quarta-feira, 17 de novembro de 2021

'Prometeu', de Goethe

 Encobre o teu céu, ó Zeus,

Com vapores de nuvens,

E, qual menino que decepa

A flor dos cardos,

Exercita-te em carvalhos e cristas de montes;

Mas a minha Terra

Terás que deixar,

E a minha cabana, que não construíste,

E o meu lar,

Cujo braseiro

Me invejas.

Nada mais pobre conheço

Sob o sol do que vós, ó Deuses!

Mesquinhamente nutris

De tributos de sacrifícios

E hálitos de preces

A vossa majestade;

E morreríeis de fome, não fossem

Crianças e mendigos

Loucos cheios de esperança.

Quando era menino e não sabia

Pra onde havia de virar-me,

Voltava os olhos desgarrados

Para o sol, como se lá houvesse

Ouvido pra o meu queixume,

Coração como o meu

Que se compadecesse da minha angústia.

Quem me ajudou

Contra a insolência dos Titãs?

Quem me livrou da morte,

Da escravidão?

Pois não foste tu mesmo que tudo conseguiste

Ó sagrado e ardente coração?

E jovem e bom – enganado

Ardias àquele que lá em cima dormia

Agradecido pela salvação?

Eu venerar-te? E por quê?

Suavizaste tu alguma vez as dores

Do oprimido?

Enxugaste alguma vez as lágrimas

Do angustiado?

Pois não me forjaram Homem

O Tempo todo-poderoso

E o Destino eterno,

Meus senhores e teus?

Pensavas tu talvez

Que eu havia de odiar a Vida

E fugir para os desertos,

Porque nem todos

Os sonhos em flor frutificaram?

Pois aqui estou! Formo homens

À minha imagem,

Uma estirpe que a mim se assemelhe:

Para sofrer, para chorar,

Para gozar e se alegrar,

E pra não te respeitar,

Como eu!

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