Atuações animadas
Salvo sob o convite irrecusável, admito que não verei “O expresso polar”, mas já fiquei impressionado. Nada pela trama – um clichezaço de natal –, menos pelo resultado final, já que não tenho know-how suficiente para saber se esta animação é mais “realista” que todas as outras produzidas. Mas, pelo press kit que tenho em mãos explicando como foi feito a tal performance capture.
A “Época” diz que é uma evolução do que fizeram com o Gollum em “Senhor dos Anéis”. Tom Hanks (que interpreta as cinco personagens principais masculinas) aparece em fotos vestindo um macacão azul e, de acordo com a revista, um computador registrava cada movimento dele. O material impresso que recebi afirma: “diferentemente dos sistemas de captação de movimentos existentes, que são limitados em alcance, este poderia gravar ao mesmo tempo movimentos tridimensionais, com alta fidelidade facial, e movimentos corporais de diversos atores, por meio de um sistema de câmeras digitais com cobertura de 360 graus”.
Como perfeitamente resumiu o Tambarotti, Hanks foi scanneado. E, mais grave, em 3D. Robert Zemeckis (a voz por trás do “ação” e do “corta”) tinha em mãos, um ator, em todos os ângulos possíveis, e poderia inseri-lo em qualquer contexto, sob qualquer condição. Ele mesmo admite: “eu podia filmar um two-shot e dois closes, ou deixar o close de um ator ocupar toda a cena como se faria na ação ao vivo. Então podia fazer o contrário com um segundo ator, ou outro two-shot”. As possibilidades crescem ad infinitum.
E é daí que, talvez, nasça o problema dessa nova tecnologia aplicada ao cinema. Zemeckis até brinca com o fato: “a boa notícia é que qualquer coisa é possível. A má é que qualquer coisa é possível”. Até mesmo para enxergar a cena filmada (ou gravada como preferem os puritanistas), foi necessário criar uma janela onde o diretor e equipe assistiam a todas as interpretações. Mas, onde colocar essa janela? E, depois das performances serem captadas, qual delas escolher, já que ele tinha absolutamente todas?
A "Época" compara este filme a “O canto de Jazz”, de 1927, primeiro filme falado da História. Um pouco de exagero. Mais contido, o Zé já afirmou que grande parte do cinema do futuro será de animação para adultos, quando conversamos sobre “As bicicletas de Beleville”. Li algo parecido no Ricardo Calil à época do lançamento de “Shrek 2”. Quando os desenhos forem idênticos à realidade, por que o diretor usaria sua paciência para agüentar atores estrelas? Mas, e o espectador, o sujeito passivo dessa ação, será que percebe essa mudança?, me cochicha aqui atrás, neste exato momento, o Batata. Bem provavelmente não. Ou ainda não, já que as mudanças são graduais e lentas. Mas é inegável que a quantidade produções em desenho animado só cresce, e tende a crescer ainda mais. Para todas as respostas acima, só nos resta aguardar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário