre a última receita da ana maria. mas ela nunca parecia ser sozinha, quiça triste.
a velhinha foi palco de vários papos entre nós, na mesa do oklahoma, na lapa, na portaria do prédio, ou em qualquer lugar que nos juntávamos. foi assim, que um dia, esteves sugeriu que escrevêssemos sobre ela. e eu inventei uma história de um grupo de amigos, que se chamavam meio de troça meio de verdade, de otimistas, e coloquei a velhinha no meio. porém é uma história para outro dia.
quarta-feira, 15 de janeiro de 2003
o texto a seguir faz parte de uma "coleção" proposta por amigos sobre personagens cariocas... fiz na corrida.
As ruas da Lapa sempre federam. Desde que comecei a freqüentar isso aqui. Desde os tempos da Madame Satã. Um dia consegui fotografa-lo com todos os adereços, mas ele quebrou a minha câmera logo em seguida. Minha única câmera.
Moro num sobrado aqui perto. Fede a mofo. É apenas um quarto, com cama sem lençol e um armário que penduro o meu paletó. O banheiro é no corredor e não me lembro do último dia que o lavaram. Durmo com medo que entrem no meu quarto, como já fizeram inúmeras vezes.
Antigamente as pessoas gostavam de ser fotografadas. Hoje, já vi garotos, moleques de pouco mais de 20 anos, me hostilizando. Não tenho idéia do motivo. Ando na rua, sempre tentando não incomodar ninguém. Sobrevivo apenas das minhas fotos e só as tiro se as pessoas quiserem. Vou para lugares onde tem pessoas. Mas, mesmo assim, tiro poucas fotos por noite.
Eu não existo durante o dia. Não saio de casa, não faço nada. Não queria existir, pelo menos. E cada vez mais, a noite, a única coisa que me resta, fica mais triste, mais sozinha, mais vazia. Tudo por causa de algumas pessoas que só querem estragar a vida dos outros. Vejo brigas e mortes desses moleques sem nenhuma razão aparente, todos os dias. Espero o dia em que um deles vai me encontrar e vai resolver meu problema de uma vez por todas. E não precisarei encontrar ninguém.
As ruas da Lapa sempre federam. Desde que comecei a freqüentar isso aqui. Desde os tempos da Madame Satã. Um dia consegui fotografa-lo com todos os adereços, mas ele quebrou a minha câmera logo em seguida. Minha única câmera.
Moro num sobrado aqui perto. Fede a mofo. É apenas um quarto, com cama sem lençol e um armário que penduro o meu paletó. O banheiro é no corredor e não me lembro do último dia que o lavaram. Durmo com medo que entrem no meu quarto, como já fizeram inúmeras vezes.
Antigamente as pessoas gostavam de ser fotografadas. Hoje, já vi garotos, moleques de pouco mais de 20 anos, me hostilizando. Não tenho idéia do motivo. Ando na rua, sempre tentando não incomodar ninguém. Sobrevivo apenas das minhas fotos e só as tiro se as pessoas quiserem. Vou para lugares onde tem pessoas. Mas, mesmo assim, tiro poucas fotos por noite.
Eu não existo durante o dia. Não saio de casa, não faço nada. Não queria existir, pelo menos. E cada vez mais, a noite, a única coisa que me resta, fica mais triste, mais sozinha, mais vazia. Tudo por causa de algumas pessoas que só querem estragar a vida dos outros. Vejo brigas e mortes desses moleques sem nenhuma razão aparente, todos os dias. Espero o dia em que um deles vai me encontrar e vai resolver meu problema de uma vez por todas. E não precisarei encontrar ninguém.
o texto abaixo, enviei para o lfv. ele nunca me respondeu. talvez pelo excesso de bobeira...
Seu Luis Fernando, o Veríssimo (posso te chamar de Seu Luis?)
fui obrigado, democraticamente, por unanimidade, pelos meus colegas de sala (uns trinta e poucos que fazem parte dos seus 17 leitores) para fazer este pequeno convite.
No dia 27 de janeiro do longínquo ano de 2003 nos formaremos. Caso, por algum acaso, esteja por estas bandas - Teatro Odilo Costa Filho, UERJ, Maracanã, Rio de Janeiro, Brasil, Terra -, à noite, nos sentiremos muito orgulhosos em recebê-lo como patrono de nossa turma.
