sexta-feira, 29 de setembro de 2006
quinta-feira, 21 de setembro de 2006
Amigos,
depois de anos de preparação, foi marcada a data do lançamento do meu libreto: "A primeira pessoa". Será no dia 10 de outubro, uma terça-feira, no Mistura Carioca, na Lapa. Gostaria muito que todos fossem.
Abaixo está o release que será divulgado para a imprensa. Estamos, também, fazendo um banner. Quem quiser/puder ajudar colocando-o em sites, blogs ou qualquer outra coisa internética, basta me avisar. Qualquer dúvida, sugestão, ou reclamação, é só comentar.
bjs
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Ronaldo Pelli revela o rosto sob a máscara do eu
A Editora Multifocos tem o prazer de convidá-lo para a festa de lançamento do primeiro livro de contos do escritor e jornalista Ronaldo Pelli: "A primeira pessoa".
Sua estréia traz 17 narrativas curtas que usam referências tiradas dos mundos literário, cinematográfico ou mesmo do cotidiano do escritor de 25 anos. Na obra, Ronaldo Pelli faz um conjunto de narrativas que reverenciam as literaturas de Kafka e Camus, o cinema de Woody Allen. E o escritor Jorge Luis Borges, sempre.
Ronaldo produz contos cheios de interpretações que divertem o leitor enquanto escreve à margem do pedantismo. Lidas no piloto-automático, e trazendo as mais diversas reflexões. Quase todos escritos sob a máscara do eu.
O lançamento do livro "A primeira pessoa" será no dia 10 de outubro, às 20h30, no Mistura Carioca, à Rua Gomes Freire 791, Lapa. Para animar o evento, o grupo de samba Batifundo promete tocar clássicos de Paulinho da Viola, Cartola e Clara Nunes.
Junto a isso, a editora Multifocos vai fazer a "inauguração oficial" do seu site para poder lançar cada vez mais livros e escritores como Ronaldo.
Contato com a Editora Multifocos:
Assessor de Imprensa
Paula Grassini
Telefone: (21) 3234-0888 - 9287-6672
Endereço: www.editoramultifoco.com.br
E-mail: contato@editoramultiofoco.com.br
imprensa@editoramultifoco.com.br
depois de anos de preparação, foi marcada a data do lançamento do meu libreto: "A primeira pessoa". Será no dia 10 de outubro, uma terça-feira, no Mistura Carioca, na Lapa. Gostaria muito que todos fossem.
Abaixo está o release que será divulgado para a imprensa. Estamos, também, fazendo um banner. Quem quiser/puder ajudar colocando-o em sites, blogs ou qualquer outra coisa internética, basta me avisar. Qualquer dúvida, sugestão, ou reclamação, é só comentar.
bjs
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Ronaldo Pelli revela o rosto sob a máscara do eu
A Editora Multifocos tem o prazer de convidá-lo para a festa de lançamento do primeiro livro de contos do escritor e jornalista Ronaldo Pelli: "A primeira pessoa".
Sua estréia traz 17 narrativas curtas que usam referências tiradas dos mundos literário, cinematográfico ou mesmo do cotidiano do escritor de 25 anos. Na obra, Ronaldo Pelli faz um conjunto de narrativas que reverenciam as literaturas de Kafka e Camus, o cinema de Woody Allen. E o escritor Jorge Luis Borges, sempre.
Ronaldo produz contos cheios de interpretações que divertem o leitor enquanto escreve à margem do pedantismo. Lidas no piloto-automático, e trazendo as mais diversas reflexões. Quase todos escritos sob a máscara do eu.
O lançamento do livro "A primeira pessoa" será no dia 10 de outubro, às 20h30, no Mistura Carioca, à Rua Gomes Freire 791, Lapa. Para animar o evento, o grupo de samba Batifundo promete tocar clássicos de Paulinho da Viola, Cartola e Clara Nunes.
Junto a isso, a editora Multifocos vai fazer a "inauguração oficial" do seu site para poder lançar cada vez mais livros e escritores como Ronaldo.
Contato com a Editora Multifocos:
Assessor de Imprensa
Paula Grassini
Telefone: (21) 3234-0888 - 9287-6672
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E-mail: contato@editoramultiofoco.com.br
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sexta-feira, 8 de setembro de 2006
Falta de assunto
Há quase uma semana do desastre na Lagoa, com a morte de cinco garotos e garotas, os assuntos acidente de trânsito + jovens embriagados + falsificação de documentos não saem de moda. Na minha humilíssima opinião, isso acontece por dois fatores: 1) a falta de assunto dos jornais em um fim de semana de quatro dias – por ocasião do feriado; 2) o confronto com a morte de seres, em tese, imortais: os pré-adultos.
