A milícia consegue o seu dinheiro vendendo suposta proteção para moradores das áreas pobres da Zona Oeste. Ou seja, lidam com um bem público, como a segurança, de maneira privada - fazendo com que as pessoas não tenham em quem confiar.
E demonstrando que, mais que um problema que se deve atacar a conseqüência - a milícia em si -, deve-se cobrar atitudes contra a causa - a falta de policiamento adequado, que traria paz à galera dali, que não deixaria ter traficante na região, que prendesse os ladrões... Enfim.
Os paramilitares arranjam grana controlando a máfia das vans piratas. O que também é a intervenção direta no domínio do estado. Se o município fosse mais cuidadoso com as pessoas que moram longe dos centro urbanos, dando ônibus decente, trem razoável e metrô de qualquer tipo, não teria como haver tanta Kombi caindo aos pedaços na área cobrando dos real para levar gente de Sepetiba a Campo Grande. A prefeitura encara o serviço público - transporte - como uma disputa privada - só as áreas ricas têm linhas suficientes (e até mais que o necessário, muitas vezes).
Outro braço da milícia que poderia ser facilmente desarticulado, sem um único tiro, apenas com investimento estatal, é o gás. Os milicianos também controlam a venda dos botijões, tascando um ágio no preço do distribuidor. Se a empresa que controla esse serviço investisse em levar o encanamento às áreas pobres... o resto você pode imaginar. Se não rolasse, que pelo menos organizasse a venda dos botijões mesmo. Mas não. Os milicianos que tomam conta.
Entretanto, o lucro maior da milícia, segundo um amigo meu que, além de fotógrafo de crianças, estuda o assunto violência, é o gatonet. Para quem não tem idéia do que é isso, uma explicação boboca e rápida: a pirataria do sinal de internet e TV a cabo de uma determinada empresa, cujo nome não precisamos repetir. Taí um serviço que não é público.
O "desvio" desse serviço é até curioso, porque - diretamente - ninguém sai perdendo, além da própria companhia. Pelo contrário, os moradores geralmente têm o mesmo serviço que os da Zona Sul e pagam apenas um terço por ele. A empresa em si também não perde nada - novamente: diretamente -, mas deixa de ganhar. O seu serviço não é atrapalhado, nem ela deixa de atender alguém porque o seu sinal está sendo multiplicado. Ou seja, é quase uma pirataria inócua - assim como o download de músicas, filmes etc.
Só não vou escrever que o ato de popularizar o acesso à internet e ao conteúdo diferenciado dos canais pagos é até interessante porque vão dizer que estou fazendo apologia - muito pelo contrário, sou 100% contra a milícia. E, ainda por cima, aqui em casa, nem temos TV por assinatura. Mas que a questão lembra a letra de "Comida", do Titãs, não tem como negar.
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