É
importante destacar aqui que o caminho que nos guiava a deus, esse
deus que iluminou os homens-até-aqui, era um caminho que, para usar
um vocabulário cartesiano, racional. Obedecíamos às regras desse
deus porque tínhamos uma recompensa no fim dele. Ou acreditávamos
que a teríamos. Era uma troca, uma barganha. Uma ação racional
agora, portanto que negasse a emoção, a impulsividade, a força
interna, a vontade, enfim, a vida, nos dava direito a um determinado
tipo de privilégio no futuro. Era uma troca entre o não-viver agora
e uma possibilidade de vida depois. Era uma poupança de vida.
Economizava-se neste momento para quando realmente precisarmos, nós
teríamos acesso.
O que
Nietzsche fala, com a frase “deus está morto” é que o banco
faliu. Que, aliás, ele nunca realmente existiu. Nós renunciamos à
vida, economizamos vida, negamos as nossas vontades em função de
nada. É claro que esse processo, em um primeiro momento, vai
proporcionar um desespero, que é identificado como o niilismo. Mas
Nietzsche sugere que utilizemos essa falta de perspectiva, essa dor
que causa saber que fomos enganados por tanto tempo, que foquemos
essa revolta para a vida. Tentemos, agora que descobrimos que não
existe banco, que não há qualquer tipo de poupança dos afetos, que
gastemos os nossos afetos o máximo possível agora.
Ele ainda
sugere que quanto mais gastamos esses afetos, mais teremos afetos.
Como se para estimulá-lo precisássemos mexer nele.
É então
que Heidegger explica: podemos até mesmo seguir um deus, mas para
esse deus ser um deus que não está morto, ou seja, um deus contra a
vida, devemos seguir um deus a partir da nossa vontade de potência,
do que vem de dentro da gente, ou, para usar uma palavra dele, do
Ser.
Seguir um
deus não é um problema em si. Seguir um deus porque somos obrigados
a isso, ou porque não enxergamos outra possibilidade, ou por
preguiça, falta de autoconhecimento, etc. é. O deus, ou os deuses,
devem ser seguidos conscientemente, sendo dominados, ou ao menos
estando sob a vigília, o controle de nossa vontade de potência.
Melhor dizendo, é a nossa vontade de potência, essa força interna,
esse vulcão que explode e nos faz nos movimentar, que escolhe o deus
para o qual nós vamos genuflexionar. Com prazer.
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