Existem épocas em que personagens incríveis, de relevância internacional e atemporal, viveram ao mesmo tempo, bebendo da mesma água, e pagando o mesmo iptu. Coincidência? Talvez.
O jornalista Élio Gaspari fala sempre, por exemplo, dos fundadores dos EUA (para ficar nos mais famosos): George Washington, John Adams, Benjamin Franklin e Thomas Jefferson. Cientistas, humanistas, cervejeiros (reza a lenda), maçons, eles fundaram a primeira nação americana livre do jugo da Europa, com uma Constituição que influenciou até a Revolução Francesa, 13 anos mais jovem. Não é todo dia que conseguimos reunir numa mesma frase quatro políticos que conviveram e deixaram um legado que não quer dizer contas para o seu sucessor. Suspeito que os EUA são o que são a potência que são hoje em dia por causa desses moços aí.
Porém não é só na questão política que isso acontece. Nas artes, é mole citar um monte de exemplos. De cabeça: o cineasta Luis Buñuel, o pintor Salvador Dalí e o poeta Federico García Lorca foram amigos no início da carreira - depois, brigaram por questões políticas (aliás, há até um filme sobre esse encontro, com o galãzinho Robert Pattinson fazendo o Dalí). Já Leonardo da Vinci e Michelangelo di Buonarroti, os maiores artistas do maior movimento artístico de todos os tempos, o Renascimento, até conviveram na mesma casa, a dos Médici, mas nunca foram exatamente amigos, por questões de ciúmes. Isso para não falar do restante do time, que vai de Donatello até Rafael, para completar as tartarugas ninjas.
Mas o meu período favorito é a passagem do século v para o iv a. C., na Grécia. A sequência Sócrates, Platão, Aristóteles (e, se quiserem continuar, Alexandre, o grande) é matadora. Melhor que a anterior, a dos fundadores da filosofia, do pessoal lá de Mileto, Tales que foi o professor de Anaxímenes e Anaximandro. Tirando Tales, ninguém normal ouviu falar dos outros dois. Já de Sócrates-Platão-Aristóteles, posso suspeitar que viraram até sinônimo para pessoas sábias. Inclusive, a grossíssimo modo, os três sugeriram os moldes pela qual hoje em dia nossa sociedade está moldada. Se voltarmos um pouquinho, coisa de um século, ainda vamos ter Heródoto, primeiro historiador, Hipócrates, pai da medicina, o nascimento do teatro trágico...
Deve ser a água... NOT.
quarta-feira, 31 de março de 2010
segunda-feira, 29 de março de 2010
A leitura e as leituras de "O senhor das moscas"
O melhor momento para falar sobre um livro é quando ainda estamos no meio dele. A empolgação está no ponto máximo e você não corre ainda o risco de estragar o prazer dos outros com spoilers sobre o fim. Essa é uma teoria minha, mas você pode repeti-la por aí, sempre citando a fonte, claro. (Bem provavelmente, para falar a verdade, essa proposta já deve ter sido desenvolvida por alguém mais graduado que eu.)
Isso tudo para dizer que "O senhor das moscas", do inglês William Golding, é tudo isso que falam, mesmo. Entretanto, estou sofrendo de um problema identificado pelo argentino-naturalizado-canadense-que-vive-na-França Alberto Manguel. Em seu "Os livros e os dias", que eu também estou petiscando nesse momento e aconselho muito para quem, como eu, gosta de livros sobre livros, Manguel fala do seu reencontro com 12 obras que marcaram muito a sua vida. Entre elas, "A ilha do doutor Moreau", do mestre H. G. Wells, que ficou conhecida na minha geração pela adaptação estrelada por Marlon Brando (e que você pode ler aqui). Diz Manguel que não consegue, agora, ter uma leitura simples da história. Sempre faz referências, busca sentidos ocultos, corre atrás das duplas interpretações, atina para o subtexto e para as metáforas. A aventura fica em segundo lugar.