Se você ficar um pouco curioso em saber o motivo que levou alguns moleques e molecas cariocas em convidar-lhe, eu poderia citar vários exemplos. Por exemplo. Um colunista que consegue arranjar assuntos todos os dias. Um jornalista com grande preocupação social. Um escritor de grandes obras pequenas e ótimas obras grandes – fugi do trocadilho, pode ver. Um gaúcho - regionalista como todo gaúcho - com visão lúcida, tão lúcida que dá vontade de dizer “Como não pensei nisso antes?”. Pai de três filhos. Filho de um grande homem e de uma grande mulher. Desenhista nas horas vagas. Indeciso no que ia fazer até quase os trinta anos - isso é um grande alívio para mim. Tímido. Saxofonista. Viu Charlie Parker e Dizzie Gillespie juntos. Conseguiu ler Ulisses, do James Joyce. Venera Borges. Escreve sobre complicações e mostra como são simples as coisas da vida. Mas, principalmente, você sabe o que é Relações Públicas. Nossa turma, infelizmente eu inclusive, tem metade de Erre-pês e metade Jornalistas. As únicas vezes que vimos os “homens de relações públicas” citados na imprensa foram nas suas crônicas.
Eu sei que é difícil. A sua casa é longe, todos nós somos preguiçosos, ninguém está jogando dinheiro fora, o dólar está nas alturas, o Lula deve vencer as eleições, mas, caso queira dar uma passadinha, as portas estarão escancaradas para você. Mas não ligue agora, com a sua ida ao evento, ganhará completamente grátis uma hiper-super-vitaminada-maravilhosa-mega-power-nitro placa com o seu nome.
Aguardo algum tipo de retorno – só não aceito sinal de fumaça porque é muito ultrapassado.
Abraços
r.
ps, o texto faz parte de uma coletânea própria intitulada “humor numa hora dessas?”. Desculpe-me os excessos. Não foram de propósito. Os erros foram.
Seu Luis Fernando, o Veríssimo (posso te chamar de Seu Luis?)
fui obrigado, democraticamente, por unanimidade, pelos meus colegas de sala (uns trinta e poucos que fazem parte dos seus 17 leitores) para fazer este pequeno convite.
No dia 27 de janeiro do longínquo ano de 2003 nos formaremos. Caso, por algum acaso, esteja por estas bandas - Teatro Odilo Costa Filho, UERJ, Maracanã, Rio de Janeiro, Brasil, Terra -, à noite, nos sentiremos muito orgulhosos em recebê-lo como patrono de nossa turma.
Se você ficar um pouco curioso em saber o motivo que levou alguns moleques e molecas cariocas em convidar-lhe, eu poderia citar vários exemplos. Por exemplo. Um colunista que consegue arranjar assuntos todos os dias. Um jornalista com grande preocupação social. Um escritor de grandes obras pequenas e ótimas obras grandes – fugi do trocadilho, pode ver. Um gaúcho - regionalista como todo gaúcho - com visão lúcida, tão lúcida que dá vontade de dizer “Como não pensei nisso antes?”. Pai de três filhos. Filho de um grande homem e de uma grande mulher. Desenhista nas horas vagas. Indeciso no que ia fazer até quase os trinta anos - isso é um grande alívio para mim. Tímido. Saxofonista. Viu Charlie Parker e Dizzie Gillespie juntos. Conseguiu ler Ulisses, do James Joyce. Venera Borges. Escreve sobre complicações e mostra como são simples as coisas da vida. Mas, principalmente, você sabe o que é Relações Públicas. Nossa turma, infelizmente eu inclusive, tem metade de Erre-pês e metade Jornalistas. As únicas vezes que vimos os “homens de relações públicas” citados na imprensa foram nas suas crônicas.
Eu sei que é difícil. A sua casa é longe, todos nós somos preguiçosos, ninguém está jogando dinheiro fora, o dólar está nas alturas, o Lula deve vencer as eleições, mas, caso queira dar uma passadinha, as portas estarão escancaradas para você. Mas não ligue agora, com a sua ida ao evento, ganhará completamente grátis uma hiper-super-vitaminada-maravilhosa-mega-power-nitro placa com o seu nome.
Aguardo algum tipo de retorno – só não aceito sinal de fumaça porque é muito ultrapassado.
