terça-feira, 17 de maio de 2011

'Computador deixará de existir'

No curto prazo, penso que as principais aplicações serão na medicina com novos métodos de reabilitação neurológica, para tratar condições como paralisia. No médio, chegarão as aplicações computacionais. Nossa relação com as máquinas será completamente diferente: não usaremos mais teclados, monitores, mouse… o computador convencional deixará de existir. Vamos submergir em sistemas virtuais e nos comunicaremos diretamente com eles. No longo prazo, o corpo deixará de ser o fator limitante da nossa ação no mundo. Nossa mente poderá atuar com máquinas que estão à distância e operar dispositivos de proporções nanométricas ou gigantescas: de uma nave espacial a uma ferramenta que penetra no espaço entre duas células para corrigir um defeito. E, no longuíssimo prazo, a evolução humana vai se acelerar. Nosso cérebro roubará um pouco o controle que os genes têm hoje. [daqui]
E falando em citação... Quando o neurocientista Miguel Nicolelis cita suas previsões para o futuro dá até um medinho.

Representação na música

Toda obra de arte institui um espaço de fruição que remete ao templo das religiões, em que implica um “religare” que não é religião, mas religiosidade, que não é culto, é rito. Para poder entrar ali e fruir a obra, você precisa da senha! Como uma espécie de maçonaria. Se você dispuser dessa senha, entra nesse templo; se não, fica de fora. Mozart percebeu esse teor quase secreto da grande Arte e foi buscar literalmente na maçonaria seus esconderijos. Mas a ideia de uma “maçonaria” não precisa de maçons e da maçonaria em si: ela se faz presente na composição, na música. Existem rito e templo: o templo são as salas de concertos, os teatros, e toda música executada ao ar livre é a morte da grande música. O templo é uma redoma acústica onde há condições ideais de apreciação do sonoro. A entrada pode ser livre, mas para adentrar ali e fazer parte deste rito você tem que ter a senha. E a senha é o mergulho profundo, o conhecimento e a predisposição. Algo que pode estar presente na pessoa mais analfabeta e desprivilegiada desse mundo. [daqui]
Na pós-graduação, tivemos uma cadeira sobre música. Lemos muito sobre o eletroacústico, inclusive textos desse Flo Menezes. Gostava mais das ideias que ele pregava, contra uma representatividade da arte, que, de certa forma, já havia sido exposta com o fim do formalismo na pintura, que da sua própria música. Agora, é possível lê-lo e escutá-lo ao mesmo tempo.  

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Allen sobre Machado


I just got this in the mail one day. Some stranger in Brazil sent it and wrote, "You'll like this". Because it's a thin book, I read it. If it had been a thick book, I would have discarded it.
I was shocked by how charming and amusing it was. I couldn't believe he lived as long ago as he did. You would've thought he wrote it yesterday. It's so modern and so amusing. It's a very, very original piece of work. It rang a bell in me, in the same way that "The catcher in the rye" did. It was about subject matter that I liked and it was treated with great wit, great originality and no sentimentality.
Woody Allen, sobre "Memórias póstumas de Brás Cubas", do Machado de Assis. Daqui. [via]

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Orgulho sem ufanismo

Existem tantas maneiras de ver "Rio", aquela animação que todo mundo já viu e eu só fui conferir ontem, como de preparar Neston. Há o desenho dos mesmos criadores de "Era do gelo", a história de amor e quase ódio entre as duas araras-azuis, a relação mãe-filho entre Linda e Blu, a luta para se livrar do cativeiro e aprender a voar sozinho [metáforas...], a aventura tresloucada por uma cidade ainda em organização, a grande simpatia dos coadjuvantes - uma praxe entre animações desse porte -, o roteiro razoavelmente comum, clichês até, e há o Rio de Janeiro. Ah, o Rio de Janeiro.



Não vou me alongar tecendo loas de como a cidade foi retratada - isso já foi até redito. Mas fiquei imaginando como é a sensação para três - ou até quatro - grupos de pessoas, ao ver o filme. Quem nunca foi à cidade - que podem ser divididos entre quem não tem ideia do que é a cidade e quem conhece os principais pontos-turísticos; quem já foi à cidade; e quem mora na cidade. Acho que há diversas sensações só nesses grupos.

Os primeiros tendem a se deslumbrar com tantos e tamanhos encantos lugares-comum de uma cidade que une morro e praia, favela e um laboratório hightech para cuidar de pássaros [por mais ficcional que seja, é totalmente factível]. No filme, nunca chove, os por-de-sol são sempre róseos, como no verão, os traficantes vendem animais e os trombadinhas são pequenos micos [aliás, comentário de morador: grande acerto mostrar os macaquinhos mais como uma praga que como gracinhas]. Nossas mazelas mais conhecidas são mostradas, mas açucaradas, para não afastar nem assustar o meu sobrinho de 2 anos que vive em Buffalo, tão fria quanto Minnesota. O filme é feito para agradar, nunca contrariar. [Nem é a minha intenção dizer que deveria ser diferente a isso. Apenas constatando.]

Os segundos vão ter a memória turbinada, querendo se lembrar dos lugares que visitaram, que conheceram nessa cidade tão exótica. Vão ter suas lembranças - as boas e as ruins, como é a vida - reavivadas e vão sentir um pouco de nostalgia, ou como se gabam os brasileiros - apesar de não ser exclusividade deles, nem mesmo invenção da palavra - sentirão saudades. Sentirão falta da terra em que no verão a temperatura ultrapassa os 40º e no inverno raramente está  abaixo dos 20º. Isso, para quem está de férias, ou numa visita descompromissada, deve ser um dos sinônimos para o paraíso - não o cristão, porque esse é muito chato.

Já quem mora no Rio... Quem mora no Rio... Bem, a minha primeira reação foi procurar a minha casa. Tenho a sorte de morar perto do Pão de Açúcar, portanto, em tese, o meu prédio poderia aparecer - não, não apareceu. O carioca, os meus amigos especificamente, estão vivendo um momento de renascimento do orgulho de morar aqui. Mas um orgulho ainda temperado por décadas recentes de abandono, demonstrando que se dermos mole, perderemos, playboy.

Nesse sentido, o Rio, a meu ver, é a ponta do restante do país, que passa, desde a democratização, seguindo pela constituição, a primeira eleição direta para presidente em muitos anos, o impeachment, plano real, estabilização da economia, criação de programas de distribuição de renda, desenvolvimento de uma verdadeira classe média, que é a média econômica do país, etc etc etc., por uma espécie de volta de um período sombrio, mais ou menos como o Iluminismo, pós Idade Média.

Em "Rio", buscamos reconhecer todas as esquinas, da Lapa à Pedra Bonita. Percebemos a citação à diversas favelas, como Santa Marta, Rocinha e Cantagalo. Procuramos um erro geográfico, ético, comportamental, e não encontramos nada grosseiro. Nada que seja vergonhoso. Saímos da sala de projeção com a ideia de que é um belo retrato - no sentido de homenagem - à cidade. Dá vontade de ver de novo.