segunda-feira, 28 de novembro de 2005

Decepções e supresas num palco com o som baixo

Sei que criar expectativas não é das coisas mais inteligentes a se fazer. Mas, como controlar a imaginação quando o que está em jogo é o show de uma das suas bandas preferidas? Foi o que aconteceu com o Sonic Youth. Sem apontar culpados, a apresentação foi fraca. Pouco tempo de palco, mais músicas do Sonic Nurse (parecia que só eu as conhecia), platéia apática.

Por outro lado, o Flaming Lips me surpreendeu do início ao fim, mesmo sabendo que o Wayne Crane é totalmente insano, que parece saído da década de 1970, mesmo tendo conhecimento de todas as suas peripécias antes do show e perceber que uma delas não foi completa (andar por sobre a platéia dentro de uma bolha de plástico), mesmo assim, o show foi divertidíssimo.

quinta-feira, 24 de novembro de 2005

Merece menção

Pelo quarto ano consecutivo, Baloshof Jack Frost , um gato persa branco, foi eleito o Gato do Ano pela Fife - Federação Internacional Felina Européia. A última etapa da competição foi realizada entre os dias 19 e 20 de novembro, no Centro de Exposições Imigrantes, em São Paulo. Para manter o aspecto de campeão, Frost, como é carinhosamente chamado, é tratado com produtos da Pet Society, empresa líder em produtos inovadores e de alto padrão, o que garante uma pelagem bonita e saudável.



Este é Baloshof Jack Frost

segunda-feira, 21 de novembro de 2005

Nasce um pacifista

O que houve com Ariel Sharon? Ele foi um dos fundadores do Likud, o partido de extrema-direita em Israel. Foi um dos generais que comandou as tropas judias no massacre contra os egípcios apelidado de "Guerra dos Seis Dias". Era um dos mais radicais opositores contra a formação do Estado Palestino. Seu nome aparece associado às guerras de Suez, do Yom Kippur, do Líbano (onde houve a Matança de Sabra e Chatila), e à Intifada de Al-Aqsa. Ouvi de uma política espanhola que ele teria amolecido depois da morte de sua última mulher, Lily, em 2000. Mas as datas não batem: ela faleceu antes dele assumir o poder - em 2001.

Bem que o mesmo que aconteceu com Sharon poderia acontecer com outras pessoas...

quarta-feira, 16 de novembro de 2005

Nenhum direito reservado

Respostas de Ronaldo Lemos, o responsável por, entre outras coisas, o site do Creative Commons no Brasil.


1) Um artigo seu (CREATIVE COMMONS, MÍDIA E AS TRANSFORMAÇÕES - RECENTES DO DIREITO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL) sugere como o músico pode ganhar dinheiro: "ringtones, DVDs, shows, vídeos, licenciamentos etc." Entretanto, o mesmo não pode se aplicar a todos os artistas. Como ficaria, por exemplo, a remuneração do escritor?


Cada tipo de obra possui uma dinâmica de remuneração diferente quando se pensa em projetos envolvendo modelos de negócios baseados em conteúdo aberto. A estratégica para escritores é diferente. Veja por exemplo o Cory Doctorow, escritor inglês cujos últimos 3 romances são licenciados por CC e disponibilizados online. Todos os livros dele esgotaram as respectivas tiragens impressas, demonstrando que quem iria comprar o livro, comprou de qualquer jeito. Além disso, um dos livros foi baixado 140 mil vezes pela Internet. Além disso, o blog dele (www.boingboing.net) tornou-se extremamente popular e agora já gera dinheiro com anúncios. Ou seja, o blog ajuda a vender os livros e gerar receitas e os livros ajudam a popularizar o blog. Há uma regra, nesse caso válida para qualquer tipo de produção cultural: a viabilidade econômica de qualquer artista reside na relação que ele constrói com o seu público. Se um artista iniciante não facilita o acesso do público à sua obra, vai ser muito mais difícil conseguir construir essa relação atualmente.

2) As gravadoras/ editoras/ os grandes estúdios sempre argumentam que não terão mais interesse em incentivar os novos talentos caso a livre circulação de informação cultural se torne algo ainda mais comum e, principalmente, incentivada e legal. Tal afirmação faz algum sentido? Se não, como convencê-los de que a livre circulação pela rede será benéfica para todos?


Esse argumento não faz sentido, há várias gravadoras aderindo a conteúdos abertos. Exemplos como a Loca Records, a Opsound, a Magnatunes são importantes. No Brasil, a Trama está dando os primeiros passos nesse sentido, a gravadora acabou de traduzir e publicar o livro do Lessig no Brasil. Outro modo de demonstrar que as coisas estão mudando é o projeto "OpenBusiness", que discute justamente modelos de negócio baseados em conteúdos abertos. O endereço é openbusiness.cc. Cada vez mais o conteúdo livre torna-se uma forma racional e eficiente de fazer negócios.


