Seguindo a linha do texto anterior, e cortando uma bola já levantada, vou iniciar com um lugar-comum, só para esquentar: o que seria arte, em qualquer formato? Respondo, sem rodeios, hoje em dia, é aquilo que, ao ver / ouvir / ter acesso o interlocutor tem que falar "maneiro". O que é algo "maneiro"? Não sei, mas a impressão, a sensação, o que a arte transmite, ou deveria transmitir, é exatamente essa. De algo "maneiro".
É fútil, é bobo, simplista e infantil. Exatamente como a nossa época.
domingo, 27 de abril de 2008
sexta-feira, 25 de abril de 2008
As coisas simples
(Vou começar esse texto com uma frase bem clichê, mas que, com o decorrer, vai ter o seu motivo desvendado) Para que serve a arte e a literatura? Vários filósofos já discutiram esta razão, e obviamente não há uma conclusão universal. Há várias possibilidades, tantas que você pode se agarrar a uma para chamar de sua.
Como sempre cito Schopenhauer (aliás sonhei que haveria uma série de TV ambientada numa escola para criança chamada "Schopenhauer". Que viagem), farei dele a idéia que permeia esse texto. Muito resumidamente e numa interpretação pra lá de pessoal, arte (literatura, música, pintura...) seria a única coisa importante do mundo. O motivo pelo qual vivemos, já que não haveria nenhuma outra razão - não à toa chamam o alemão nascido no território da atual Polônia de pessimista.
A arte seria a maneira genuína de ligar nossa intuição e ativar nossa emoção. Viver para a arte e pela arte, portanto, seria o único modo de encarar a vida. Enfim.
Entretanto, temos outro problema, e outra pergunta clichê: o que seria arte, então? Seguindo o raciocínio de Schopenhauer, aquilo que nos desperta a intuição e ativa a nossa emoção. Pode-se perceber, contudo, que esse processo não é algo comum a todas as pessoas. Cada um tem o, digamos, botão em um diferente lugar. Portanto, não há como fazer um grande índex do que seria a arte - mesmo porque em um centésimo já ficaria defasado.
Isso tudo para dizer que estou lendo e adorando Dashiell Hamett, um clássico menor. Ou seja, uma arte considerada de "segundo escalão". Ele não faz parte dos norte-americanos da geração perdida, apesar de retratar o lado B dessa mesma época, não foi beatnik nem lembrado por essa galera, mesmo tendo antecedido muito da parte biográfica e do "live and let die" de Kerouac e cia., e fazia literatura, literalmente, barata.
Escrevia para revistas impressas em papel de péssima qualidade, as pulp fictions imortalizadas por outro rei do lado b, Quentin Tarantino, sobre detetives - basicamente - assassinatos e o submundo em geral. Criou a figura do detetive soturno, de capa de chuva e chapéu para se esconder, sempre com um cigarro na boca e andando pelas sombras. Daí um apelido dessa literatura: noir (já comentado no post anterior).
Ele não aborda o drama da existência humana, como os russos fazem, não passa horas tratando de uma decisão de vida ou morte, não há dramas de consciência. Ele é ágil, prático, mordaz, irônico, perfurocortante. Seu texto é tão planejado que chega a ser uma obra de engenharia, um cálculo matemático.
No fundo, a questão continua a mesma. Dashiell Hamett faz, claramente, parte do grupo "literatura de trama" (em oposição à de "personagem"), apesar de ter repetido seus protagonistas em mais de uma história. Sabe como é, ele ganhava por palavra escrita.
Mas é aí que mora a minha diversão. É aqui que eu falo "maneiro" (maior indicativo do que é obra de arte, nos dias de hoje. Mas isso é papo para outro post). A arte, às vezes, está nas coisas mais simples.
Como sempre cito Schopenhauer (aliás sonhei que haveria uma série de TV ambientada numa escola para criança chamada "Schopenhauer". Que viagem), farei dele a idéia que permeia esse texto. Muito resumidamente e numa interpretação pra lá de pessoal, arte (literatura, música, pintura...) seria a única coisa importante do mundo. O motivo pelo qual vivemos, já que não haveria nenhuma outra razão - não à toa chamam o alemão nascido no território da atual Polônia de pessimista.
A arte seria a maneira genuína de ligar nossa intuição e ativar nossa emoção. Viver para a arte e pela arte, portanto, seria o único modo de encarar a vida. Enfim.
Entretanto, temos outro problema, e outra pergunta clichê: o que seria arte, então? Seguindo o raciocínio de Schopenhauer, aquilo que nos desperta a intuição e ativa a nossa emoção. Pode-se perceber, contudo, que esse processo não é algo comum a todas as pessoas. Cada um tem o, digamos, botão em um diferente lugar. Portanto, não há como fazer um grande índex do que seria a arte - mesmo porque em um centésimo já ficaria defasado.
