Na Rua Jardim Botânico, havia uma loja de roupas cujo muro era ilustrado por duas pinturas de mulheres. A primeira tinha os cabelos esvoaçantes e a segunda usava um vestido que imitava tijolos. Ambas tinham traços que me encantavam pela simplicidade e delicadeza, além de serem sensuais. Aproveitavam bem o espaço urbano, tinham uma ginga, eram melífluas, sedutoras, calmas e tranqüilas.
Foram cobertas, esta semana, por uma camada de tinta branca, que logo recebeu desenhos de uns bichinhos. A loja de roupas se transformou em uma veterinária. Ou em uma pet shop, como se diz em português. Ainda não consegui reparar nos novos habitantes do muro, mas admito que, mesmo que gostasse bastante das antigas imagens, não fiquei triste com a mudança.
A arte das ruas é a maior representante do nosso tempo histórico. E a sua fugacidade só mostra como vivemos no hoje-em-dia. Somente lembramos de alguns detalhes do todo. Somos especialistas em nada. Ou melhor, em generalizações. Acumulamos informações inócuas, umas sobre as outras, como delle lasagne, e sentimos o gosto só do molho. A massa fica escondida.
Já vou esquecendo os traços de uma das mulheres do muro.
ps. Achei o rapaz.
E tenho que fazer uma correção: a loja sempre foi - ou já era há muito tempo - uma loja para bichos. Como se vê aqui.
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