A morte, principalmente para meninos e meninas que nem saíram das casas dos pais, é um tema que choca e muito a choldra. Os envolvidos – pais e filhos – acreditam, como num dogma religioso, que vão morrer antes (os primeiros) e que nunca vão morrer (os segundos). É complicado quebrar a fé nesses aspectos.
Além disso, todo o evento é muito familiar (sem trocadilho) para o povo de classe-média. Eles se vêem na posição de um dos mortos. Seja o motorista irresponsável, sejam as três amigas que vão dormir na casa de uma delas, seja o carona.
Não senti nenhum tipo de pena ou remorso – pelo contrário, admito – porque sempre fui muito, digamos, disciplinado para passar por uma situação semelhante. Sou daqueles (chatos) que respeitam as regras e agem da maneira correta, sempre (quase sempre, vá lá). Até que...
Até que, hoje, leio a carta escrita a várias mãos, por familiares de um dos mortos, o mais velho, o carona do sexo masculino. E, já pela chamada, senti uma pontada aqui dentro, aquele sentimento inexplicável que tanto pode ser um nó na garganta, um aperto no coração ou um frio na barriga. Dizia que o menino, de 22 anos, quase a minha idade, escolhera não dirigir, quando fez 18.
Os argumentos eram basicamente de origem da responsabilidade para com o carro. Ou seja, estacionamento, preocupações com flanelinhas, receios de assaltos e furtos, necessidade de parar de beber para dirigir... Enfim. Na carta resumiam os motivos em (acho que foi algo assim): “ficar refém (ou escravo) do carro”. Se colocassem um medo excessivo de causar acidentes e machucar outrem, poderiam dizer que o personagem da missiva sou eu. Ou seja, de certa forma, arranjei o sujeito para com quem me identificar.
Mas, não sei. Não senti nada muito especial. Não fiquei exatamente triste. No fim e no fundo, creio que talvez seja porque encaro – de maneira arreligiosa, por favor – a morte de uma maneira mais prática. Não quero parecer egoísta e não pensar nos outros. Entretanto, como é algo inevitável, fico pensando “e por que não agora?” e isso me mostra que este pode ser o último momento da minha vida. Não é um incentivo ao carpe diem, mas uma proposta de encarar a morte como algo mais, digamos, óbvia.
Mais uma vez: sei lá. Acho que isso tudo é apenas obra da minha falta generalizada de projetos em longo prazo. Da minha ausência de sonhos e de planos concretos para a minha vida. Porém, seria isso um grande erro do meu caráter?
A morte, principalmente para meninos e meninas que nem saíram das casas dos pais, é um tema que choca e muito a choldra. Os envolvidos – pais e filhos – acreditam, como num dogma religioso, que vão morrer antes (os primeiros) e que nunca vão morrer (os segundos). É complicado quebrar a fé nesses aspectos.
Além disso, todo o evento é muito familiar (sem trocadilho) para o povo de classe-média. Eles se vêem na posição de um dos mortos. Seja o motorista irresponsável, sejam as três amigas que vão dormir na casa de uma delas, seja o carona.
Não senti nenhum tipo de pena ou remorso – pelo contrário, admito – porque sempre fui muito, digamos, disciplinado para passar por uma situação semelhante. Sou daqueles (chatos) que respeitam as regras e agem da maneira correta, sempre (quase sempre, vá lá). Até que...
Até que, hoje, leio a carta escrita a várias mãos, por familiares de um dos mortos, o mais velho, o carona do sexo masculino. E, já pela chamada, senti uma pontada aqui dentro, aquele sentimento inexplicável que tanto pode ser um nó na garganta, um aperto no coração ou um frio na barriga. Dizia que o menino, de 22 anos, quase a minha idade, escolhera não dirigir, quando fez 18.
Os argumentos eram basicamente de origem da responsabilidade para com o carro. Ou seja, estacionamento, preocupações com flanelinhas, receios de assaltos e furtos, necessidade de parar de beber para dirigir... Enfim. Na carta resumiam os motivos em (acho que foi algo assim): “ficar refém (ou escravo) do carro”. Se colocassem um medo excessivo de causar acidentes e machucar outrem, poderiam dizer que o personagem da missiva sou eu. Ou seja, de certa forma, arranjei o sujeito para com quem me identificar.
Mas, não sei. Não senti nada muito especial. Não fiquei exatamente triste. No fim e no fundo, creio que talvez seja porque encaro – de maneira arreligiosa, por favor – a morte de uma maneira mais prática. Não quero parecer egoísta e não pensar nos outros. Entretanto, como é algo inevitável, fico pensando “e por que não agora?” e isso me mostra que este pode ser o último momento da minha vida. Não é um incentivo ao carpe diem, mas uma proposta de encarar a morte como algo mais, digamos, óbvia.
Mais uma vez: sei lá. Acho que isso tudo é apenas obra da minha falta generalizada de projetos em longo prazo. Da minha ausência de sonhos e de planos concretos para a minha vida. Porém, seria isso um grande erro do meu caráter?
sábado, 2 de setembro de 2006
Tortoise
Foi o mais próximo que cheguei de um show ao vivo do Pink Floyd, ontem, no Circo Voador. Melodias complexas, instrumentos incomuns (um xilofone, um vibrafone, duas baterias – às vezes – tocando ao mesmo tempo, um sintetizador, um Mac), músicos que tocam bem, no mínimo, três instrumentos, flerte com outras vertentes musicais, seja o jazz, seja a música eletrônica. Mas as semelhanças com o progressivo param aí. Nada de solos complicadíssimos para mostrar quanto eles são bons ou uma pose de grandes músicos com roupas espalhafatosas. Apesar de já não serem exatamente garotões, eles são roqueiros na melhor acepção da palavra. Ou seja: não tem frescura alguma.
Na montagem dos instrumentos antes do quinteto adentrar, já dava para arquear um sobrolho de curiosidade. Por que duas baterias? De um lado um xilofone, mas e aquele outro ali? O que é? (depois descobri que era um vibrafone). E tome computador, teclados, botões de apertar, rodar, girar. Ué, mas não era um show de rock? E foi. Tudo bem que não exatamente tradicional. Esqueça os vocais, por exemplo. Eles abdicam desse instrumento. Também não espere canções pops que grudam no ouvido na primeira audição – apesar de que, até agora, estar com "TNT" na cabeça. E, a cada música, podemos ouvir algo que se aparenta com chill out, e depois heavy metal, em seguida dub, mais a frente be bop... Cada músico passa por instrumentos diversos. É impossível identificar a posição original de cada um lá para o meio do show. Não existe “o” tecladista, como também não há “o” baixista. John Herndon, o único sujeito com estatura mediana – os outros são muito altos – e de perfil latino, até que fica muito tempo com as baquetas nas mãos, mas também se arrisca no xilofone, no vibrafone e no teclado. E isso acontece com todos (os outros integrantes são: John McEntire, Jeff Parker, Douglas McCombs e Dan Bitney).
Talvez seja esta a grande vantagem do que se acostumou chamar de “pós-rock”. Bandas como Mogwai, Sigur Rós, God Speed Your Black Emperor, e o próprio Tortoise, trazem um pouco mais de complexidade aos três acordes que as bandas juvenis apregoam, mas sem, para isso, esquecer que eles são roqueiros oriundos de uma tradição do-it-yourself.
Ou seja: mais acordes, sim, mas sem deixar de ser roqueiro, jamais.
Na montagem dos instrumentos antes do quinteto adentrar, já dava para arquear um sobrolho de curiosidade. Por que duas baterias? De um lado um xilofone, mas e aquele outro ali? O que é? (depois descobri que era um vibrafone). E tome computador, teclados, botões de apertar, rodar, girar. Ué, mas não era um show de rock? E foi. Tudo bem que não exatamente tradicional. Esqueça os vocais, por exemplo. Eles abdicam desse instrumento. Também não espere canções pops que grudam no ouvido na primeira audição – apesar de que, até agora, estar com "TNT" na cabeça. E, a cada música, podemos ouvir algo que se aparenta com chill out, e depois heavy metal, em seguida dub, mais a frente be bop... Cada músico passa por instrumentos diversos. É impossível identificar a posição original de cada um lá para o meio do show. Não existe “o” tecladista, como também não há “o” baixista. John Herndon, o único sujeito com estatura mediana – os outros são muito altos – e de perfil latino, até que fica muito tempo com as baquetas nas mãos, mas também se arrisca no xilofone, no vibrafone e no teclado. E isso acontece com todos (os outros integrantes são: John McEntire, Jeff Parker, Douglas McCombs e Dan Bitney).
Talvez seja esta a grande vantagem do que se acostumou chamar de “pós-rock”. Bandas como Mogwai, Sigur Rós, God Speed Your Black Emperor, e o próprio Tortoise, trazem um pouco mais de complexidade aos três acordes que as bandas juvenis apregoam, mas sem, para isso, esquecer que eles são roqueiros oriundos de uma tradição do-it-yourself.
Ou seja: mais acordes, sim, mas sem deixar de ser roqueiro, jamais.
Na raia quatro
Na raia quatro, representando o clube Nacional, do Rio de Janeiro, Fernando Barbosa. Ele levanta o braço para se apresentar ao público nas arquibancadas quase vazias. 200m livre, a prova que ele mais gostava de nadar. Balizado com apenas dois segundos e meio acima do recorde brasileiro da categoria: seu tempo é 2’00”93; a marca história, 1’58”25. Ao seu lado, nas raias cinco, um garoto do Espírito Santo que ele já tinha visto em outros eventos. Fernando tentava imitar o ídolo Gustavo Borges e o russo Yevgeny Sadovyi. De Borges copiava o estilo impecável. De Sadovyi, que era um grosso nadando, a estratégia. O russo fazia a maioria das provas em negativo, com a segunda parte mais forte que a primeira. Geralmente enganava os adversários e conseguia ultrapassá-los no sprint final. Era um nadador cerebral que tinha completa noção de sua própria capacidade e não se deixava influenciar por desdobramentos da prova. Fernando só vira Sadovyi nadar ao vivo uma única vez. Foi na piscina na praia, em Copacabana. Mas, ironicamente, Sadovyi perdeu para um desconhecido que lhe aplicou a mesma tática.
O juiz assopra o apito para que todos subam no bloco de partida. Fernando tenta apagar todos os pensamentos para focar somente na largada. Já havia imaginado como seria cada centímetro dos 200m. A queda na água, as pernadas até o corpo emergir, as braçadas por volta, as respirações, a distribuição da força, tudo. Tinha repassado cada detalhe até chegar ao nervosismo, antes de ir para o banco de concentração. “Às suas marcas”, pede o juiz e todos se abaixam: BIP. Os oito competidores mergulham.
Fernando sente a água gelada pelo corpo e, imediatamente, começa a bater as pernas. Em menos de um segundo, já emerge e roda os braços imprimindo um ritmo forte. Ao seu lado o capixaba dispara. Dá um tiro de 50m como se a prova fosse outra, mais curta. Fernando raciocina que ele deve fazer a sua prova, sem pensar nos adversários que, provavelmente, vão “morrer” antes do final. O garoto da raia cinco, entretanto, abre quase um corpo antes da primeira virada.
A tática de Fernando é forçar mais a cada 50m, contando que o primeiro quarto de prova seria o mais rápido de qualquer jeito por causa do impulso de largada. Logo, ao bater na parede, suas pernadas se crispam e ele aumenta a velocidade dos braços. Antes da bandeirinha de 15m, ele já tirou metade da diferença. Já está na cintura. O capixaba segura e consegue manter esta diferença até os 100m. Nova virada e Fernando força mais as braçadas, tentando não perder o estilo, como Borges consegue fazer. Tira um pouco mais da distância para o capixaba, mas o adversário, surpreendentemente, ainda não “morreu”. Fernando tem paciência. “A prova é de 200m”, raciocina debaixo d’água.
A distância de um para o outro se mantém igual até os 150m. Fernando nada nas costelas do raia cinco. Os outros adversários estão distantes. A prova vai ser decidida por esses dois. Ou um ou o outro vai ser campeão brasileiro. Toda a pequena torcida da arquibancada começa a gritar pelo seu favorito.
Na virada, Fernando repete a estratégia de aumentar a velocidade, mas o capixaba também força mais e consegue manter a pequena vantagem. Nos 25m finais, Fernando alcança o ombro do capixaba. Pega o ar mais uma, duas vezes e prende a respiração para o sprint. O adversário retira forças de não se sabe onde e tenta, todo desengonçado, manter a liderança. Fernando mantém o estilo clássico e só aumenta a velocidade. Na bandeirola dos últimos cinco metros não é possível determinar quem está na frente. No “T”, Fernando faz um rolamento maior e se estica todo para bater na borda. A arquibancada está em polvorosa. Alguns gritam de alegria, outros de tristeza, a algazarra é geral. São centésimos de segundos até os dois tirarem os óculos e se virarem ao mesmo tempo para ver o resultado no placar eletrônico...
Toca o despertador. Está na hora de Fernando ir para o trabalho. Antes de se levantar, ele olha o teto branco, vazio, tentando lembrar de cada detalhe do sonho. Já fazia tanto tempo que não nadava que ele nem mais tinha certeza do que aconteceu naquela tarde-noite. Ele tinha ganho ou perdido? Achava, agora, depois do sonho, que vencera.
