sábado, 27 de outubro de 2007

'Mais som'

Um dos maiores problemas do Tim Festival - e de todos os festivais de música que já fui - é a duração de suas atrações preliminares. Ano passado, com o Shadow, foi constrangedor. Quarenta minutos de apresentação e um disco tocando enquanto ele se despedia. A platéia não entendemos nada.

Esse ano, além de terem brifado erradamente o Antônio e os Joões, que se apresentou num formato "piano show" para uma platéia em pé, ávida por fortes emoções, o show do moço também demorou os cronometrados 40 minutos. Nada de bis, nada de exceção, porque ele ainda ia cantar no outro palco, das Divas.

Mas o pior caso foi o de Björk. Coitada, com quase 20 anos de estrada, teve que se contentar em abrir para os garotos de quase 20 anos do Arctic Monkeys. Com essa idéia de colocar várias atrações em poucos palcos, ela tocou no mesmo espaço físico que os inglesinhos tocariam em seguida. A platéia até mudou - saíram os übermoderns e entraram os teens cool - mas a islandesa, que não cantou nada em islandês, não pôde nem dividir o espaço com o Antônio, do grupo citado ali em cima. O bis foi uma única música. Contentemos-nos e fiquemos contentes.

Apesar dos pesares, a semi-esquimó fez o mais produzido show que presenciei em toda a minha vida. Na segunda música já tinha colocado a platéia completamente no bolso e a partir daí, todas as suas intervenções cênicas - tipo serpentinas, raios laser, as encenações teatrais do coro, etc. - eram deleitadas pelo povão. Os exageros de Björk são legais, vai. Pena que foi curto, tipo uma hora.


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Outra SUPERbola-fora foi o calor de sauna a vapor das tendas. Será que tentaram compensar os anos anteriores em que era gelado como a, ãh, Islândia?


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O trocadilho (infame) do título é em homenagem ao outro Tim, Sebastião Maia.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

De volta para o passado

As minhas férias deste ano foram uma viagem na História. Não houve, diferentemente das últimas, para a Argentina, nenhum momento de êxtase - como quando estávamos em Chálten - ou de identificação extrema - como as caminhadas por Buenos Aires. Funcionou como uma forma de conhecer o passado.

Cada uma das cidades visitadas representavam períodos históricos específicos. Tipo: Roma, império romano, claro; Köln, fim da idade média, período gótico; Florença, Renascimento, época em que Botticelli, Leonardo e Michelangelo conviveram; Berlim, século xx.

Claro que essas determinações não são concretas. E só em um único lugar de Roma, a igreja de São Clemente, próximo do Coliseu, foram encontradas ruínas de um templo em homenagem a uma deusa persa, que foi soterrado por uma igreja do século iv, para onde teriam sido levados os restos mortais do São Clemente, levados por São Cilírico e São Metódico, que por sua vez foi soterrado por uma outra igreja, do século xii, também em homenagem a São Clemente.

Ou em Berlim que, ao lado do Check Point Charlie, o famoso muro foi construído sobre as ruínas de prédios nazistas.

Centenas de anos dos europeus dão uma certa vantagem a eles. Mas isso não quer dizer, é claro, que se tivermos o mesmo tempo histórico, alcançaremos a organização alemã e o passado artístico italiano. Cada país tem os seus problemas particulares e deve conseguir arranjar as suas próprias soluções.

Cheguei a essa conclusão após ficar matutando sobre Cinque Terre, uma região que reúne cinco paesi, na Ligúria, a uma hora de Gênova e cinco minutos de La Spezia, que juntos têm menos de cinco mil habitantes. Os povoadinhos são favelinhas que se transformaram em pontos turísticos porque à beira do Mar Mediterrâneo são, realmente, muito bonitos.

Mas, por mais que a Rocinha e o Vidigal estejam recebendo mais e mais turistas, não posso imaginar que algum dia o Alemão vá ser procurado por um contingente de visitantes muito grande. Além do mais, as favelas do complexo, juntas, têm, provavelmente, mais habitantes que em toda a Ligúria. Ou seja, o nosso caso é, bem, mais complexo.