O mesmo acontece comigo com "O senhor das moscas". Para começar pelo fator principal: um bando de criança perdida numa ilha deserta. Santiago Nazarian, que escreve o prefácio da edição que eu tenho, a de 40 anos da Nova Fronteira, lembra que esse mote de ilha deserta não é novo, dando como exemplos "Robinson Crusoé", de Defoe, "A lagoa azul", para os que assistiam a "Sessão da tarde" e, para os nativos do século xxi, "Lost". Só isso, já começa a pipocar o cérebro com referências. "Top secret", por exemplo, faz uma piada de "A lagoa azul". E mesmo "Lost" tem muito a ver com "O senhor das moscas", com a devida diferença de idade sendo respeitada, claro.
Mas isso não seria problema. A questão é que não consigo ler a obra de Golding sem pensá-la como uma metáfora para os seres humanos em geral. Seria como se Golding tivesse feito uma maquete do mundo, em escala reduzida, tanto no quesito do espaço, quanto na opção da maturidade dos seus participantes. Mas, de certa forma, os meninos se dividem na tal ilha como os homens pela Terra. Com seus medos, neuroses e coragens, além de uma organização falha que não prevê a irracionalidade e a vontade como força motriz de todas as nossas ações.
Os personagens principais, nessa interpretação, seriam arquétipos dos humanos. Mas, acentuando o caráter infantil de suas personalidades. O líder que não consegue comandar a turba revolta. O "intelectual", que não sabe se impor e é sempre ridicularizado. O caçador, que quer resolver todas as questões pela força. O medo do oculto, das forças que estão acima deles, que representaria a religião.
Isso tudo passa pela minha cabeça quando o que eu queria era apenas acompanhar a aventura desses meninos perdidos numa ilha deserta. Ficar espantado quando eles ficarem, feliz com suas descobertas, ansioso pelos perigos a enfrentar. Tudo bem, não acho que é um problema muito grande para uma história que foi vendida como "alegórica".
"Lord of the flies" foi adaptado várias vezes para o cinema:
Versão de 1990
Versão de 1963
Isso tudo para dizer que "O senhor das moscas", do inglês William Golding, é tudo isso que falam, mesmo. Entretanto, estou sofrendo de um problema identificado pelo argentino-naturalizado-canadense-que-vive-na-França Alberto Manguel. Em seu "Os livros e os dias", que eu também estou petiscando nesse momento e aconselho muito para quem, como eu, gosta de livros sobre livros, Manguel fala do seu reencontro com 12 obras que marcaram muito a sua vida. Entre elas, "A ilha do doutor Moreau", do mestre H. G. Wells, que ficou conhecida na minha geração pela adaptação estrelada por Marlon Brando (e que você pode ler aqui). Diz Manguel que não consegue, agora, ter uma leitura simples da história. Sempre faz referências, busca sentidos ocultos, corre atrás das duplas interpretações, atina para o subtexto e para as metáforas. A aventura fica em segundo lugar.
O mesmo acontece comigo com "O senhor das moscas". Para começar pelo fator principal: um bando de criança perdida numa ilha deserta. Santiago Nazarian, que escreve o prefácio da edição que eu tenho, a de 40 anos da Nova Fronteira, lembra que esse mote de ilha deserta não é novo, dando como exemplos "Robinson Crusoé", de Defoe, "A lagoa azul", para os que assistiam a "Sessão da tarde" e, para os nativos do século xxi, "Lost". Só isso, já começa a pipocar o cérebro com referências. "Top secret", por exemplo, faz uma piada de "A lagoa azul". E mesmo "Lost" tem muito a ver com "O senhor das moscas", com a devida diferença de idade sendo respeitada, claro.
Mas isso não seria problema. A questão é que não consigo ler a obra de Golding sem pensá-la como uma metáfora para os seres humanos em geral. Seria como se Golding tivesse feito uma maquete do mundo, em escala reduzida, tanto no quesito do espaço, quanto na opção da maturidade dos seus participantes. Mas, de certa forma, os meninos se dividem na tal ilha como os homens pela Terra. Com seus medos, neuroses e coragens, além de uma organização falha que não prevê a irracionalidade e a vontade como força motriz de todas as nossas ações.
