quinta-feira, 6 de fevereiro de 2003
essas são coisas antigas minhas, que tentavam elucidar de alguma maneira o mundo. reparem como eu sou contraditório.
e, não reparem na qualidade, a escolha foi por ordem do que achei na frente...
Penhasco 22/01/2002
(apenas um exercício)
O homem
Chega na beira
Do precipício
“Alô, há alguém ai?”
É tão fundo que
O rio
Que abriu
A fenda
parece
Um pequeno filete
“Alguém ai do outro lado?”
Duas rochas
Maciças e vermelhas
Pontiagudas e adormecidas
Que não se tocam
“Olá”
Silêncio
Olhares perdidos
No meio do caminho
Uma resposta
Sem rosto
Sem direção
Nem de origem
Nem de destino
“Acho que ouvi um trovão”.
“Acho que senti alguns pingos”
Começa
Troveja
E então o penhasco
É a mira o objetivo
E quem está atirando
Não costuma
Errar
Quando quer
“Foi só uma chuva passageira”
“...”
(sem título) 8/11/2002
Um dia
Acertarei no alvo
Bem no meio
Mirarei no centro
Sem que haja
Nada para tremular
Conseguirei
O único
Caminho
Entre
O máximo e
O mínimo
Toda vez que
For testado
A partir desse dia,
Será a prova
Da minha perícia e exatidão
Talvez um dia
Acerte
Porque nesse dia
Eu mesmo
Saberei o que quero
Algumas verdades minhas 26/07/2001
Não gosto de
Decepções
Por isso sou
Pessimista
Jogo essas
Linhas
No papel
Com o intuito
Que floresçam
Dêem frutos
E descendentes
Férteis
Mais uma vez
Vejo
Que não passo de um
Covarde
Que fica olhando
Para frente
Com baralhos de tarô
Bola de cristal
Ou runas
Tenho medo de me machucar
E esse medo me impede
De viver tudo como é
Não confio
Nos outros
Porque não me deram
Motivos
Tenho um olhar
Que produz uma
Armadilha
E sempre captura os
Erros alheios
De quem passa
Na minha frente
O que quero
É fingir
Finjo força
Sapiência
Superioridade
Tudo com uma estrutura
Gelatinosa
Belo e flácido.
No fundo
Não sou apenas
Um pessimista
Mas
Decepcionante
Discurso Público 26/07/99
Todos nós temos demônios
Temo o porquê fugir,
Mas a grande coragem
É olhar para dentro
Todos os demônios
Habitam o coração
Viremo-nos os olhos
Até enxerga-los
Observá-los-emos até enrubesce-los
Segurá-los-emos na palma da mão
E sentiremos o quão pequenos são
Até um dia, onde nada temerás
Olharemos dentro do nosso próprio muro
E cresceremos
Dia-a-dia
Venham demônios
Estou pronto e preparado
Pronto para compreende-los
E preparado para devora-los
Mar baixo 18/01/02
Tem dias
Que não
Consigo
Escuta-lo
Por inteiro
Tem dias
Que o máximo
Permitido
É o caminho
Até o banheiro
E a aventura
Da volta
Chove lá fora
E isso é uma
Certeza
Das únicas
Que posso tirar
De uma tarde
Pelo meio
Que a noite
Quer adentrar
Não há tempo
Para abrir os olhos
Ou cheirar os perfumes
Diferentes
Das folhas e flores
Me imagino,
Agora,
Como um surfista
Num mar sem ondas
Onde só lhe
Permitem essa hora
E se reclamar
Vão argumentar
Que ele é um surfista
Ora.
Queria o que?
Isso me leva
À questão:
Por que as pessoas
Se acostumam com isso?
Por que existe
Apenas uma profissão
Valorizada:
Mercenário?
Penso seriamente em
Destoar do senso comum
E ser colocado
Na geladeira.
Literalmente.
No fundo 12/01/2002
No fundo,
No fundo
Eu gosto
Das minhas
Fases
Baixas
Por
Saber
Que não são
Eternas
E saber
Que a tal da
“bonança”
Que se segue
Depois
É muito,
Como posso dizer,
Gratificante.
