O novo filme do Michel Gondry, "The Science of the sleep", repete algumas idéias da segunda incursão do francês no longa-metragem - "Eternal sunshine of the spotless mind" - como o ambiente onírico, um protagonista que dorme, imagens bem fantasiosas e personagens secundários cools. Quem não se importa muito com o diretor dos filmes vai perceber as semelhanças entre um e outro, sem dúvida. (O primeiro filme dele - "Human Nature" - parte de uma premissa bem diferente.)
As diferenças, entretanto, me chamaram mais a atenção. Se "Eternal sunshine" é uma produção cara e americana, com direito a Jim Carey no papel principal e roteiro do Kaufman, "The Science..." é francês - até conta com dinheiro do braço independente da Warner - até o último biquinho. Mesmo que se fale inglês, na maioria do tempo e espanhol (um pouquinho), Gondry quis filmar uma cidade francesa, hábitos dos franceses, os franceses.
Se ele opta por Gael García Bernal na dianteira do elenco é porque ele é o melhor rosto fora de hollywood na sua faixa etária - se o personagem fosse um pouco mais velho, aposto que o posto seria do Javier Bardem.
Mas a maior diferença fica, realmente, nos cuidados com a produção e o (mal)cuidado com o roteiro. Em "Science...", há efeitos especiais com rolos de papel higiênico (!). Tudo bem que há um contexto, mas para as massinhas, não. As mãos enormes passam, as orelhas de gato também, mas a TV educativa... hum... Não. Nem o pônei. Depois dos efeitos de "Eternal sunshine..." fica parecendo algo caseiro, quase amador.
Já o roteiro, bem, podem falar o que quiserem dele, mas Charlie Kaufman, inegavelmente, é o mais conhecido roteista de hoje em dia. E olha que ele não fez nenhum blockbuster, pelo contrário. Seus filmes têm sempre uma ligação, você os reconhece como de um mesmo sujeito, mesmo quando os diretores variam de um Spike Jonze até um George Clooney. O cara tem um cuidado com o texto, com a informação completa que falta no filme.
Curiosamente é o mesmo sentimento que se tem ao ver alguns Truffauts, por exemplo. O longa inteiro é lindo, maravilhoso, mas, ao fim, você quase fala: acabou? Talvez Gondry quisesse fazer a sua versão do homem onírico, raciocinando que a anterior era muito, digamos, norte-americana-kaufmaniana. "Science..." vale muito ser visto, mas eu gostei mais da "versão" anterior porque junta o melhor de dois mundos. A direção inventiva do francês com a meticulosidade - e o dinheiro - do americano.
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