Os personagens principais, nessa interpretação, seriam arquétipos dos humanos. Mas, acentuando o caráter infantil de suas personalidades. O líder que não consegue comandar a turba revolta. O "intelectual", que não sabe se impor e é sempre ridicularizado. O caçador, que quer resolver todas as questões pela força. O medo do oculto, das forças que estão acima deles, que representaria a religião.
Isso tudo passa pela minha cabeça quando o que eu queria era apenas acompanhar a aventura desses meninos perdidos numa ilha deserta. Ficar espantado quando eles ficarem, feliz com suas descobertas, ansioso pelos perigos a enfrentar. Tudo bem, não acho que é um problema muito grande para uma história que foi vendida como "alegórica".
"Lord of the flies" foi adaptado várias vezes para o cinema:
Versão de 1990
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sexta-feira, 19 de março de 2010
Roteiro de curta "A charlatã"
Enviei um roteiro que fiz sem pretensão para participar de um concurso. Como duvido que vá ser selecionado, vou publicar aqui o argumento e, para quem se interessar, o próprio roteiro. Foi divertido escrevê-lo.
A CHARLATÃ
“A charlatã” mostra que quando procuramos algo, sempre encontramos alguma coisa, mas não necessariamente o que queríamos de início. Isso pode até ser decepcionante para certas pessoas. Entretanto, se estivermos prontos para receber essa surpresa do destino, conseguimos descobrir um pouco mais sobre nós mesmos. “A charlatã” é um filme a favor da ação, contra a morosidade. E principalmente a favor do bom humor, mas sem que para isso precise ser raso. Pelo contrário.
No curta, acompanhamos Marta Carneiro de Bragança, uma viúva rica de mais de 50 anos. Após a morte do marido, Marta se sente cada vez mais sozinha e começa, a seu modo, procurar um sentido para a sua vida. Desesperançada, ela opta por uma vidente, de quem tinha recebido um folheto na rua.
A vidente, Madame Teresa, é uma mulher sofrida, que já passou por vários problemas na vida, mas que sempre conseguiu rir das próprias desgraças. Tem duas filhas, Juliana, de 17 anos, e Carol, de 12, com quem mora, e faz trabalhos religiosos para manter a casa. Por causa das dificuldades, ela apela para “todos os santos”, literalmente, além de praticar “terapias alternativas”, como a regressão.
Apesar do pouco estudo, Madame é esperta e sabe quais são as tendências do momento, optando, por exemplo, por chamar suas clientes de “pacientes”. Entretanto, como trabalha em casa, muitas vezes divide o espaço com as filhas e com o ambiente doméstico, o que causa confusões e cenas cômicas.
A filha mais velha, Juliana, está na fase em que só se preocupa com o namorado, além de achar que a mãe defende a irmã mais nova, Carol, que é uma ótima estudante do colégio. Marta faz a regressão – a primeira verdadeira de Madame, que se surpreende – e descobre que em outra vida fora uma mendiga. Aquilo a atordoa sobremaneira e ela sai da casa de Madame sem falar com ninguém, deixando inclusive a bolsa para trás.
Dias depois, Marta telefona para Madame pedindo mais: queria saber mais sobre o seu passado, de maneira mais... real. Madame, com todo o seu espírito empreendedor, inventa na hora uma nova modalidade, aproveitando a deixa: iria tentar fazer uma regressão realística. Marta aceita.
Madame dopa Marta que acorda no meio de uma rua antiga, que foi “maquiada” por Madame e um grupo que ela coordenou para parecer do século XIX. Quando Marta acorda, fica espantada com a realidade da cena e, também, com detalhes que não se encaixam no quadro, como homens com relógios de pulso, gente usando calça jeans, e um menino de brincos. Marta fica tão chocada com a sequência que desmaia.
Quando acorda, muitas horas depois, está no quarto de Madame, com várias pessoas que tinham participado da “reconstituição”. Todos estão preocupados e ficam felizes quando a veem. Madame, que tinha enganado a paciente, diz que vai contar tudo, mas Marta a abraça dizendo apenas “obrigado”.