Abraços
r.
ps, o texto faz parte de uma coletânea própria intitulada “humor numa hora dessas?”. Desculpe-me os excessos. Não foram de propósito. Os erros foram.
domingo, 12 de janeiro de 2003
Poderia resumir tudo numa diferença de opinião sobre o Woody Allen. Ela não suporta e eu acho um dos melhores cineastas em atividade. Talvez o maior.
A tarde começou com uma idéia de personagem. Duas pessoas que tinha poucas coisas em comum. Ela era junkie, ele era apenas um boêmio com um discurso contrário a drogas, ela gostava da noite, ele de ir à praia, ele tinha feito engenharia, ela sociologia. Para falar a verdade, havia apenas uma coisa em comum, os dois gostavam de vôlei. Eu sei que não é algo que pode juntar duas pessoas por muito tempo, eu sei que se não houver tantas semelhanças os dois logo se separarão, eu sei que as diferenças pesam com o tempo, mas e daí? A ficção comporta qualquer tipo de atitude, não vale a verossimilhança, vale o que parece. Poderia escrever algo que começasse com um diálogo num bar, o único point em comum dos dois, sobre vôlei, ele diz que gosta muito do esporte, é o favorito dele, ela afirma que jogou por muito tempo, mas desistiu, porque não conseguia conciliar a vida etc., etc., etc. Os dois, após alguns chopes dele, e umas doses de uísque dela, estariam aos abraços e beijos, sem nenhuma outra explicação, apenas a vontade de ficar junto.
E a tarde terminou com mostras que a vida real pode ser, e na maioria das vezes é, exatamente o inverso. Pessoas que são bastante parecidas, mas por ter pequenas desavenças e pensamento em desacordo, não conseguem ficar juntos. Toda vez que essa diferença emergia, ela desistia de continuar. Não adiantava pedidos de segundas chances, de segundas tentativas, de segundas épocas. Tens apenas o primeiro tiro, ela pode até ter pensado. Se errares o alvo, estarás perdido. (O tempo do verbo correto é apenas decorativo).
E agora, fico aqui, na tentativa de me convencer de que realmente não havia nada que eu podia fazer. Nada que eu tentasse mudar. Qualquer ato meu poderia reverter em mágoas para ela. Eu que complico, eu que provoco a dor, eu que sou o culpado, mesmo.
Se pedisses outra alternativa, machucaria novamente. E de novo. E mais uma vez.
Fico no meu canto apenas. Só isso.
A tarde começou com uma idéia de personagem. Duas pessoas que tinha poucas coisas em comum. Ela era junkie, ele era apenas um boêmio com um discurso contrário a drogas, ela gostava da noite, ele de ir à praia, ele tinha feito engenharia, ela sociologia. Para falar a verdade, havia apenas uma coisa em comum, os dois gostavam de vôlei. Eu sei que não é algo que pode juntar duas pessoas por muito tempo, eu sei que se não houver tantas semelhanças os dois logo se separarão, eu sei que as diferenças pesam com o tempo, mas e daí? A ficção comporta qualquer tipo de atitude, não vale a verossimilhança, vale o que parece. Poderia escrever algo que começasse com um diálogo num bar, o único point em comum dos dois, sobre vôlei, ele diz que gosta muito do esporte, é o favorito dele, ela afirma que jogou por muito tempo, mas desistiu, porque não conseguia conciliar a vida etc., etc., etc. Os dois, após alguns chopes dele, e umas doses de uísque dela, estariam aos abraços e beijos, sem nenhuma outra explicação, apenas a vontade de ficar junto.
E a tarde terminou com mostras que a vida real pode ser, e na maioria das vezes é, exatamente o inverso. Pessoas que são bastante parecidas, mas por ter pequenas desavenças e pensamento em desacordo, não conseguem ficar juntos. Toda vez que essa diferença emergia, ela desistia de continuar. Não adiantava pedidos de segundas chances, de segundas tentativas, de segundas épocas. Tens apenas o primeiro tiro, ela pode até ter pensado. Se errares o alvo, estarás perdido. (O tempo do verbo correto é apenas decorativo).
E agora, fico aqui, na tentativa de me convencer de que realmente não havia nada que eu podia fazer. Nada que eu tentasse mudar. Qualquer ato meu poderia reverter em mágoas para ela. Eu que complico, eu que provoco a dor, eu que sou o culpado, mesmo.
Se pedisses outra alternativa, machucaria novamente. E de novo. E mais uma vez.