Isso tudo para dizer que estou lendo e adorando Dashiell Hamett, um clássico menor. Ou seja, uma arte considerada de "segundo escalão". Ele não faz parte dos norte-americanos da geração perdida, apesar de retratar o lado B dessa mesma época, não foi beatnik nem lembrado por essa galera, mesmo tendo antecedido muito da parte biográfica e do "live and let die" de Kerouac e cia., e fazia literatura, literalmente, barata.
Escrevia para revistas impressas em papel de péssima qualidade, as pulp fictions imortalizadas por outro rei do lado b, Quentin Tarantino, sobre detetives - basicamente - assassinatos e o submundo em geral. Criou a figura do detetive soturno, de capa de chuva e chapéu para se esconder, sempre com um cigarro na boca e andando pelas sombras. Daí um apelido dessa literatura: noir (já comentado no post anterior).
Ele não aborda o drama da existência humana, como os russos fazem, não passa horas tratando de uma decisão de vida ou morte, não há dramas de consciência. Ele é ágil, prático, mordaz, irônico, perfurocortante. Seu texto é tão planejado que chega a ser uma obra de engenharia, um cálculo matemático.
No fundo, a questão continua a mesma. Dashiell Hamett faz, claramente, parte do grupo "literatura de trama" (em oposição à de "personagem"), apesar de ter repetido seus protagonistas em mais de uma história. Sabe como é, ele ganhava por palavra escrita.
Mas é aí que mora a minha diversão. É aqui que eu falo "maneiro" (maior indicativo do que é obra de arte, nos dias de hoje. Mas isso é papo para outro post). A arte, às vezes, está nas coisas mais simples.
sexta-feira, 18 de abril de 2008
O meio é a mensagem
O filme noir (preto em francês) é chamado assim pelas sombras e contrastes exagerados, oriundos do expressionismo alemão da década de 1920. Por sua vez, a literatura noir, que recebeu esse nome por causa dos filmes e de uma série de livros de uma editora francesa.
Já a letteratura gialla (literatura amarela, em italiano), tem essa alcunha porque era impresso com capa... amarela.
Já "pulp fiction" porque utilizavam a polpa da celulose, mais barata, para imprimir os livros e revistas, geralmente cheios de violência e estilo. Curiosamente Dashiell Hammet é conhecido pelos seus livros de pulp fiction e noir. Mas, principalmente, pelo hard boiled, algo como "muito cozido".
Ah, as metáforas.
Já a letteratura gialla (literatura amarela, em italiano), tem essa alcunha porque era impresso com capa... amarela.
Já "pulp fiction" porque utilizavam a polpa da celulose, mais barata, para imprimir os livros e revistas, geralmente cheios de violência e estilo. Curiosamente Dashiell Hammet é conhecido pelos seus livros de pulp fiction e noir. Mas, principalmente, pelo hard boiled, algo como "muito cozido".
Ah, as metáforas.
sábado, 12 de abril de 2008
Separados ao nascer
A "Dança do quadrado" é a versão tupiniquim para "Macarena" (ou uma versão atualizada da "Dança da pamonha").
Realismo real
Entre as várias qualidades de "À sangue frio", de Truman Capote, está a ambivalência de seus personagens. Uum sujeito é e ao mesmo tempo, ou em outra oportunidade, não é determinada coisa. Ele pode simplesmente se contrariar, agir opostamente como se previa, se dizia que ia agir, ou como teria agido havia cinco minutos. As opções são praticamente infinitas.
Por ser uma história real - ou pelo menos baseada em, segundo os seus detratores - Capote teve a liberdade de narrar uma situação - na falta de expressão melhor - real. Em que a ambigüidade é a regra. Os seres humanos somos múltiplos, ora.
A curiosidade fica, curiosamente, nas obras de ficção ditas realísticas (mas não somente desta categoria). Os autores, com medo de suas personagens serem encaradas como incongruentes, via de regra seguem uma determinada cartilha em que a contrariedade, ambigüidade e a ambivalência não são possíveis. O mais engraçado: fazem uso desse determinado índex exatamente para ser encarado como factíveis. Isso quer dizer: para serem vistos como realistas, devem escrever menos realisticamente.
Capote tinha a vantagem de descrever situações reais, portanto, não poderia inventar nada. Ou nós que acreditamos no retrato fidedigno das situações. Mas, se o resultado é uma obra-prima, que diferença faz ser a realidade ou a invenção?
Por ser uma história real - ou pelo menos baseada em, segundo os seus detratores - Capote teve a liberdade de narrar uma situação - na falta de expressão melhor - real. Em que a ambigüidade é a regra. Os seres humanos somos múltiplos, ora.
A curiosidade fica, curiosamente, nas obras de ficção ditas realísticas (mas não somente desta categoria). Os autores, com medo de suas personagens serem encaradas como incongruentes, via de regra seguem uma determinada cartilha em que a contrariedade, ambigüidade e a ambivalência não são possíveis. O mais engraçado: fazem uso desse determinado índex exatamente para ser encarado como factíveis. Isso quer dizer: para serem vistos como realistas, devem escrever menos realisticamente.