***
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A CHARLATÃ
“A charlatã” mostra que quando procuramos algo, sempre encontramos alguma coisa, mas não necessariamente o que queríamos de início. Isso pode até ser decepcionante para certas pessoas. Entretanto, se estivermos prontos para receber essa surpresa do destino, conseguimos descobrir um pouco mais sobre nós mesmos. “A charlatã” é um filme a favor da ação, contra a morosidade. E principalmente a favor do bom humor, mas sem que para isso precise ser raso. Pelo contrário.
No curta, acompanhamos Marta Carneiro de Bragança, uma viúva rica de mais de 50 anos. Após a morte do marido, Marta se sente cada vez mais sozinha e começa, a seu modo, procurar um sentido para a sua vida. Desesperançada, ela opta por uma vidente, de quem tinha recebido um folheto na rua.
A vidente, Madame Teresa, é uma mulher sofrida, que já passou por vários problemas na vida, mas que sempre conseguiu rir das próprias desgraças. Tem duas filhas, Juliana, de 17 anos, e Carol, de 12, com quem mora, e faz trabalhos religiosos para manter a casa. Por causa das dificuldades, ela apela para “todos os santos”, literalmente, além de praticar “terapias alternativas”, como a regressão.
Apesar do pouco estudo, Madame é esperta e sabe quais são as tendências do momento, optando, por exemplo, por chamar suas clientes de “pacientes”. Entretanto, como trabalha em casa, muitas vezes divide o espaço com as filhas e com o ambiente doméstico, o que causa confusões e cenas cômicas.
A filha mais velha, Juliana, está na fase em que só se preocupa com o namorado, além de achar que a mãe defende a irmã mais nova, Carol, que é uma ótima estudante do colégio. Marta faz a regressão – a primeira verdadeira de Madame, que se surpreende – e descobre que em outra vida fora uma mendiga. Aquilo a atordoa sobremaneira e ela sai da casa de Madame sem falar com ninguém, deixando inclusive a bolsa para trás.
Dias depois, Marta telefona para Madame pedindo mais: queria saber mais sobre o seu passado, de maneira mais... real. Madame, com todo o seu espírito empreendedor, inventa na hora uma nova modalidade, aproveitando a deixa: iria tentar fazer uma regressão realística. Marta aceita.
Madame dopa Marta que acorda no meio de uma rua antiga, que foi “maquiada” por Madame e um grupo que ela coordenou para parecer do século XIX. Quando Marta acorda, fica espantada com a realidade da cena e, também, com detalhes que não se encaixam no quadro, como homens com relógios de pulso, gente usando calça jeans, e um menino de brincos. Marta fica tão chocada com a sequência que desmaia.
Quando acorda, muitas horas depois, está no quarto de Madame, com várias pessoas que tinham participado da “reconstituição”. Todos estão preocupados e ficam felizes quando a veem. Madame, que tinha enganado a paciente, diz que vai contar tudo, mas Marta a abraça dizendo apenas “obrigado”.
quarta-feira, 10 de março de 2010
Convite Sérgio Rodrigues
Não o conheço pessoalmente, mas já acompanho o seu blog há muito tempo, e li e gostei do seu primeiro livro, "O homem que matou o escritor". Por isso, mesmo que esse blog aqui não tenha quase nenhuma visita, vou fazer uma propaganda para o lançamento do livro do Sérgio Rodrigues. Vai que convenço alguém.
terça-feira, 9 de março de 2010
quinta-feira, 4 de março de 2010
'Lost' é uma droga
Admito: sou viciado em "Lost". E estou há um dia sem ver.
Tudo começou na segunda temporada. Enquanto o mundo falava sobre o grupo de perdidos na selva, eu implicava com séries em geral. Até que seu Carlão, mancomunado com dona Cláudia Croitor, me emprestou o box da primeira temporada. Em pouquíssimas semanas, já era irreversível. A partir daí, e nos anos seguintes, o meu vício só se aprofundou.