Fico no meu canto apenas. Só isso.
sexta-feira, 10 de janeiro de 2003
o melhor woody allen dos últimos tempos
não sei se é um elogio ou uma crítica, mas o título sai com todas as boas intenções do mundo. Domingos Oliveira em seu "Separações" faz um filme que já concorre à lista dos melhores de 2003. nunca vi outro filme do diretor e só o conhecia de algumas entrevistas em programas da tve ou de canais educativos, mas tinha feito uma expectativa quando li algumas das críticas que saíram sobre o filme. todas era quase unânimes, o filme é maravilhoso.
Domingos desconstrói toda aquela receita de bolo que sid field sugerira para os iniciantes na arte de roteirista (dois plot point, introdução, desenvolvimento e conclusão cronometrados, etc), ele divide o filme em 4 partes, numa evolução em estágios de um casal de acordo com a teoria de uma psicóloga sobre os doentes terminais. como uma brincadeira, mostra que os amantes seguem essa mesma regra.
tem uma liberdade de filmar, talvez pela opção do digital, que não requer o mesmo aparato técnico da película, que mostra uma maduridade com a câmera bem acima da média dos outros cineastas em ação. e a comparação com woody allen é bem próxima da realidade.
é óbvio que os dois têm diferenças óbvias, woody allen é mais deprecivo no seu texto, domingos é mais amoroso, mas os dois tem bastante elementos que os aproximam. moram em cidades e bairros que adoram e os filmam bastante, são intelectuais e sabem disso, gostam da liberdade e duvidam quando se sentem seguros, gaguejam e interpretam a si mesmos nos seus papéis, são inteligentes nos diálogos e fábricas de frases definitivas e, principalmente, são completamente autobiográficos. levam a máxima do russo tolstói de escrever sobre a própria aldeia ao máximo, os filmes deles falam sobre eles mesmos.
mas isso, em nenhum momento, torna o filme umbilical e, por isso, chato. ele(s) mostra(m) o mundo através de uma visão singular que tenta compreender as diferenças do mundo e principalmente aceita-las. numa das cenas finais de "separações", onde os personagens de cabral e glorinha, marido e mulher na vida real, domingos e priscila, se encontram após um longo período separados, cabral diz que aceitaria glorinha de qualquer jeito, da maneira como ela desejar. isso me lembra como woody allen encara o preconceito com mira sorvino em "poderosa afrodite", ou quando ele descobre que está apaixonado pela ninfeta mary hemighway em "manhattan".
o filme, como li em uma das críticas, faz tantas cenas lindas que constrói um painel enorme, exatamente o que é o cinema do domingos de oliveira. "separações" não quer mostrar como mudar o mundo, e por isso o diretor já foi chamado de "inimigo da revolução" (sic), mas falar sobre pequenas grandes coisas. e por isso, o filme é tão belo.
não sei se é um elogio ou uma crítica, mas o título sai com todas as boas intenções do mundo. Domingos Oliveira em seu "Separações" faz um filme que já concorre à lista dos melhores de 2003. nunca vi outro filme do diretor e só o conhecia de algumas entrevistas em programas da tve ou de canais educativos, mas tinha feito uma expectativa quando li algumas das críticas que saíram sobre o filme. todas era quase unânimes, o filme é maravilhoso.
Domingos desconstrói toda aquela receita de bolo que sid field sugerira para os iniciantes na arte de roteirista (dois plot point, introdução, desenvolvimento e conclusão cronometrados, etc), ele divide o filme em 4 partes, numa evolução em estágios de um casal de acordo com a teoria de uma psicóloga sobre os doentes terminais. como uma brincadeira, mostra que os amantes seguem essa mesma regra.
tem uma liberdade de filmar, talvez pela opção do digital, que não requer o mesmo aparato técnico da película, que mostra uma maduridade com a câmera bem acima da média dos outros cineastas em ação. e a comparação com woody allen é bem próxima da realidade.
