[N]a região ocidental da Alemanha, havia grande número de associações de planejamento familiar de caráter predominantemente "socialista". Por ocasião da campanha de Wolf-Kienle, em 1931, houve votações sobre a lei do aborto, tendo-se verificado que as mesmas mulheres que votaram no nacional-socialismo ou nos partidos do centro eram pela revogação dessa lei, ao passo que os seus partidos a isso se opunham violentamente. Estas mulheres votaram pelo planejamento familiar, de acordo com os princípios da economia sexual, porque queriam preservar o seu direito à satisfação sexual; mas, simultaneamente, votaram naqueles partidos, não porque desconhecessem as suas intenções reacionárias, mas porque, sem terem consciência dessa contradição, estavam simultaneamente dominadas pela ideologia reacionária da "maternidade pura", da oposição entre maternidade e sexualidade e, especialmente, pela própria ideologia autoritária. Essas mulheres desconheciam o papel sociológico desempenhado pela família autoritária numa ditadura, mas encontravam-se influenciadas pela política sexual reacionária: aceitavam o planejamento familiar, mas temiam a responsabilidade decorrente de um mundo revolucionário.
REICH, Wilhelm. Psicologia de massas do fascismo.