3) É comum ver alguns artistas virem a público gritar contra a pirataria. Na sua opinião, a livre circulação dos bens culturais não incentivaria essa ilegalidade?


De forma alguma. É o mesmo caso do software livre. Há uma frase que acho que sintetiza a idéia que diz o seguinte: "Não compre software pirata, use software livre". A palavra "pirataria" é um termo com grande carga emocional e que na verdade não significa nada em si: pirataria de remédio é diferente da pirataria de cd´s. Mas aqueles que querem se utilizar do direito autoral como ferramenta para excluir potenciais competidores, que se valem de novas mídias, acabam recorrendo à bandeira da "pirataria" para justificar mudanças na lei de direito autoral que beneficiam alguns pouquíssimos agentes, em detrimento de toda a sociedade.


4) Você acha que as gravadoras - o caso das músicas é o mais exemplar, atualmente - em algum momento vão dar o braço a torcer? Aceitar que "perderam a batalha" para a Internet?


De jeito nenhum.


5) Alguns textos defendem a tese de que o Brasil, através de políticas adotadas pelo Governo Federal com o software livre, entre outras tantas, está bem adiantado na implantação, ou pelo menos, assimilação do Creative Commons. Vc concorda com a afirmativa? E, principalmente, como / quando vc acha que isso se dará na prática - para o simples internauta?


Na verdade, a aceitação do software livre e do Creative Commons no Brasil é justificada por motivos complexos. Esses motivos incluem desde razões antropológicas (vide nosso caráter antropofágico e tropicalista), até mesmo pura necessidade. A ausência de canais para difusão da cultura nova, que emerge em todos os lugares do Brasil é tão grande, que um número enorme de criadores intelectuais sabe que se não aproveitar as novas tecnologias e facilitar o acesso às suas obras, não tem a menor chance de ser ouvido, visto ou lido por ninguém.

sexta-feira, 11 de novembro de 2005

Letras populares

Até o início dessa semana, Chico Buarque ainda continuava sendo "apenas" o melhor letrista de MPB a que eu tive acesso. Sua versão escritor, depois de ter lido as peças "Gota D'água", "Calabar", o romance "Estorvo" e ter assistido aos longas adaptados de suas obras "Ópera do Malandro", "Benjamim" e o próprio "Estorvo", era vista como boa. Em se tratando do filho de Sérgio Buarque de Hollanda, ser apenas "bom", é quase vergonhoso.

Seus textos - todos - possuíam uma riqueza técnica irrepreensível, como, aliás, acontece com as suas músicas em geral. O seu teatro, por exemplo, é todo rimado. Sobra capacidade. "Estorvo", em outro caso, está preso dentro de uma estrutura altamente literária, onde a trama em si é menos importante que a descrição daquilo que se passa. Quase não há concessão para o leitor. A idéia, o resumo, portanto, parece melhor que toda a narrativa - aliás, o mesmo acontece com todas as obras "grandes" do Veríssimo, filho, mas por outros motivos.

Foi então que, mais que por acaso, caiu-me nas mãos, a sua última incursão pelos literatura: "Budapeste". Devorei-o em menos de dois dias. Dessa vez, mesmo não tendo uma narração totalmente tradicional, a estrutura do romance respeita alguma estruturação. É como se, agora, ele tivesse se preocupado também com o "trabalho sujo". Lembrou-se do cimento, da argamassa, quando antes só tinha feito o acabamento - com tudo em ouro, deixemos claro.

Além disso, o assunto tratado é algo que está intimamente ligado ao meu universo. E, como já foi dito por Borges, gostar é se reconhecer. Aliás, a história é quase borgeana. Talvez por ser longa demais e conter os rípios que o argentino tanto evitava, os dois diferenciem. Chico também usa uma linguagem mais coloquial que o viejo brujo. Mas que há um parentesco entre os dois, não há dúvida.

Para quem não leu a orelha do livro do Buarque de Hollanda, "Budapeste" conta a história de José Costa, um ghostwriter e tudo o que isso implica. Ou seja, um sujeito que escreve artigos, pronunciamentos e até livros dos outros deve se orgulhar pelo sucesso alheio, sem ficar com ciúmes por não receber nenhum reconhecimento? O que vale é escrever ou ficar famoso? Ou, como numa discussão que houve em alguns blogs e sites, escrever não é preciso, receber os louros do livro pronto é preciso?

