Em primeiro lugar, quero deixar claro que não votei nem tenho a intenção neste momento de votar em Marina Silva para a presidência, caso ela consiga criar o seu partido, o Rede. Isso posto, tenho que dizer que fiquei estarrecido com o linchamento moral que ela vem sofrendo.
Há dois dias, ela fez um discurso na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) em que afirmava que "é um erro criticar o pastor Marco Feliciano por ser evangélico. Não devemos combater um preconceito com outro preconceito." Marco Feliciano, como se sabe, é um pastor de uma igreja que ele mesmo fundou, já apresentou ideias bastante retrógradas, foi homofóbico, racista e hoje é o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal. Marina continua:
No vídeo que mostra o trecho em que ela aborda o assunto [abaixo], a expressão que ela mais repete é "Estado laico". E "Estado laico", como ela explica, não é "Estado ateu", mas Estado em que as pessoas têm liberdade de crença, até para não professar nenhuma das crenças conhecidas. É tratar as pessoas como iguais. O que, claro, o Feliciano não faz, e ela não chamou a atenção para isso.
Marina é evangélica. Ela se diz pessoalmente contrária a temas caros ao pensamento progressista, como legalização do aborto, por exemplo. Mas fala que quer um debate maior sobre o assunto - o que é mais do que nós temos agora. Ou seja, ela está disposta a abrir mão das suas convicções pessoais - ou promete isso - em prol do bem maior. Mas, por ser evangélica, ela está ligada no imaginário das pessoas a um comportamento em geral mais conservador. Como se todos os evangélicos fossem iguais. Qualquer escorregão que ela der, vai ser encarado dessa maneira. Qualquer frase dúbia, vai ter a sua pior interpretação possível.
Por outro lado, falar mal do Feliciano só porque seria "politicamente correto" [no sentido mais estrito do termo] é se vender para o eleitorado. Começa dessa forma e termina fazendo malabarismo com orçamentos em rede nacional. É bom ser maleável, mas nunca quebrar.
Aliás, tratar Feliciano como a encarnação do coisa-ruim só dá poder para ele. Porque parece que, em primeiro lugar, ao conseguirmos eliminá-lo, o problema do conservadorismo estaria resolvido. O que é mentira. Em segundo, porque ao dar essa importância para ele, chama a atenção para os seus aspectos mais nefastos, o que só atrai mais gente que pensa igual a ele, e que o torna ainda mais forte para não sair da Comissão. Basta pensar quem era Feliciano há um ano e quem ele é agora. Política é um jogo de xadrez em sinuca de bico.
Marina poderia ter abordado os pontos mais controversos de Feliciano? Poderia. Mas não falou. E criticar o fulano por aquilo que ele não fez é complicado. Eu também acho que ela deveria ter apontado como seria a composição ministerial em relação aos direitos humanos, no caso. Mas ela não falou e nem por isso acho que ela se saiu pior - nem melhor. O fato de ela não ter falado sobre os pontos baixos de Feliciano não caracteriza, na minha interpretação, uma conivência dela com o pastor-deputado.
O que ela defendia - e esse é o ponto principal, me parece - era o fim do preconceito. Seja do pastor contra o casamento entre gays, seja da intelligentsia contra outras formas de viver que não a sua própria, inteligente, culta, liberal, que viaja todos os anos para a Europa e conhece Paris como a palma da mão. Porque "se há despreparo em Marina, se estou despreparada, não é por ser evangélica. Não se pode combater um preconceito com outro". É bom que Marina, a autora dessa frase, saiba bem disso.
Há dois dias, ela fez um discurso na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) em que afirmava que "é um erro criticar o pastor Marco Feliciano por ser evangélico. Não devemos combater um preconceito com outro preconceito." Marco Feliciano, como se sabe, é um pastor de uma igreja que ele mesmo fundou, já apresentou ideias bastante retrógradas, foi homofóbico, racista e hoje é o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal. Marina continua:
Tenho uma posição de que esse debate (sobre Feliciano) está sendo feito de forma equivocada. A crítica ao deputado não deve ser pelo fato dele ser evangélico, assim como se ele fosse ateu, não deveria ser pelo fato dele ser ateu, assim como se fosse católico, espírita ou judeu. A crítica deveria ser quanto ao equívoco de suas posições políticas, devido ao despreparo de não ser uma pessoa que não tem tradição na área da defesa dos direitos humanos. O presidente desta comissão deveria ter um acúmulo de conhecimento e experiências nessa área que envolve outros temas complexos, como a questão indígena e os desaparecidos políticos.Ou seja, ela até pôde ter desconsiderado em sua fala as declarações mais polêmicas de Feliciano, contra negros e homossexuais, mas ela jamais defendeu a permanência do deputado à frente dessa comissão. Curiosamente, foi assim que a sua fala saiu - não em grandes veículos de imprensa, mas no rastro de pólvora das redes sociais como o Twitter. Logo foi repercutido em alguns blogs e sites: "Marina Silva defende deputado pastor Marco Feliciano", diz um; "Em agenda no Recife, Marina Silva sai em defesa do pastor Marco Feliciano", diz outro. Outros, mais exaltados, disseram que "Marina Silva morreu abraçada a Feliciano". Outros, menos exaltados enxergam que "Marina Silva ataca movimento LGBT que confronta Marcos Feliciano". O deputado Jean Willys, um grande adversário de Feliciano, um pouco pouco mais centrado [mas só um pouco], afirma que [Dilma e] Marina se comporta[m] como "reféns da covardia" e está[ão] de "olho em eleitorado conservador".
No vídeo que mostra o trecho em que ela aborda o assunto [abaixo], a expressão que ela mais repete é "Estado laico". E "Estado laico", como ela explica, não é "Estado ateu", mas Estado em que as pessoas têm liberdade de crença, até para não professar nenhuma das crenças conhecidas. É tratar as pessoas como iguais. O que, claro, o Feliciano não faz, e ela não chamou a atenção para isso.
Marina é evangélica. Ela se diz pessoalmente contrária a temas caros ao pensamento progressista, como legalização do aborto, por exemplo. Mas fala que quer um debate maior sobre o assunto - o que é mais do que nós temos agora. Ou seja, ela está disposta a abrir mão das suas convicções pessoais - ou promete isso - em prol do bem maior. Mas, por ser evangélica, ela está ligada no imaginário das pessoas a um comportamento em geral mais conservador. Como se todos os evangélicos fossem iguais. Qualquer escorregão que ela der, vai ser encarado dessa maneira. Qualquer frase dúbia, vai ter a sua pior interpretação possível.
Por outro lado, falar mal do Feliciano só porque seria "politicamente correto" [no sentido mais estrito do termo] é se vender para o eleitorado. Começa dessa forma e termina fazendo malabarismo com orçamentos em rede nacional. É bom ser maleável, mas nunca quebrar.
Aliás, tratar Feliciano como a encarnação do coisa-ruim só dá poder para ele. Porque parece que, em primeiro lugar, ao conseguirmos eliminá-lo, o problema do conservadorismo estaria resolvido. O que é mentira. Em segundo, porque ao dar essa importância para ele, chama a atenção para os seus aspectos mais nefastos, o que só atrai mais gente que pensa igual a ele, e que o torna ainda mais forte para não sair da Comissão. Basta pensar quem era Feliciano há um ano e quem ele é agora. Política é um jogo de xadrez em sinuca de bico.
Marina poderia ter abordado os pontos mais controversos de Feliciano? Poderia. Mas não falou. E criticar o fulano por aquilo que ele não fez é complicado. Eu também acho que ela deveria ter apontado como seria a composição ministerial em relação aos direitos humanos, no caso. Mas ela não falou e nem por isso acho que ela se saiu pior - nem melhor. O fato de ela não ter falado sobre os pontos baixos de Feliciano não caracteriza, na minha interpretação, uma conivência dela com o pastor-deputado.
O que ela defendia - e esse é o ponto principal, me parece - era o fim do preconceito. Seja do pastor contra o casamento entre gays, seja da intelligentsia contra outras formas de viver que não a sua própria, inteligente, culta, liberal, que viaja todos os anos para a Europa e conhece Paris como a palma da mão. Porque "se há despreparo em Marina, se estou despreparada, não é por ser evangélica. Não se pode combater um preconceito com outro". É bom que Marina, a autora dessa frase, saiba bem disso.
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