Já houve quem dissesse por aí que o Rio de Janeiro é a cidade das explosões.Lima Barreto, em crônica publicada no "Correio da Noite", no Rio, dia 5 de janeiro de 1915.
Na verdade, não há semana em que os jornais não registrem uma aqui e ali, na parte rural.
A ideia que se faz do Rio é de que é ele um vasto paiol, e vivemos sempre ameaçados de ir pelos ares, como se estivéssemos a bordo de um navio de guerra, ou habitando uma fortaleza cheia de explosivos terríveis.
Certamente que essa pólvora terá toda ela emprego útil; mas, se ela é indispensável para certos fins industriais, convinha que se averiguassem bem as causas das explosões, se são acidentais ou propositais, a fim de que fossem removidas na medida do possível.
Isto, porém, é que não se tem dado e creio que até hoje não têm as autoridades chegado a resultados positivos.
Entretanto, é sabido que certas pólvoras, submetidas a dadas condições, explodem espontaneamente e tem sido essa a explicação para uma série de acidentes bastante dolorosos, a começar pelo do Maine, na baía de Havana, sem esquecer também o do Aquidabã.
Noticiam os jornais que o governo vende, quando avariada, grande quantidade dessas pólvoras.
Tudo está a indicar que o primeiro cuidado do governo devia ser não entregar a particulares tão perigosas pólvoras, que explodem assim sem mais nem menos, pondo pacificas vidas em constante perigo.
Creio que o governo não é assim um negociante ganancioso que vende gêneros que possam trazer a destruição de vidas preciosas; e creio que não é, porquanto anda sempre zangado com os farmacêuticos que vendem cocaína aos suicidas.
Há sempre no Estado curiosas contradições.
quinta-feira, 9 de maio de 2013
'Pólvora e cocaína'
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