Porém começam a adentrar as grandes vias. Passos lentos e arrastados. Uns carregam armas, a maioria leva paus, barras de ferro, punhos cerrados, cenhos franzidos. Marcha vagarosa cheia de fúria. Rostos esburacados, peles purulentas, cabelos escamados.
Dentro de um carro que ainda trafega, um homem porta no carona seu cilindro de oxigênio. A máscara não lhe cobre os olhos arregalados ao avistar a onda se aproximar pé ante pé. O motorista consome mais oxigênio que o comum. O respirador apita pelo excesso. Ele acelera em direção à multidão. Consegue avançar, arremessa corpos ao alto. O carro para, entalado sobre tantos sujeitos, a roda gira em falso. A turba tenta gritar, mas falta força. Há apenas murmúrios enraivecidos e zumbidos de dor dos que não morreram no choque.
Ao parar, o veículo é assaltado. Pedra nos vidros, ferros na lataria até sacar o motorista. Arrancam seu respirador e um primeiro veste a máscara e sorri imediatamente: acesso inédito a oxigênio em alta concentração. Efêmero. Um segundo o empurra e rouba a máscara e coloca vazando, mas sorrindo, porque era o que se fazia ao cheirar 02 puro. O motorista, esquecido, se debate na atmosfera pobre em oxigênio. Puxa o ar, mas insuficiente, faz um silvo grave pelas vias aéreas. A máscara é disputada. Cada um que a experimenta pensa que respira pela primeira vez. Tanto os que conseguem quanto os que só atingem o placebo se sentem energizados. Há sempre um êxtase, mas tão curto que a memória não registra.
Alguém ruge, os demais entendem. Chega uma senhora, cadeira de rodas, se aproxima da máscara e alguém a veste. O rosto se acende, lembra de um passado longínquo. Completa três ciclos de inspiração, e vemos as cores voltarem um pouco ao rosto, a vivacidade, aos olhos, um sorriso começa a se formar, até que uma mão puxa a máscara outra vez. Antes de se encaixar, outra mão a rouba e acontece um cabo de guerra com a máscara, que se arrebenta. O motorista caído diz “animais” antes de receber pauladas...
Dentro de um carro que ainda trafega, um homem porta no carona seu cilindro de oxigênio. A máscara não lhe cobre os olhos arregalados ao avistar a onda se aproximar pé ante pé. O motorista consome mais oxigênio que o comum. O respirador apita pelo excesso. Ele acelera em direção à multidão. Consegue avançar, arremessa corpos ao alto. O carro para, entalado sobre tantos sujeitos, a roda gira em falso. A turba tenta gritar, mas falta força. Há apenas murmúrios enraivecidos e zumbidos de dor dos que não morreram no choque.
Ao parar, o veículo é assaltado. Pedra nos vidros, ferros na lataria até sacar o motorista. Arrancam seu respirador e um primeiro veste a máscara e sorri imediatamente: acesso inédito a oxigênio em alta concentração. Efêmero. Um segundo o empurra e rouba a máscara e coloca vazando, mas sorrindo, porque era o que se fazia ao cheirar 02 puro. O motorista, esquecido, se debate na atmosfera pobre em oxigênio. Puxa o ar, mas insuficiente, faz um silvo grave pelas vias aéreas. A máscara é disputada. Cada um que a experimenta pensa que respira pela primeira vez. Tanto os que conseguem quanto os que só atingem o placebo se sentem energizados. Há sempre um êxtase, mas tão curto que a memória não registra.
Alguém ruge, os demais entendem. Chega uma senhora, cadeira de rodas, se aproxima da máscara e alguém a veste. O rosto se acende, lembra de um passado longínquo. Completa três ciclos de inspiração, e vemos as cores voltarem um pouco ao rosto, a vivacidade, aos olhos, um sorriso começa a se formar, até que uma mão puxa a máscara outra vez. Antes de se encaixar, outra mão a rouba e acontece um cabo de guerra com a máscara, que se arrebenta. O motorista caído diz “animais” antes de receber pauladas...
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