sábado, 11 de abril de 2009

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Transposição

Vi o monólogo do Guilherme Leme dirigido pela Vera Holtz sobre “O estrangeiro”, do Camus, um dos livros que mais gostei. Antes de assisti-lo, estava com a sensação de que essa era uma péssima ideia, porque a peça nunca se aproximaria da minha imaginação. Eu estava certo, e também errado.

Primeiro porque a peça me mostrou outro Mersault (o protagonista). Lido numa época bem triste na minha vida, ele me refletia nas palavras. Era um sujeito deprimido, que nada o tiraria da inércia. Era anódino, anestesiado com o mundo. Meu gosto foi por sentir que havia outro de mim no mundo, sentir que havia um igual, que não estava sozinho e que outra pessoa já tinha passado pelo que eu passava – e sobrevivera para contar.

Já o do Guilherme Leme é um homem que a expressão “tanto faz” recorre como uma vírgula. Ele percebe a falta de propósito de todas as coisas que o cercam e decide ser feliz com as pequenas coisas, tendo consciência das parcas escolhas que pode ter.

A famosa primeira frase: “Não sei se a minha mãe morreu hoje, ou ontem”, para mim, ao lê-la, era dita aos sussurros, sem força como por um sonâmbulo. Na peça, Guilherme Leme diz rápido, alto, para mostrar que isso não importa. Qual é a diferença de ela ter morrido hoje ou ontem?

Na versão do teatro, Mersault é exatamente o “homem revoltado” que Camus exemplificou no seu ensaio “Mito de Sísifo”. O homem que, diante das agruras diárias, de todo o sofrimento cotidiano, não se desespera e se suicida (o único problema filosófico para Camus). Ele não se faz de coitado e admite a parcela de responsabilidade por aquilo que ele se tornou.

Para mim, era um homem que acumulava angústias e explodiu um dia, sem saber muito bem por quê. Para a peça, é um homem que matou outro por causa do sol, do calor, do amigo. Tanto faz.

Portanto acertei quando profetizei que a peça não se aproximaria da minha imaginação, já que ela apontou outros caminhos e interpretações para o mesmo texto, até mais próximos, provavelmente, do original pensado por Camus. E não, não foi uma péssima ideia.

sábado, 4 de abril de 2009

Crônica filosófica

A má notícia: O professor chegou e nos disse que o texto que eles nos estava passando ("A crítica da faculdade do juízo", de Kant) era, provavelmente, o mais difícil que ele tinha lido na vida. Para exemplificar, ele contou uma história. Schiller, o escritor conterrâneo e contemporâneo de Kant, tinha lido o tal texto e reclamou com o próprio autor da dificuldade de lê-lo.

Se um intelectual alemão que viveu à época do livro achou complicado, imagine o simples mortal como esse aqui que escreve.

A notícia média: o professor só passou poucas páginas do livro.

A boa notícia: li o prólogo do prefácio da apresentação das notas, que não é escrito pelo próprio Kant. Quatro páginas e meia, uma hora e meia. E entendi.

ps. Só de prólogos, prefácios, apresentações e notas, são 55 páginas de A4. O restante do livro totaliza 250, mais ou menos.

pps. Se você gostou desse texto, vai gostar também desses: O mundo como fantasia ou 'O show de Truman', o destino, as identidades e outras pseudices.