Percebi o problema quando eu escrevi lá no fakebook: "J. M. Wisnik entra na discussão O Globo x Freixo...". Desde quando a discussão é, ou deveria ser, entre O Globo x Freixo? Depois, ainda tento melhorar, mas pioro, chamando as manifestações de "o objeto da disputa". Realmente, como diz um amigo, viramos sommeliers de tudo, comentaristas difusos de pautas aleatórias. Por que, em vez disso, não estamos focando nossas atenções, nossos esforços, nossas energias para o que interessa? Por que em vez de protestos, imprensa, etc., não estamos mirando um problema que nos une em nossas desgraças? E, qual é o assunto, qual é o tema que junta no desespero pobres e ricos, Zona Sul e Zona Norte? O transporte público.
Negar que haja desdobramentos dos protestos, como a violência policial ou a disputa ideológica das narrativas, para ficar em apenas dois exemplos à esquerda do espectro político, seria ignorar a realidade. A morte do cinegrafista da Band é uma tragédia, como todas as mortes estúpidas [se alguma não é] são. E é claro que essa morte é consequência de um ato de violência - mas qual ato dentro de uma manifestação não o é? Como fazer uma manifestação asséptica? Como fazer um protesto que não incomode ninguém? Aliás, por que ir às ruas, nessas condições?
Amigos híbridos jornalistas, companheiros da esquerda, pessoal da direita enrustida, podemos discordar de como as manifestações estão acontecendo. Podemos execrar ou amar os Black Blocks. Podemos afirmar que O Globo está certo e o Freixo tem ligação com a morte do cinegrafista - ou achar isso um absurdo. Podemos, inclusive, ignorar todo esse debate e ficar à margem da discussão, porque acha que isso não leva ninguém a nenhum lugar nem a nada. Mas quem, quem entre nós, entre vocês, entre as pessoas normais, que você conhece, que estão nas ruas, que trabalham, estudam, ralam de segunda a sexta, às vezes mais, quem está satisfeito com o transporte público de suas cidades? Diga-me onde é que ele funciona bem?
Por isso, proponho uma trégua, uma bandeira branca, um acordo de paz, uma junção de forças em prol de um objetivo comum. [Vou falar do Rio porque é onde eu moro, onde eu sei as informações, mas acredito que, em menor ou maior grau, a história se repete por todo o Brasil.] Após dizer que seria uma decisão técnica, o prefeito do Rio ignora completamente a sugestão dos técnicos do Tribunal de Contas do Município e, para cumprir um acordo firmado após uma licitação sem quase concorrência, aumenta os preços das passagens de ônibus da cidade. Após negar que faria o mesmo, o governador segue o colega da capital e também eleva o preço das tarifas de ônibus e metrôs. Ou seja, ambos mentem, ou mentiram. Uma das duas possibilidades.
Não adiantou termos reportagens no principal - e único grande - jornal do Rio. A imprensa não afeta mais a credibilidade dos políticos. Ao menos, não desses. Ou, ao menos, não uma reportagem esporádica, factual. Ou, amigos da imprensa, insistimos ad nauseam com o assunto, deixando bastante claro que houve má fé nessas atitudes, ou outras pessoas que sofrem, como vocês, com esses problemas, e que não têm tanto sangue frio, e, talvez, mais tempo livre, vão sair às ruas para reclamar disso. É uma consequência [protesto] da causa [cara-de-pau].
Não importa se com reportagens, manifestações, depredações, pula-roletas, posts em blogs... temos que reclamar e muito. Mostrar como a política aqui não é feita para os cidadãos, mas para um grupo de pessoas que sempre ganhou dinheiro - e sempre vai ganhar. [Isso porque não falamos dos grandes consórcios, das empreiteiras, que estão refazendo, a não sei que custo, o Rio de Janeiro.]
Não estou sugerindo a revolução, pedindo pela instalação do comunismo, nem que você dê um de seus filhos a casais estéreis: quero apenas transporte público decente. Quero poder ir de um lado a outro da cidade com conforto e segurança. E quero pagar uma tarifa decente por isso. Não vejo como alguém - além dos empresários do ramo - pode ser contrário a essa ideia.
Negar que haja desdobramentos dos protestos, como a violência policial ou a disputa ideológica das narrativas, para ficar em apenas dois exemplos à esquerda do espectro político, seria ignorar a realidade. A morte do cinegrafista da Band é uma tragédia, como todas as mortes estúpidas [se alguma não é] são. E é claro que essa morte é consequência de um ato de violência - mas qual ato dentro de uma manifestação não o é? Como fazer uma manifestação asséptica? Como fazer um protesto que não incomode ninguém? Aliás, por que ir às ruas, nessas condições?
Amigos híbridos jornalistas, companheiros da esquerda, pessoal da direita enrustida, podemos discordar de como as manifestações estão acontecendo. Podemos execrar ou amar os Black Blocks. Podemos afirmar que O Globo está certo e o Freixo tem ligação com a morte do cinegrafista - ou achar isso um absurdo. Podemos, inclusive, ignorar todo esse debate e ficar à margem da discussão, porque acha que isso não leva ninguém a nenhum lugar nem a nada. Mas quem, quem entre nós, entre vocês, entre as pessoas normais, que você conhece, que estão nas ruas, que trabalham, estudam, ralam de segunda a sexta, às vezes mais, quem está satisfeito com o transporte público de suas cidades? Diga-me onde é que ele funciona bem?
Por isso, proponho uma trégua, uma bandeira branca, um acordo de paz, uma junção de forças em prol de um objetivo comum. [Vou falar do Rio porque é onde eu moro, onde eu sei as informações, mas acredito que, em menor ou maior grau, a história se repete por todo o Brasil.] Após dizer que seria uma decisão técnica, o prefeito do Rio ignora completamente a sugestão dos técnicos do Tribunal de Contas do Município e, para cumprir um acordo firmado após uma licitação sem quase concorrência, aumenta os preços das passagens de ônibus da cidade. Após negar que faria o mesmo, o governador segue o colega da capital e também eleva o preço das tarifas de ônibus e metrôs. Ou seja, ambos mentem, ou mentiram. Uma das duas possibilidades.
Não adiantou termos reportagens no principal - e único grande - jornal do Rio. A imprensa não afeta mais a credibilidade dos políticos. Ao menos, não desses. Ou, ao menos, não uma reportagem esporádica, factual. Ou, amigos da imprensa, insistimos ad nauseam com o assunto, deixando bastante claro que houve má fé nessas atitudes, ou outras pessoas que sofrem, como vocês, com esses problemas, e que não têm tanto sangue frio, e, talvez, mais tempo livre, vão sair às ruas para reclamar disso. É uma consequência [protesto] da causa [cara-de-pau].
Não importa se com reportagens, manifestações, depredações, pula-roletas, posts em blogs... temos que reclamar e muito. Mostrar como a política aqui não é feita para os cidadãos, mas para um grupo de pessoas que sempre ganhou dinheiro - e sempre vai ganhar. [Isso porque não falamos dos grandes consórcios, das empreiteiras, que estão refazendo, a não sei que custo, o Rio de Janeiro.]
Não estou sugerindo a revolução, pedindo pela instalação do comunismo, nem que você dê um de seus filhos a casais estéreis: quero apenas transporte público decente. Quero poder ir de um lado a outro da cidade com conforto e segurança. E quero pagar uma tarifa decente por isso. Não vejo como alguém - além dos empresários do ramo - pode ser contrário a essa ideia.
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