A história da morte dos três garotos do Morro da Providência só piorou de sábado para domingo. A primeira informação era: os jovens tinham sumido. Os moradores acusavam os militares. Já era ruim a desconfiança cair sobre o Exército. Nota oficial da força armada negou envolvimento e disse que tinham liberado os três, após revista. Protesto, ônibus queimados, tiroteio, empurra-empurra, violência.
No dia seguinte, a partir da tarde, o caldo foi azedando aos poucos. Primeiro acharam os três corpos jogados num lixão em Caxias. Em seguida, mais protesto, passeata, acusações, confusão e, novamente, violência. Ou seja, os militares tinham, certamente, ligação com, não um desaparecimento momentâneo, i.e., seqüestro, mas com a morte de três caras que tinham menos que a minha idade.
À noite, a pior notícia – para os militares, porque, para todos, a pior havia sido ter encontrado o corpo deles em um lixão. A tropa levou os meninos para a Mineira, cujos traficantes são rivais dos da Providência. Ou seja, além de seqüestro, homicídio, ligação com traficantes de drogas. (Também vale ressaltar a irracionalidade dos traficantes que se matam – com requintes de crueldade - apenas porque são de outro endereço. Algo só comparável a idiotice das guerras entre torcidas organizadas – muitas vezes do mesmo time!)
Na segunda, se descobriu que os sujeitos foram torturados, tiveram – dois deles – as mãos cortadas fora e o outro, a perna. E, então, chegamos ao fundo de uma história triste, muito triste. Não sem antes ter mais protesto em frente ao quartel general do Exército, tiros, bombas, fogo, pedras, violência
O assunto chocou muitas pessoas, e de diferentes classes sociais, por motivos variados e que fogem da obviedade. Os garotos, dois com alguma passagem na polícia, um terceiro, com familiares envolvidos com o tráfico de drogas, foram levados pelos militares a um capitão por terem desacatado a tropa. O oficial disse que deveriam soltá-los. Mas o tenente não aceitou as ordens superiores e decidiu, by his own, aplicar uma lição nos garotos. Encontramos outro problema: a insubordinação.
Se coloquei no parágrafo que eles não eram santos, foi para deixar claro que, nem se eles tivessem cometido o pior dos crimes – pensem em algo escabroso – a atitude dos militares deveria ser essa. Primeiro pela ilegalidade – óbvia – segundo pela crueldade.
Mas a questão chocou a classe média simplesmente porque, órfãos da ditadura, ainda acreditavam que os militares, e o Exército é a arma mais representativa das três, seriam a última alternativa para resolver o problema da insegurança pública. Como se pensassem, "quando os militares tomarem os morros, tudo vai funcionar". Ou, "quero ver os traficantes encararem o Exército".
Agora a ilusão de que as fardas são a salvação terminou. Descobrimos que os militares são tão ruins e cruéis como qualquer outro funcionário da segurança pública que vive nas ruas, em contato com traficantes, milicianos, bicheiros e outras corporações ilegais.
Além de percebermos que compartilhamos da culpa no episódio da tortura e da morte dos três rapazes ao apoiar ou desejar que os militares combatessem o tráfico nos morros (ou seja, bem longe "da gente"), nos sentimos sem hipóteses para resolver o problema da criminalidade. Como se tivéssemos jogado nossa última carta. Estamos, agora, sozinhos e sem esperança alguma. Sobrou apenas o pessimismo.
2 comentários:
Gostei do estiiiilo mais opinativo, Ronaldo...;)
abraços e e promessas de novas visitas.
Maga
Opinião é o que não (me) falta, amigo Magajones.
Abracios.
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