Vi esta semana, com anos de atraso, "Big fish", numa versão dublada em espanhol*. O filme de Tim Burton é ótimo, divertidíssimo, mas não uma obra-prima. Aborda um tema que me é extremamente interessante e que pode ser resumido na idéia de "contar histórias".
De maneira geral, o filme mostra a briga entre um pai e seu filho porque o velho contaria muitas mentiras sobre a vida própria e a em comum. O tom é de fábula, ou melhor, de fantasia. O protagonista, o pai ainda jovem vivido por Ewan McGregor, é otimista, corajoso, romântico e extremamente sedutor. Ao relatar uma história, consegue a atenção das pessoas em sua volta. E, apesar de viver como um "simples" vendedor de quinquilharias, narra a sua trajetória como se fosse um herói.
Pausa para dizer que Borges - será que algum dia vou citar outra pessoa? - dizia que o conto, a estrutura narrativa curta, é o arcabouço literário por definição. Porque, desde que o hominídeo conseguiu grunhir e travar comunicação com outro sujeito parecido com ele, as pequenas histórias existem, sejam ficções, não-ficções ou qualquer outro nome que você possa / queira dar.
O argentino dizia que o conto sintetizava todas as outras formas narrativas. É possível resumir um romance em poucas palavras, por exemplo. Também é viável narrar / interpretar uma poesia, ou um filme, ou qualquer outro tipo de arte. Por isso ele - Borges - sugeria que os textos deveriam ter uma tradição oral - muito influenciado, claro, pelo fato de ele ter ficado cego muito novo.
Juntando as duas informações, pode-se perceber que a literatura sempre existirá como forma de contar uma história - ou a mesma história, para ficarmos em outra citação borgeana. E que o homem sempre vai se interessar em ouvi-las, lê-las, contá-las.
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* a internet tem dessas coisas. Me forneceu filmes como "The science of the sleep", do Gondry, e "Tristam Shandy", do Winterbottom, anos antes de alguma distribuidora acordar; e só uma versão dublada em espanhol do americaníssimo "Big Fish".
sábado, 21 de abril de 2007
terça-feira, 10 de abril de 2007
Enciclopédia
Talvez o único personagem que Borges criou e se repetiu em mais de um único texto - com a exceção óbvia do personagem Borges, claro - é o investigador H. Busto Domecq. O sujeito, diferentemente dos outros faros-finos, investiga crimes literários. Claro que os "crimes literários" aí são escolhidos por Borges e Bioy Casares - ou outro autor de Domecq. Lembro de um sujeito que quer descrever completamente os objetos e perde a vida inteira numa colher (era colher?) Também não é novidade que o argentino tinha uma fascinação por enciclopédias.
Mas, por que eu estou escrevendo isso? Sei lá. Aproveitem.
Mas, por que eu estou escrevendo isso? Sei lá. Aproveitem.
sábado, 7 de abril de 2007
Distribuição
Publiquei o "A primeira pessoa" no overmundo. Por mais incrível que pareça, em algum momento ele se tornou o link mais votado. Por sorte, registrei o momento.
domingo, 1 de abril de 2007
O melhor de todos os tempos
Dorrit Harrazim escreveu boa parte do que eu penso sobre o Michael Phelps n'O Globo - link indisponível depois da reformulação. Ela só teve a desvantagem de escrever quando o garoto tinha "só" seis ouro. Agora, ele já tem o sétimo. Com direito a seis recordes mundiais - se não me falha a memória, que normalmente falha. Só não conseguiu a oitava medalha porque, na eliminatória do 4x100 medley, o vice e recordista mundial dos 100m borboleta, Ian Crocker, queimou.
Fica a pergunta: teria sido uma espécie de vingança de Crocker contra Phelps, porque o melhor-de-todos-os-tempos havia vencido a prova dele? Ele perderia uma medalha de ouro, mas Phelps não bateria o recorde de sete ouros em uma mesma grande competição, como Olimpíada e/ou Mundial, feito só alcançado pelo Spitz em 1972 (com direito aos sete recordes mundiais, se não me falha... você sabe.)
Deixando a teoria da conspiração de lado, Harrazim argumenta brilhantemente, como sempre, que Phelps não precisava de números para ser considerado o melhor de todos os tempos. Não foram os números que fizeram Michael Jordan ser o melhor no basquete - apesar de ter colaborado bastante.
Phelps seria o melhor porque, escreve Harrazim, teria o melhor estilo em todos os estilos. Seria o nadador polivalente, numa época de especialistas. O nadador de medley por excelência, o sujeito que é tão bom em tudo, que quebra a máxima de não ser o melhor em nada. Phelps, parafraseando Romário, o melhor-de-todos-os-tempos na grande área, é o cara.
Felizmente ele não nada os 100m livre, o que mantem a esperança para o César Cielo Filho, vulgo cabelos louros. Já Thiago Pereira... Bem... Podemos nos contentar com, considerando a evolução do garoto, a medalha de prata.
Fica a pergunta: teria sido uma espécie de vingança de Crocker contra Phelps, porque o melhor-de-todos-os-tempos havia vencido a prova dele? Ele perderia uma medalha de ouro, mas Phelps não bateria o recorde de sete ouros em uma mesma grande competição, como Olimpíada e/ou Mundial, feito só alcançado pelo Spitz em 1972 (com direito aos sete recordes mundiais, se não me falha... você sabe.)
Deixando a teoria da conspiração de lado, Harrazim argumenta brilhantemente, como sempre, que Phelps não precisava de números para ser considerado o melhor de todos os tempos. Não foram os números que fizeram Michael Jordan ser o melhor no basquete - apesar de ter colaborado bastante.
Phelps seria o melhor porque, escreve Harrazim, teria o melhor estilo em todos os estilos. Seria o nadador polivalente, numa época de especialistas. O nadador de medley por excelência, o sujeito que é tão bom em tudo, que quebra a máxima de não ser o melhor em nada. Phelps, parafraseando Romário, o melhor-de-todos-os-tempos na grande área, é o cara.
Felizmente ele não nada os 100m livre, o que mantem a esperança para o César Cielo Filho, vulgo cabelos louros. Já Thiago Pereira... Bem... Podemos nos contentar com, considerando a evolução do garoto, a medalha de prata.
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