Hoje, por exemplo,
Hoje fui acordado
Ao som de, pasmem,
Passarinhos.
Isto.
Bem-te-vis
Pardais
E outras espécies
Que devem
Existir
Mas a minha
Baixa cultura
Sobre aves me
Impede de citar
Nessas horas
Até tenho
Humor.
E não é ácido,
O que, por si
Só,
Já é vantagem
No fundo, no fundo
, eu não quero
admitir,
mas
Tenho estes
Traços de otimismo.
Provas 08/01/02
Concretas
E palpáveis
Tenho apenas
Uma frase
Para elucidar:
Não vou sobreviver
À base de soldo
Vou agarrar
Todas as luzes
Que conseguirem
Passar a parede
Vou conviver
Com os sobreviventes
Da hecatombe
Vou despelar-me
Até ficar
Na carne mais
Viva que tenho
Vou ser eu
Fazendo somente
O que gosto
Isto tudo
Estrategicamente
Pensado.
Vou trazer o chão
Para pisar
Em falsos caminhos
E com todas
As janelas
Abertas
Paciência
De aguardar
Os dias
Passarem em meses
Em um ano e meio
Mais ou menos
Em alguns dias
Em algumas decisões
Em definições
Em conclusões
Alguns pesadelos 03/01/02
Ontem a noite
Acordei de sobressalto
Não me lembro
O que sonhei
A cama estava
Desarrumada
Meu corpo
Suava
Estava ofegante
Sentia um cheiro
De tristeza no ar
Meus olhos estavam
Lubrificados
Escutava ao fundo
Um saxofone
Duelando com
Um trompete
Para ver
Só para ver...
E eu nem estava dormindo.
Dinâmicas de grupo 23/01/02
Deram uma
Folha em branco
Para cinco pessoas
E perguntaram:
“Querem que mude
Ou que fique
Como está?”
Disse rapidamente:
“Muda”
Porém outros dois,
Um delicadamente,
Dentro dos seus cacoetes,
Outro gritando
Esbravejando e
Impondo,
Discordaram.
“Fica”, disseram.
A menina perguntou
Como era a mudança
“Não sei”, disse eu
“Apenas é diferente”, completei
O que sobrou,
Ditou algumas gírias
Intercaladas
Mas
Conseguimos
Entender
Que era partidário da mudança.
O que gritava,
Gritou na direção
Da menina
Avisando,
Mesmo sem saber,
Que não haveria
Cabeleireiro
Na mudança.
Ela olhou para mim,
Como se questionasse
Nas só pude responder
Que não sabia
“O que é importante para mim
é a mudança”, disse
“Do modo que está,
não acho válido,
nem humano”.
Ela parou, olhou para os dois lados
E optou
Pela segurança.
(ou conservadorismo,
depende de quem conta
a história)
Vitórias e Derrotas 27/01/2002
O meu mundo
Já confunde
As derrotas
Com as vitórias
Não há mais uma
Separação
Muito visível
E eu já não sei
O que é o que.
Não sei
Qual é o meu
Estado natural
Não sei
Qual é a
Minha voz
A minha
Vontade
O meu
Desejo
Eu não sei
O que quero
E não sei aonde
Quero chegar.
Só sei
Que a tristeza
Não tem
Motivo
E gosta
De me
Acompanhar
Chega,
Aporta
E não diz
Quando
Vai
Embora.
Resta saber
Até quando
(devo) vou agüentar.
Causas 27/01/02
Começo
A perder
A fé
No sofrimento
Como causa
Para alcançarmos
Algo.
Pois o que
Pode ser
Alcançado?
Não vislumbro
Ou lembro de nada.
E como se sabe,
Sofrimento
Sem causa
Ou motivo
É apenas sintoma
De burrice
Na melhor
Das hipóteses
Há o tal “algo”.
Porém
Esqueceram
De me avisar.
O pior
Seria
Se
Eu me enganasse
Ao ponto
De pensar
Isso
E ser o
Completo inverso
Será que isso
É possível?
Enfim.
Basta
Esperar.
(com os dedos
cruzados)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário