Há quase uma semana do desastre na Lagoa, com a morte de cinco garotos e garotas, os assuntos acidente de trânsito + jovens embriagados + falsificação de documentos não saem de moda. Na minha humilíssima opinião, isso acontece por dois fatores: 1) a falta de assunto dos jornais em um fim de semana de quatro dias – por ocasião do feriado; 2) o confronto com a morte de seres, em tese, imortais: os pré-adultos.
A morte, principalmente para meninos e meninas que nem saíram das casas dos pais, é um tema que choca e muito a choldra. Os envolvidos – pais e filhos – acreditam, como num dogma religioso, que vão morrer antes (os primeiros) e que nunca vão morrer (os segundos). É complicado quebrar a fé nesses aspectos.
Além disso, todo o evento é muito familiar (sem trocadilho) para o povo de classe-média. Eles se vêem na posição de um dos mortos. Seja o motorista irresponsável, sejam as três amigas que vão dormir na casa de uma delas, seja o carona.
Não senti nenhum tipo de pena ou remorso – pelo contrário, admito – porque sempre fui muito, digamos, disciplinado para passar por uma situação semelhante. Sou daqueles (chatos) que respeitam as regras e agem da maneira correta, sempre (quase sempre, vá lá). Até que...
Até que, hoje, leio a carta escrita a várias mãos, por familiares de um dos mortos, o mais velho, o carona do sexo masculino. E, já pela chamada, senti uma pontada aqui dentro, aquele sentimento inexplicável que tanto pode ser um nó na garganta, um aperto no coração ou um frio na barriga. Dizia que o menino, de 22 anos, quase a minha idade, escolhera não dirigir, quando fez 18.
Os argumentos eram basicamente de origem da responsabilidade para com o carro. Ou seja, estacionamento, preocupações com flanelinhas, receios de assaltos e furtos, necessidade de parar de beber para dirigir... Enfim. Na carta resumiam os motivos em (acho que foi algo assim): “ficar refém (ou escravo) do carro”. Se colocassem um medo excessivo de causar acidentes e machucar outrem, poderiam dizer que o personagem da missiva sou eu. Ou seja, de certa forma, arranjei o sujeito para com quem me identificar.
Mas, não sei. Não senti nada muito especial. Não fiquei exatamente triste. No fim e no fundo, creio que talvez seja porque encaro – de maneira arreligiosa, por favor – a morte de uma maneira mais prática. Não quero parecer egoísta e não pensar nos outros. Entretanto, como é algo inevitável, fico pensando “e por que não agora?” e isso me mostra que este pode ser o último momento da minha vida. Não é um incentivo ao carpe diem, mas uma proposta de encarar a morte como algo mais, digamos, óbvia.
Mais uma vez: sei lá. Acho que isso tudo é apenas obra da minha falta generalizada de projetos em longo prazo. Da minha ausência de sonhos e de planos concretos para a minha vida. Porém, seria isso um grande erro do meu caráter?
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