Mas isso não quer dizer que o usuário não repara na qualidade do entorpecente que ele está consumindo. E a temporada desse ano - logo a final - está meio malhada. Nem digo pelas repetições de temas, pelas andadas na selva para encher linguiça, ou qualquer outro problema facilmente identificável. Já perdi há muito o limite dessas nuances.
Mas é que preciso de alguma coisa mais forte. Não dá para, agora, nos finalmente, colocar um good e um bad guy para fazer, cada um, sua turminha e no fim guerrearem, como se fossem quadrinhos para adolescente. O que era legal em "Lost" era exatamente a ambiguidade dos seus personagens e das suas situações. A surpresa em relação ao que era certo e ao que era errado. Mostrar seus vilões como sujeitos também capazes de coisas boas. Enfim, gente, como qualquer viciado.
Agora, tá tudo preto no branco. Lado A x Lado B. Menino ou menina. Uma divisão maniqueista que nem a Xuxa deve usar mais.
Só aceito essa divisão se, daqui a pouco, me mostrarem que, na verdade, o Locke-do-mal é, na verdade, o cara por quem torcer, a.k.a., o herói. E o Jacob, bem, o Jacob é um mala que só fez besteira a vida inteira. Aí teremos alguma adrenalina. Por enquanto, estou ficando chapado.
Tudo começou na segunda temporada. Enquanto o mundo falava sobre o grupo de perdidos na selva, eu implicava com séries em geral. Até que seu Carlão, mancomunado com dona Cláudia Croitor, me emprestou o box da primeira temporada. Em pouquíssimas semanas, já era irreversível. A partir daí, e nos anos seguintes, o meu vício só se aprofundou.
Mas isso não quer dizer que o usuário não repara na qualidade do entorpecente que ele está consumindo. E a temporada desse ano - logo a final - está meio malhada. Nem digo pelas repetições de temas, pelas andadas na selva para encher linguiça, ou qualquer outro problema facilmente identificável. Já perdi há muito o limite dessas nuances.
Mas é que preciso de alguma coisa mais forte. Não dá para, agora, nos finalmente, colocar um good e um bad guy para fazer, cada um, sua turminha e no fim guerrearem, como se fossem quadrinhos para adolescente. O que era legal em "Lost" era exatamente a ambiguidade dos seus personagens e das suas situações. A surpresa em relação ao que era certo e ao que era errado. Mostrar seus vilões como sujeitos também capazes de coisas boas. Enfim, gente, como qualquer viciado.
Agora, tá tudo preto no branco. Lado A x Lado B. Menino ou menina. Uma divisão maniqueista que nem a Xuxa deve usar mais.
Só aceito essa divisão se, daqui a pouco, me mostrarem que, na verdade, o Locke-do-mal é, na verdade, o cara por quem torcer, a.k.a., o herói. E o Jacob, bem, o Jacob é um mala que só fez besteira a vida inteira. Aí teremos alguma adrenalina. Por enquanto, estou ficando chapado.
quarta-feira, 3 de março de 2010
Para não dizer que não falo de BBB
Rapidamente, só para dizer que não me importo com coisas mundanas: Dourado vai ganhar o BBB10. O problema vai ser aguentar as diversas teorias sobre por que o público o escolheu em vez de outras pessoas tão ou mais simpáticas. Por isso, já que não dá para combater a tropa do pensamento, vou juntar-me a eles, antecipando-me e já colocando agora a minha teoria.
O BBB, como qualquer narrativa, é um gênero de ficção - uma ficção possível, sem roteirista, em que o editor é o principal "personagem". Como uma ficção, se respeita, até intuitivamente, os preceitos já descritos pelos gregos mais antigos, a.k.a. pré-Socráticos. Entre eles: deve ter início-meio-fim (não necessariamente nessa ordem, como lembrou bem Godard na década de 1960) e deve ter personagens que se encaixem nos arquétipos universais e eternos.