é óbvio que os dois têm diferenças óbvias, woody allen é mais deprecivo no seu texto, domingos é mais amoroso, mas os dois tem bastante elementos que os aproximam. moram em cidades e bairros que adoram e os filmam bastante, são intelectuais e sabem disso, gostam da liberdade e duvidam quando se sentem seguros, gaguejam e interpretam a si mesmos nos seus papéis, são inteligentes nos diálogos e fábricas de frases definitivas e, principalmente, são completamente autobiográficos. levam a máxima do russo tolstói de escrever sobre a própria aldeia ao máximo, os filmes deles falam sobre eles mesmos.
mas isso, em nenhum momento, torna o filme umbilical e, por isso, chato. ele(s) mostra(m) o mundo através de uma visão singular que tenta compreender as diferenças do mundo e principalmente aceita-las. numa das cenas finais de "separações", onde os personagens de cabral e glorinha, marido e mulher na vida real, domingos e priscila, se encontram após um longo período separados, cabral diz que aceitaria glorinha de qualquer jeito, da maneira como ela desejar. isso me lembra como woody allen encara o preconceito com mira sorvino em "poderosa afrodite", ou quando ele descobre que está apaixonado pela ninfeta mary hemighway em "manhattan".
o filme, como li em uma das críticas, faz tantas cenas lindas que constrói um painel enorme, exatamente o que é o cinema do domingos de oliveira. "separações" não quer mostrar como mudar o mundo, e por isso o diretor já foi chamado de "inimigo da revolução" (sic), mas falar sobre pequenas grandes coisas. e por isso, o filme é tão belo.
quinta-feira, 2 de janeiro de 2003
alguns amigos já haviam me sugerido a "trilogia de nova iorque" para ler com o argumento de que iria gostar de qualquer maneira do Paul Auster. mas, o que me convenceu a começar a ler o americano foi saber como era e o que era o último livro dele, "o livro das ilusões".
através de uma resenha, vi que havia algumas referências ao mito Borges (e maior contribuição para a literatura no séc. xx, na minha humble opinion. não em inovações estilísticas, mas numa aproximação da literatura de ficção da filosofia e do culto ao racionalismo acima de tudo). e com o título, comprovei que poderia haver - e até há - essa ligação, mas bem de leve. para completar as coincidências, que seu personagem principal afirma ironicamente não existirem, ganhei o título de natal.
a tal pós-modernidade tem vários elementos que são facilmente identificáveis. alguns livros de ficção lidam bem com isso e enumerá-los não é difícil. alguns são voltados para segmentos - ou tribos, como os pós-modernos adoram ser chamados - da sociedade, como os trintões, os amantes da tecnologia, os pós-adolescentes etc etc etc. o livro de Auster seria para os "adultos", a tal literatura séria.
mas nem por isso ela perde algum tipo de qualidade, ou é pior que livros do Nick Horby, outro desse autores pós-modernos. apenas ele tende a narrar situações mais "maduras", como casamentos, mortes, problemas com dinheiro, terrorismo e por ai vai. nesse livro, especificamente, o protagonista é um professor universitário que perde toda a família num acidente de avião e entra numa depressão profunda. só consegue sair dela, depois de muitos meses desesperado, quando assiste a um programa de filmes mudos que citava um comediante que, afirmavam, havia desaparecido há muito tempo atrás. david zimmer, o nome do protagonista, sorri de novo e toma como função de vida fazer um livro sobre os filmes do ator, diretor e roteirista hector mann.
claro que a partir daí, milhares de situações movem a narrativa para frente, e o que torna o livro um grande representante dessa corrente que estamos inseridos - que aliás, preza pela falta de unidade, logo de facilidade de elucidar quem é quem - é exatamente a quantidade de situações que ele cria, a quantidade de coisas que ele tem que passar, quantos jogos ele nos faz participar.
não é uma literatura video-clipe, é perceptível que o autor nunca teve a intenção de produzir o mesmo efeito na nossa cabeça, mas ele tende a produzir milhares de imagens dentro do menor espaço de tempo, sem tempo para que nos apeguemos a pequenos detalhes, sem enjoar ou perder o ritmo.
e como é um "livro das ilusões", muitas dessas situações não são reais. existem só para desviar a atenção do foco principal. como um número de mágica onde o protagonista em cima do palco deve mostrar sempre uma mão para a platéia e fazer a mágica com a outra.
auster usa da sua familiaridade com o cinema - foi roteirista e diretor de alguns filmes - para retratar de modo completamente elucidativo as imagens projetadas nas telas de cinema de hector mann. ou para narrar sobre a possível vida que o ator teria levado nos posteriores ao seu sumiço da vida agitada de hollywood. ou para apresentar o protagonista, suas motivações, seus perfis e sua intenções.
