Ensaio feito para a Revista Pessoa, a pedido da Mirna Queiroz, que tentou coadunar os 50 anos de AI-5 aos fortes ventos vindo da extrema-direita e à literatura produzida nos dias de hoje sobre a ditadura civil-militar.
O texto contou com a colaboração de Maria Valéria Rezende, Adriana Lisboa, Ivone Benedetti, Guiomar de Grammont, Euridice Figueiredo, Bernardo Kucinski e grande elenco de leitura.
Um trechinho abaixo
"Talvez seja melhor escrever sobre os nossos fantasmas que tentar esquecê-los, não enfrentá-los. De outra forma, talvez se escreva para produzir uma outra memória (coletiva?), que equilibre as forças e permita aos fantasmas sossegar, em vez de, mesmo que involuntariamente, colaborar para escondê-los, corroborando sem intenção com uma pseudo-conciliação, uma abertura unilateral, em que um dos termos vive sossegadamente apesar das barbaridades que cometeu, e o outro paga por todos os pecados sozinho – como aconteceu com a anistia em 1979, quando torturadores e assassinos não foram julgados, corpos de guerrilheiros desaparecidos, nunca retornados. Talvez se escreva para dar materialidade e concretude às palavras, mesmo as mais duras, como desaparecimento, tortura, morte. É importante enfrentarmos a dor, juntos, em vez de evitá-la. É melhor fazer com que esses fantasmas sejam ouvidos – dar voz a eles, isto é, escrever junto com eles, em consonância. “Fantasmas”, aqui, não são espectros que assustam apenas indivíduos. O escritor é um meio que amplifica a voz de uma coletividade, de uma temporalidade, que infiltra histórias na História grande, oficial, para desestabilizar a versão dos vencedores."
Para ler tudo, aqui.
O texto contou com a colaboração de Maria Valéria Rezende, Adriana Lisboa, Ivone Benedetti, Guiomar de Grammont, Euridice Figueiredo, Bernardo Kucinski e grande elenco de leitura.
Um trechinho abaixo
"Talvez seja melhor escrever sobre os nossos fantasmas que tentar esquecê-los, não enfrentá-los. De outra forma, talvez se escreva para produzir uma outra memória (coletiva?), que equilibre as forças e permita aos fantasmas sossegar, em vez de, mesmo que involuntariamente, colaborar para escondê-los, corroborando sem intenção com uma pseudo-conciliação, uma abertura unilateral, em que um dos termos vive sossegadamente apesar das barbaridades que cometeu, e o outro paga por todos os pecados sozinho – como aconteceu com a anistia em 1979, quando torturadores e assassinos não foram julgados, corpos de guerrilheiros desaparecidos, nunca retornados. Talvez se escreva para dar materialidade e concretude às palavras, mesmo as mais duras, como desaparecimento, tortura, morte. É importante enfrentarmos a dor, juntos, em vez de evitá-la. É melhor fazer com que esses fantasmas sejam ouvidos – dar voz a eles, isto é, escrever junto com eles, em consonância. “Fantasmas”, aqui, não são espectros que assustam apenas indivíduos. O escritor é um meio que amplifica a voz de uma coletividade, de uma temporalidade, que infiltra histórias na História grande, oficial, para desestabilizar a versão dos vencedores."
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