segunda-feira, 29 de julho de 2002

Há momentos que sei que tenho que escrever. Ligo o computador ou apenas apanho uma caneta e um pedaço de papel. É quando a noite está chegando e o dia acabou de passar na minha frente sozinho. Sem que nada o denunciasse e sem que eu percebesse. Fico vendo a folha em branco. A folha em branco com o cursor que me instiga. Ou a folha em branco que faz barulho para avisar que ela pode estar viva.

Mas escrever o quê? Denunciar que eu estou matando a minha juventude a pedradas? Falar da minha agonia solitária? Colocar para fora todas as nuvens que sobrevoam no meu pensamento? Admitir que não sei como fugir disso sozinho e não conhecer caminhos para sair disso? Ou até vislumbrar que há uma pequenina possibilidade, mas a acho improvável que beira o risível. Saber que nada me preenche hoje em dia não é um sentimento agradável. Não saber o motivo de estar aqui.

Preciso de uma mão estendida. E no papel isso parece fácil de se dizer. Devo estar imitando, sem saber, algum andarilho que caminhava no mundo dominado por Roma com roupas esfarrapadas sem rumo nem destino. Era movido apenas pela correnteza. Ficar parado não era satisfatório. Não era desejável.

Um diálogo (apenas) sem pretensão. Algo como se não houvesse motivos. Algo como se não houvesse os porquês e as recompensas. Onde não tivesse que ser mesquinho.

Como me detesto por ser tão ridículo. Tão infinitamente ridículo. Por possuir a reunião das piores características. E por não ter nenhuma das qualidades, ou as piores qualidades, que podem ser valorizadas.

Sou um racional sem coração. Não tenho vergonha de dizer isso para você. Eu sei que nada existe ai do outro lado. E nada faz sentido. Por isso não me importo de dizer tais coisas.

Eu quero todas as coisas do mundo sem que para isso abra mão de nada. Como posso ter todas as coisas se elas são conflitantes entre si? Como posso almejar a perfeição, por exemplo, se ela não existe? E não adianta me dizer que o caminho já é o fim em si. Não acredito nisso. A menos que eu veja isso, a menos que, pelo menos, eu entenda isso, não acreditarei nunca que basta caminhar.

Até gostaria de acreditar. Gostaria de fechar meus olhos, e pular num salto cego, apenas acreditando que haveria chão ali embaixo. Gostaria de ter fé em algo, em alguma coisa... Mas nada é tão irracional como a fé. Mas eu gostaria de ser irracional, eu gostaria de ser imprevisível, de ser impulsivo, de fazer coisas sem pensar. Mas sempre me arrependo de tudo depois. Sempre acho que isso é uma maneira infantil e, por vezes, idiota de ver o mundo. Mas se pudesse combinar os dois fatores?

Se apenas tivesse alguém. Se não fosse tão solitário. Se não fosse tão só. Tão só.

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