Claro que essa não é a única discussão do livro. Depois Costa se transforma em Kósta, quando aporta na cidade-título. Envolve-se com Kriska e decide aprender o idioma local, língua que até o diabo respeita (essa frase já se transformou em clichê). E, para aprendê-la, deveria esquecer por completo toda e qualquer forma de comunicação que não fosse o idioma magiar.

Mas, realmente, o principal mote é: a quem pertence a literatura? Àquele que escreve, àquele que diz que escreveu ou ao que simplesmente leu o livro? Chico não propõe uma solução final. E talvez a resposta não esteja implícita na questão acima. Talvez, esteja novamente em Borges que dizia que a literatura pertence tão e somente ao tempo. Cabe ao escritor canalizar a ânsia de seu momento, em qualquer arcabouço, e ao leitor, sorvê-la. Nesse caso, se propõe o óbvio: as diferenças entre aquele que escreve e o que lê diminuem, para não dizer que desaparecem. Chico, depois de me proporcionar tal raciocínio, faz parte da minha lista de escritores preferidos.

quarta-feira, 9 de novembro de 2005

Fases

Tudo começou com uma reclamação. Era bem pequeno, devia ter um pouco mais que dez anos, ou até mesmo menos. Gostava de pop-leve-radiofônico. Só fui começar a me interessar por rock com 12, 13 anos. Apesar de que, mesmo não sabendo que era rock, gostava dos Smiths, U2, da Legião... tudo por influência de minha irmã. Ela, aliás, tinha um LP do Hanói Hanói, um dos poucos que ela tinha, que escutávamos em demasia. Demais mesmo, até hoje me lembro de algumas letras desnecessariamente. Isso, inclusive, é uma curiosidade que algum médico pode explicar. A minha facilidade para guardar letras, quando bem mais novo, era muito maior que agora. Talvez pudesse sugerir algum motivo para isso, mas não é essa a intenção do que eu estou escrevendo.

Comecei a digitar porque, ontem, estava numa loja de eletrônicos e começou a tocar uma música do Nirvana e eu disse é do In Utero. O sujeito abriu o programa e me disse não, é do Nirvana. Bem, depois descobri que era do álbum Bleach, o primeiro da banda liderada por Kurt Cobain, mas que só saiu nas lojas depois do hipersucesso Nevermind.

Mas, como disse, tudo começou com uma frase. Como desde sempre acontece comigo, roubada de alguém. Não posso gostar de um grupo cuja música diz estuprem-me, estuprem-me, eu repetia com os meus dez, 11 anos. Tempos conservadores, aqueles. E, principalmente, tempos imaturos. Mal sabia eu que era - também - um pedido metafórico, como se Kurt e cia. se oferecessem ao mercado para ser estuprado e levassem toda a sua criatividade.

Claro que, com o tempo, o rock entrou na minha vida e fui levado por uma conseqüência de fatos ao marco grunge, a O álbum da década de 90, ao Nevermind. Comprei o CD, tenho-o até hoje. Admito que, no início, ainda achava que ele - o disco - era bem torto. Um senso anticomercial muito bem apurado. Músicas feitas para não fazerem sucesso. E muita, muita atitude. Intempestividade é uma ótima palavra a se aplicar nesse momento. O mercado, contudo, fareja à milhas de distância uma nova tendência e a capta. Muito esperto, esse mercado.

Depois, muito tempo depois, cheguei e aterrissei no In Utero. Até hoje, o meu favorito. A dobradinha Heart Shaped Box e Rape me é tão boa que é quase um desperdício estarem, assim, as duas melhores músicas do álbum, uma ao lado da outra. Lembro de mim mesmo, pulando sozinho que nem um louco, totalmente bêbado numa festa da faculdade ao som da outrora desgraçada Rape me. Com o rolar dos refrões, outros loucos me acompanharam e a catarse foi quase completa. Daquelas que, quando a música termina, você volta ao solo e se pergunta onde é que está. Se sente leve, como se o suor que escorre na testa em todo o corpo pudesse ter expurgado todas as agruras do mundo.

E assim, fiquei, anos pulando de álbum do momento em álbum do momento - às vezes o acústico entrava na roda, o In Utero, sempre, Nevermind, um pouco menos. A partir de ontem, e era isso que eu queria dizer desde o início, o meu álbum do momento é Bleach. Visceral é isso aí.

quarta-feira, 2 de novembro de 2005

Conexão França-Brasil

Os subúrbios de Paris sofrem com os embates diários/noturnos entre a população, na sua maioria imigrante árabe, e a polícia. E o ministro do interior francês proferiu o clichê da "limpeza na área". Este é o momento de parafrasear Ancelmo Góis: deve ser difícil morar num lugar como este.