Polly Valente
Viajar mais de 400 km e gastar uma grana impensável só para assistir a um show de uma cantora completamente desconhecida do público em geral. Para muitos mortais essa frase é de uma incoerência atroz. Mas, se há uma resposta, por mais incompreensível que possa parecer é: faria novamente.
Ô, se não faria. Principalmente depois de assistir à inglesinha ao vivo, tomando proporções gigantescas (curioso é que todas as – poucas – matérias que li ressaltavam esse “engrandecimento” da cantora), com seu tradicional vestido vermelho de manga única, indo do sussurro ao urro, não tenho dúvidas. Valeu a pena ver Polly Jean Harvey.
Sua banda é formada por apenas três sujeitos, e ela própria, mas que parecem se multiplicar por inúmeros, tamanho é o peso que sai das caixas de som durante a apresentação. Originalmente são: 1) sujeito de moicano que pilota o baixão ocupando todos os espaços vazios; 2) magricelo de camisa flanelada quase grunge, cabelos despenteados e suados, na guitarra distorcida, barulheira e com pouquíssimo suingue; 3) um careca com as veias da cabeça altas por esmurrar a bateria; 4) PJ e nada além ou aquém.
Durante o show, entretanto, eles cambiaram suas posições demonstrando que, para tocar com a moçoila, devem saber cruzar e ainda correr para cabecear: o careca assume um teclado para dar os climas; o guitarrista vai para a bateria aumentar o tribalismo, há momentos de duas batucadas diferenciadas e ao mesmo tempo; o baixista pega a placa de substituição para ser o tecladista. Polly Jean empunha sua guitarra formato violão vermelha para combinar (parecida com as utilizadas por B.B. King) e constrói todas as bases.
Foram momentos sublimes. Músicas mais “batom borrado” que as originais sem, para isso, parecer que estávamos num show de heavy metal (que, aliás, foi a impressão que tive durante alguns momentos dos shows do Primal Scream). Era uma apresentação intimista, pequena. Ela parecia cantar para cada um de nós, independentemente do poderio de todos os instrumentos. Poderíamos assisti-la sentados, num lugar menor. Como afirmou Tamba, deu vontade de chorar. Como disse Marco, “dormiremos felizes”.
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