Estava indo embora de Londres, depois de 32 dias viajando, entre Índia e a capital do Reino Unido, cansado, com malas pesadas, quando, lendo o jornalzinho do metrô - que se autoproclama o de maior tiragem da cidade - dei de cara com a seção de música. Pensei em lê-la porque a Inglaterra é famosa por suas novidades. Imagina se eu conhecesse algo ótimo que eu não tivesse a ideia da existência?
Foi o que aconteceu, em parte. Sim, havia uma novidade, a dica em destaque do jornal, inclusive, mas não, eu não desconhecia o cantor em questão. Já tinha lido uma matéria sobre ele há tempos, mas como o personagem principal de uma outra história.
Além da sua história pessoal ser de muito interesse para mim, por diversos motivos, já tinha ficado, na época da reportagem, curioso em conhecer a música de Yoñlu, conhecido pelos pais como Vinícius Gageiro Marques.
Uma das primeiras coisas que fiz ao chegar em casa foi escutá-la. Estou impressionado desde então. É voz-e-violão, na maioria das vezes, mas sempre utilizando elementos para criar sobre essa estrutura. Ele usa samplers de discursos famosos e outros completamente desconhecidos, batidas eletrônicas, teclados, modifica a sua voz para dar tons cavernosos... Esses argumentos acumulados não devem, pelos menos não deveriam, convencer ninguém a escutá-lo.
O que me interessou, mesmo, foi... Eu escuto a música e me sinto dentro do quarto do menino de 16 anos, não um quarto real, mas um quarto metafórico, que tem mais a ver com a cabeça do garoto que qualquer outro lugar. Sinto os seus objetos pessoais me circundarem, levitando, vejo o rapaz com o violão gravando cada uma das músicas, sozinho, apenas com o auxílio do computador. Sua música cria imagens fantasmagóricas na minha cabeça. E é tudo tão triste, tão triste...
Yoñlu faz parte de um grupo de artistas, de pessoas, que escolheu interromper a vida. Não podemos nunca recriminá-lo. Essa decisão não é diferente da oposta - continuar vivendo. Mas dessa forma, ele consegue fazer o álbum definitivo, talvez de sua geração. O disco que vai ser o marco e que será lembrado - espero - no futuro como o representante do nosso tempo.