Na raia quatro, representando o clube Nacional, do Rio de Janeiro, Fernando Barbosa. Ele levanta o braço para se apresentar ao público nas arquibancadas quase vazias. 200m livre, a prova que ele mais gostava de nadar. Balizado com apenas dois segundos e meio acima do recorde brasileiro da categoria: seu tempo é 2’00”93; a marca história, 1’58”25. Ao seu lado, nas raias cinco, um garoto do Espírito Santo que ele já tinha visto em outros eventos. Fernando tentava imitar o ídolo Gustavo Borges e o russo Yevgeny Sadovyi. De Borges copiava o estilo impecável. De Sadovyi, que era um grosso nadando, a estratégia. O russo fazia a maioria das provas em negativo, com a segunda parte mais forte que a primeira. Geralmente enganava os adversários e conseguia ultrapassá-los no sprint final. Era um nadador cerebral que tinha completa noção de sua própria capacidade e não se deixava influenciar por desdobramentos da prova. Fernando só vira Sadovyi nadar ao vivo uma única vez. Foi na piscina na praia, em Copacabana. Mas, ironicamente, Sadovyi perdeu para um desconhecido que lhe aplicou a mesma tática.
O juiz assopra o apito para que todos subam no bloco de partida. Fernando tenta apagar todos os pensamentos para focar somente na largada. Já havia imaginado como seria cada centímetro dos 200m. A queda na água, as pernadas até o corpo emergir, as braçadas por volta, as respirações, a distribuição da força, tudo. Tinha repassado cada detalhe até chegar ao nervosismo, antes de ir para o banco de concentração. “Às suas marcas”, pede o juiz e todos se abaixam: BIP. Os oito competidores mergulham.
Fernando sente a água gelada pelo corpo e, imediatamente, começa a bater as pernas. Em menos de um segundo, já emerge e roda os braços imprimindo um ritmo forte. Ao seu lado o capixaba dispara. Dá um tiro de 50m como se a prova fosse outra, mais curta. Fernando raciocina que ele deve fazer a sua prova, sem pensar nos adversários que, provavelmente, vão “morrer” antes do final. O garoto da raia cinco, entretanto, abre quase um corpo antes da primeira virada.
A tática de Fernando é forçar mais a cada 50m, contando que o primeiro quarto de prova seria o mais rápido de qualquer jeito por causa do impulso de largada. Logo, ao bater na parede, suas pernadas se crispam e ele aumenta a velocidade dos braços. Antes da bandeirinha de 15m, ele já tirou metade da diferença. Já está na cintura. O capixaba segura e consegue manter esta diferença até os 100m. Nova virada e Fernando força mais as braçadas, tentando não perder o estilo, como Borges consegue fazer. Tira um pouco mais da distância para o capixaba, mas o adversário, surpreendentemente, ainda não “morreu”. Fernando tem paciência. “A prova é de 200m”, raciocina debaixo d’água.
A distância de um para o outro se mantém igual até os 150m. Fernando nada nas costelas do raia cinco. Os outros adversários estão distantes. A prova vai ser decidida por esses dois. Ou um ou o outro vai ser campeão brasileiro. Toda a pequena torcida da arquibancada começa a gritar pelo seu favorito.
Na virada, Fernando repete a estratégia de aumentar a velocidade, mas o capixaba também força mais e consegue manter a pequena vantagem. Nos 25m finais, Fernando alcança o ombro do capixaba. Pega o ar mais uma, duas vezes e prende a respiração para o sprint. O adversário retira forças de não se sabe onde e tenta, todo desengonçado, manter a liderança. Fernando mantém o estilo clássico e só aumenta a velocidade. Na bandeirola dos últimos cinco metros não é possível determinar quem está na frente. No “T”, Fernando faz um rolamento maior e se estica todo para bater na borda. A arquibancada está em polvorosa. Alguns gritam de alegria, outros de tristeza, a algazarra é geral. São centésimos de segundos até os dois tirarem os óculos e se virarem ao mesmo tempo para ver o resultado no placar eletrônico...
Toca o despertador. Está na hora de Fernando ir para o trabalho. Antes de se levantar, ele olha o teto branco, vazio, tentando lembrar de cada detalhe do sonho. Já fazia tanto tempo que não nadava que ele nem mais tinha certeza do que aconteceu naquela tarde-noite. Ele tinha ganho ou perdido? Achava, agora, depois do sonho, que vencera.
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