"Pequena Miss Sunshine" segue o principal mandamento da cartilha dos filmes americanos ditos alternativos: foca a sua trama em conflitos de família. Isso prova algumas coisas: a) o núcleo familiar americano está se desfacelando; b) é ainda possível fazer alguma coisa boa com uma temática tão explorada.
"Pequena..." é leve, diferentemente dos seus pares - de "A lula e a baleia" a "Igby goes down". Eles (os diretores Jonathan Dayton e Valerie Faris que dirigiam clipes de gente como R.E.M., Red Hot, Weezer...) forçam a caricatura - no bom sentido - dos personagens estruturais. Tipo: o pai é um professor de um curso de auto-ajuda. O filho é um adolescente estudioso de Nietzsche que faz voto de silêncio para entrar na academia de aviação. O avô é um ex-atual-hippie desbocado e junkie. O tio é gay, intelectual e que tentou o suicídio há pouco tempo. A mãe tenta juntar os retalhos dessa colcha multi-facetada. E a filhinha é a cherry on the top. Feliz, alegre, aquela que aponta o caminho de toda a história.
Com momentos impagáveis, roteiro (o primeiro de Michael Arndt) muitíssimo bem amarrado, situações hilárias, a "Pequena Miss Sunshine" reflete situações do cotidiano de qualquer um que o veja. Uma espécie de comédia da vida privada só que elevada ao cubo.
Já "Dália Negra"... Brian De Palma não é lembrado - nem será - como um diretor que inovou na arte de narrar histórias no cinema. Suas incursões mais famosas foram homenagens ao seu cineasta preferido (Hitchcock), vide "Vestida para matar" e "Dublê de corpo". Em outros momentos, ele cita cineastas clássicos, como na cena da escada de "Os intocáveis" que evoca "O encouraçado Potemkin", ou "Scarface" que é um remake.
Isso tudo para dizer que Brian De Palma é um excelente diretor. Com "Dália...", podemos comprovar isso. Todas as cenas parecem desenhadas, de tão perfeitas. Todo o clima de filmes noir foi reconstruído. Parece que assistimos a um filme de 1940. E é exatamente nisso que ele peca: parece que assistimos a um filme de 1940! O longa tem duas horas, mas pareceram umas sete para mim. Só não olhei para o relógio algumas vezes porque não tenho relógio.
Nada contra os filmes de 1940 - eu, particularmente, os adoro -, mas parece que víamos uma sucessão de imagens que estávamos acostumados desde antes de nascermos. Tudo era igual a alguma coisa que já tínhamos visto. Em uma palavra: chato.
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