domingo, 13 de julho de 2008

Entre mim e você

O altruísmo não existe. (Optei por começar esse pensamento com uma afirmação simples, em vez de fazer uma pergunta que apenas tiraria a negativa e tascaria uma interrogação ao fim da frase. Mas a questão continua. Obviamente cada um tem a sua opinião sobre o assunto, e eu só quis criar uma polêmica - ou simplesmente não seja fã de começar um texto com uma pergunta, como categoricamente me disse um amigo meu. Isso não importa e só demonstra que fiz esse parágrafo como nariz-de-cera).

Não foi Nietzsche quem disse que somos apenas egoístas? Bem, se não disse, o bigodudo deve ter pensado. É bem a cara do filósofo mais destruidor dos últimos séculos dizer que até os gestos mais bondosos, em que, em tese, fazemos em prol dos demais, o fazemos apenas para inflar, mesmo que intimamento, o nosso ego.

Claro que esse raciocínio tem via dupla - e por isso a escolha da frase inicial é aleatória, como expliquei no primeiro parágrafo. Ou seja, mesmo quando age simplesmente em prol de si mesmo, ele pode argumentar, filosoficamente, que estava agindo para tentar diminuir o ego do outro, ou que qualquer ajuda seria demonstrar como ele próprio se sente superior ao outro, ou ainda que ele não se sente capaz de auxiliar ninguém em nada.

A questão, provavelmente, é outra. Seria tão ruim o egoismo? Se o altruísmo não existe mesmo, como proposto aleatoriamente no início do texto, todas ações seriam egoísticas, ou seja, feitas sempre em prol de si mesmo. Bastaria a nós tentar diferenciar cada uma delas e separá-las em três grupos, as inócuas, as produtivas e as venenosas.

Mas, diferente do que foi dito até agora, proponho que o altruísmo exista, sim, mas apenas como utopia. Aconteceria quando alguém agisse sem pensar nas conseqüências de suas atitudes, sem imaginar ou esperar um bem das próprias ações. Ou seja, quando alguém é inocente, no sentido que a palavra tem de "não contaminado". Algo que só as crianças - de todas as idades - seriam capazes. Por isso a "utopia".

Dá para montar um esquema em que as atitudes são divididas em (a) impulso inicial, (b) ato em si, (c) conseqüência. (b) geralmente não muda, é um produto de (a) com (c). Se agirmos sem pensar em (c), estamos sendo altruístas. Mas para interromper essa história, porque isso daria um artigo enorme, fica uma pergunta: e quem é que consegue fazer isso?

4 comentários:

Anônimo disse...

Instigante texto.

É que as pessoas de uma maneira ou de outra sempre esperam reações mútuas, e isto incita o egoísmo.

Altruísmo em sentido próprio é, sem dúvida, utópico.

O importante é fazer o bem para si e o próprio, se não possível simultaneamente, aquele primeiro, pois no esquema é imprescindível para um resultado satisfatório em (c).

:o)

contonocanto disse...

Talvez o importante seja perseguir a utopia.

Anônimo disse...

Tb!

=)

Dr. Mundo Novo disse...

Interessante como o Pop também é cultura. Tem um espisódio de Friends que trata exatamente deste assunto. Existe alguma boa ação verdadeiramente altruísta. Infelizmente o final é mela-cuecas e no brinda com aquela verdadeira boa ação, vindo do fundo do coração. Vale um torrent aí!