Por isso, Dourado vai ganhar. Ele é o líder carismático desse ano. É o cara que, assim como "O príncipe", de Maquiavel, cutuca e afaga. Sabe ser cruel e simpático. Sabe bater e dar o rosto para, fingidamente, apanhar - um pouco. Além disso, ainda tem a figura do retorno do filho pródigo. O cara já passou por outro BBB. É curiosa essa construção, do homem mais experiente que voltou para vencer.
Mas, voltando, o cara não é só manipulador: é o personagem em que todas as qualidades negativas vão se transformar em positivas. Foi escroto com fulana? Ela mereceu. Traiu um pacto pré-firmado? Não teve alternativa. Fez uma opção inadequada? É assim mesmo, é do jogo. Com ele, nada vai colar. Dourado é o próximo milionário brasileiro
ps. Isso não quer dizer que eu estou torcendo por ele. Eu não torço para BBB. Isso não faz qualquer sentido para mim.
pps. Gostei muito mais do episódio que vi ontem de "House". A paciente morre. E Wilson sugere para o negão - cujo nome não sei e que era o principal responsável pela morte da mulher - para freak out. Isso sim merece uma teoria.
O BBB, como qualquer narrativa, é um gênero de ficção - uma ficção possível, sem roteirista, em que o editor é o principal "personagem". Como uma ficção, se respeita, até intuitivamente, os preceitos já descritos pelos gregos mais antigos, a.k.a. pré-Socráticos. Entre eles: deve ter início-meio-fim (não necessariamente nessa ordem, como lembrou bem Godard na década de 1960) e deve ter personagens que se encaixem nos arquétipos universais e eternos.
Por isso, Dourado vai ganhar. Ele é o líder carismático desse ano. É o cara que, assim como "O príncipe", de Maquiavel, cutuca e afaga. Sabe ser cruel e simpático. Sabe bater e dar o rosto para, fingidamente, apanhar - um pouco. Além disso, ainda tem a figura do retorno do filho pródigo. O cara já passou por outro BBB. É curiosa essa construção, do homem mais experiente que voltou para vencer.
Mas, voltando, o cara não é só manipulador: é o personagem em que todas as qualidades negativas vão se transformar em positivas. Foi escroto com fulana? Ela mereceu. Traiu um pacto pré-firmado? Não teve alternativa. Fez uma opção inadequada? É assim mesmo, é do jogo. Com ele, nada vai colar. Dourado é o próximo milionário brasileiro
ps. Isso não quer dizer que eu estou torcendo por ele. Eu não torço para BBB. Isso não faz qualquer sentido para mim.
pps. Gostei muito mais do episódio que vi ontem de "House". A paciente morre. E Wilson sugere para o negão - cujo nome não sei e que era o principal responsável pela morte da mulher - para freak out. Isso sim merece uma teoria.
segunda-feira, 1 de março de 2010
Verissimo e o exílio
Há muito tempo não lia uma coluna do Verissimo tão boa. Une cultura, história e ironia - suas melhores ferramentas - em doses alopáticas. Trechinhos:
Para começar, (Bechet) tocava saxofone soprano, um instrumento raro no jazz ainda hoje. (Por favor, se você lembrou do Kenny G, pare de ler imediatamente.)Verissimo, ele mesmo, foi um exilado, de certa forma. Não me estranha que no hall de seus escritores favoritos estejam Borges, Nabokov e Conrad.
(...)
Muitos exilados em Paris eram isso, combatentes longe da ação. Viviam no centro do mundo com a sensação de que sua vida devia estar acontecendo em outro lugar. O próprio Bechet se livrou da síndrome porque era tão vaidoso, dizem, que achava que era, pessoalmente, o centro do mundo.
(...)
Em Paris há uma academia de música russa cujo refeitório é aberto ao público. Comida previsível - o estrogonofe, fica-se sabendo, não foi uma invenção de anfitriãs brasileiras nos anos 50, é russo mesmo - mas boa e barata.
(...)
O exílio foi o fato intelectual do século 20, provocou ou inspirou os artistas que não diminuiu. Mas ô século desgraçado.
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