um dos traços mais interessantes da obra é que, por mais que ele apresente provas, documentos, dados que comprovem os fatos narrados, nenhum deles é realmente verdadeiro. ou são verdadeiros em parte, ou apenas verdadeiros vistos de certos ângulos. ou sendo verdadeiros, não sabemos que o são. até o final do livro vivemos numa constante dúvida sobre se o que acontece é de fato o que ele narrou na, chamemos, dimensão dele. e por mais que seja uma ficção, mesmo na sua realidade não sabemos em quais fatos devemos acreditar.
essa questão, o que é a verdade e o que é a ilusão?, funciona como combustível que move a nossa ansiedade para ler tudo e saber aonde ele quer chegar. e no final, ele pode ter mostrado toda a verdade. quem, além do próprio Paul Auster, saberá?
através de uma resenha, vi que havia algumas referências ao mito Borges (e maior contribuição para a literatura no séc. xx, na minha humble opinion. não em inovações estilísticas, mas numa aproximação da literatura de ficção da filosofia e do culto ao racionalismo acima de tudo). e com o título, comprovei que poderia haver - e até há - essa ligação, mas bem de leve. para completar as coincidências, que seu personagem principal afirma ironicamente não existirem, ganhei o título de natal.
a tal pós-modernidade tem vários elementos que são facilmente identificáveis. alguns livros de ficção lidam bem com isso e enumerá-los não é difícil. alguns são voltados para segmentos - ou tribos, como os pós-modernos adoram ser chamados - da sociedade, como os trintões, os amantes da tecnologia, os pós-adolescentes etc etc etc. o livro de Auster seria para os "adultos", a tal literatura séria.
mas nem por isso ela perde algum tipo de qualidade, ou é pior que livros do Nick Horby, outro desse autores pós-modernos. apenas ele tende a narrar situações mais "maduras", como casamentos, mortes, problemas com dinheiro, terrorismo e por ai vai. nesse livro, especificamente, o protagonista é um professor universitário que perde toda a família num acidente de avião e entra numa depressão profunda. só consegue sair dela, depois de muitos meses desesperado, quando assiste a um programa de filmes mudos que citava um comediante que, afirmavam, havia desaparecido há muito tempo atrás. david zimmer, o nome do protagonista, sorri de novo e toma como função de vida fazer um livro sobre os filmes do ator, diretor e roteirista hector mann.
claro que a partir daí, milhares de situações movem a narrativa para frente, e o que torna o livro um grande representante dessa corrente que estamos inseridos - que aliás, preza pela falta de unidade, logo de facilidade de elucidar quem é quem - é exatamente a quantidade de situações que ele cria, a quantidade de coisas que ele tem que passar, quantos jogos ele nos faz participar.
não é uma literatura video-clipe, é perceptível que o autor nunca teve a intenção de produzir o mesmo efeito na nossa cabeça, mas ele tende a produzir milhares de imagens dentro do menor espaço de tempo, sem tempo para que nos apeguemos a pequenos detalhes, sem enjoar ou perder o ritmo.
e como é um "livro das ilusões", muitas dessas situações não são reais. existem só para desviar a atenção do foco principal. como um número de mágica onde o protagonista em cima do palco deve mostrar sempre uma mão para a platéia e fazer a mágica com a outra.
auster usa da sua familiaridade com o cinema - foi roteirista e diretor de alguns filmes - para retratar de modo completamente elucidativo as imagens projetadas nas telas de cinema de hector mann. ou para narrar sobre a possível vida que o ator teria levado nos posteriores ao seu sumiço da vida agitada de hollywood. ou para apresentar o protagonista, suas motivações, seus perfis e sua intenções.
um dos traços mais interessantes da obra é que, por mais que ele apresente provas, documentos, dados que comprovem os fatos narrados, nenhum deles é realmente verdadeiro. ou são verdadeiros em parte, ou apenas verdadeiros vistos de certos ângulos. ou sendo verdadeiros, não sabemos que o são. até o final do livro vivemos numa constante dúvida sobre se o que acontece é de fato o que ele narrou na, chamemos, dimensão dele. e por mais que seja uma ficção, mesmo na sua realidade não sabemos em quais fatos devemos acreditar.
essa questão, o que é a verdade e o que é a ilusão?, funciona como combustível que move a nossa ansiedade para ler tudo e saber aonde ele quer chegar. e no final, ele pode ter mostrado toda a verdade. quem, além do próprio Paul Auster, saberá?
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