Capote tinha a vantagem de descrever situações reais, portanto, não poderia inventar nada. Ou nós que acreditamos no retrato fidedigno das situações. Mas, se o resultado é uma obra-prima, que diferença faz ser a realidade ou a invenção?
terça-feira, 1 de abril de 2008
Sociologia gastronômica
Já escrevi sobre minha teoria de que os pobres de cada cultura emplacam a comida típica da sua região / país. Como exemplo dou sempre os mesmos: a feijoada no Brasil, a paella de Valência e adjacências - uma espécie de feijoada sem feijão e com frutos do mar no lugar do porco - e o fondue, suíço, uma mistura de diversos queijos que, no inverno, haviam ficado duros demais para comer e que eram esquentados numa panela com vinho (mais informações aqui).
Mas a questão é que há outra interpretação sociológica para a gastronomia. Uma interpretação digna do epíteto "de botequim". Foi desenvolvida em parceria com um amigo meu, que fez a, digamos, introdução.
Como diria Luís Fernando Veríssimo, o mundo está nas escolhas. Entre abotoar a camisa de baixo para cima, ou inverso, se barbear de cima para baixo, ou o inverso, ou colocar o feijão em baixo ou em cima do arroz. Isso pode demonstrar mais do que sugere nossa vã filosofia.
Segundo o meu amigo, ao colocar por baixo o feijão, isso demonstra uma origem mais modesta do cidadão, que compactava a sua comida em dois grandes temas: o feijão-com-arroz e o resto. Assim, o arroz faria a separação entre o feijão e os demais ingredientes, não permitindo que o grão escuro e suculento manchasse a carne ou outros legumes.
Além do que, o feijão-com-arroz seria a base de tudo podendo variar na quantidade de acordo com sua fome - o que é o cargo chefe da teoria de meu amigo. Como é mais barato, a possibilidade de tê-lo em maior quantidade que a carne, por exemplo, teria criado esse hábito de se precaver.
Já quem coloca o feijão por cima do arroz, geralmente deixa a dupla num canto do prato, acrescentando o que tiver no restante do recipiente. A separação, portanto, é mais complexa e demonstra uma maior variedade de componentes. O feijão e arroz, aqui, é apenas mais um coadjuvante, em vez de uma espécie de exército de ocupação.
Outra teoria seria na forma de apresentação do feijão: mais ou menos grosso? Com muito ou pouco caldo? A conclusão desta é ainda mais simples. Os que preferem com mais caldo seriam das extrações populacionais com menos poder aquisitivo por motivos óbvios. Lembrai da música de Francisco Buarque de Hollanda. E o inverso seria verdadeiro, por motivos também explícitos.
Agora fica a dúvida: e quem gosta do feijão em cima do arroz e com pouco caldo? Ou o inverso? Ah, a classe média, sempre inclassificável.
Mas a questão é que há outra interpretação sociológica para a gastronomia. Uma interpretação digna do epíteto "de botequim". Foi desenvolvida em parceria com um amigo meu, que fez a, digamos, introdução.
Como diria Luís Fernando Veríssimo, o mundo está nas escolhas. Entre abotoar a camisa de baixo para cima, ou inverso, se barbear de cima para baixo, ou o inverso, ou colocar o feijão em baixo ou em cima do arroz. Isso pode demonstrar mais do que sugere nossa vã filosofia.
Segundo o meu amigo, ao colocar por baixo o feijão, isso demonstra uma origem mais modesta do cidadão, que compactava a sua comida em dois grandes temas: o feijão-com-arroz e o resto. Assim, o arroz faria a separação entre o feijão e os demais ingredientes, não permitindo que o grão escuro e suculento manchasse a carne ou outros legumes.
Além do que, o feijão-com-arroz seria a base de tudo podendo variar na quantidade de acordo com sua fome - o que é o cargo chefe da teoria de meu amigo. Como é mais barato, a possibilidade de tê-lo em maior quantidade que a carne, por exemplo, teria criado esse hábito de se precaver.
Já quem coloca o feijão por cima do arroz, geralmente deixa a dupla num canto do prato, acrescentando o que tiver no restante do recipiente. A separação, portanto, é mais complexa e demonstra uma maior variedade de componentes. O feijão e arroz, aqui, é apenas mais um coadjuvante, em vez de uma espécie de exército de ocupação.
Outra teoria seria na forma de apresentação do feijão: mais ou menos grosso? Com muito ou pouco caldo? A conclusão desta é ainda mais simples. Os que preferem com mais caldo seriam das extrações populacionais com menos poder aquisitivo por motivos óbvios. Lembrai da música de Francisco Buarque de Hollanda. E o inverso seria verdadeiro, por motivos também explícitos.
Agora fica a dúvida: e quem gosta do feijão em cima do arroz e com pouco caldo? Ou o inverso? Ah, a classe média, sempre inclassificável.
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