(Vou começar esse texto com uma frase bem clichê, mas que, com o decorrer, vai ter o seu motivo desvendado) Para que serve a arte e a literatura? Vários filósofos já discutiram esta razão, e obviamente não há uma conclusão universal. Há várias possibilidades, tantas que você pode se agarrar a uma para chamar de sua.
Como sempre cito Schopenhauer (aliás sonhei que haveria uma série de TV ambientada numa escola para criança chamada "Schopenhauer". Que viagem), farei dele a idéia que permeia esse texto. Muito resumidamente e numa interpretação pra lá de pessoal, arte (literatura, música, pintura...) seria a única coisa importante do mundo. O motivo pelo qual vivemos, já que não haveria nenhuma outra razão - não à toa chamam o alemão nascido no território da atual Polônia de pessimista.
A arte seria a maneira genuína de ligar nossa intuição e ativar nossa emoção. Viver para a arte e pela arte, portanto, seria o único modo de encarar a vida. Enfim.
Entretanto, temos outro problema, e outra pergunta clichê: o que seria arte, então? Seguindo o raciocínio de Schopenhauer, aquilo que nos desperta a intuição e ativa a nossa emoção. Pode-se perceber, contudo, que esse processo não é algo comum a todas as pessoas. Cada um tem o, digamos, botão em um diferente lugar. Portanto, não há como fazer um grande índex do que seria a arte - mesmo porque em um centésimo já ficaria defasado.
Isso tudo para dizer que estou lendo e adorando Dashiell Hamett, um clássico menor. Ou seja, uma arte considerada de "segundo escalão". Ele não faz parte dos norte-americanos da geração perdida, apesar de retratar o lado B dessa mesma época, não foi beatnik nem lembrado por essa galera, mesmo tendo antecedido muito da parte biográfica e do "live and let die" de Kerouac e cia., e fazia literatura, literalmente, barata.
Escrevia para revistas impressas em papel de péssima qualidade, as pulp fictions imortalizadas por outro rei do lado b, Quentin Tarantino, sobre detetives - basicamente - assassinatos e o submundo em geral. Criou a figura do detetive soturno, de capa de chuva e chapéu para se esconder, sempre com um cigarro na boca e andando pelas sombras. Daí um apelido dessa literatura: noir (já comentado no post anterior).
Ele não aborda o drama da existência humana, como os russos fazem, não passa horas tratando de uma decisão de vida ou morte, não há dramas de consciência. Ele é ágil, prático, mordaz, irônico, perfurocortante. Seu texto é tão planejado que chega a ser uma obra de engenharia, um cálculo matemático.
No fundo, a questão continua a mesma. Dashiell Hamett faz, claramente, parte do grupo "literatura de trama" (em oposição à de "personagem"), apesar de ter repetido seus protagonistas em mais de uma história. Sabe como é, ele ganhava por palavra escrita.
Mas é aí que mora a minha diversão. É aqui que eu falo "maneiro" (maior indicativo do que é obra de arte, nos dias de hoje. Mas isso é papo para outro post). A arte, às vezes, está nas coisas mais simples.
Um comentário:
gostei dessa história de que cada um tem o botão em um lugar diferente.
antes eu criticava quem não gostava de arte, achava essas pessoas incultas, inferiores. coisa feia... hj eu penso que elas têm seus botões ligados a outras coisas, coisas estas que causam nelas o que a arte nos causa.
resumindo: a arte é indispensaável para quem gosta e está aberto a ela. dá pra viver sem.
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