quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Mamma mia

Em "Concorrência desleal", Ettore Scola faz uma piada sobre o modo como os italianos emigraram para outros países. Diz que há mais italianos fora da bota que dentro. Não tenho estatísticas, mas só nos EUA são 20 milhões de descendentes, segundo "Os Sopranos".

A série americana que coloca a máfia no divã, de maneira dramática, tenta fazer um inventário desse personagem imortalizado por, além dos poderosos chefões e dos bons companheiros, pizza e... o que mais? O que é ser italiano hoje em dia? Vale a pena, aliás, ser considerado italiano, ainda hoje, após quase cem anos de imigração?

Entretanto, um dos detalhes da série é mostrar como os ítalo-americanos, para usar uma expressão politicamente correta, são mal vistos, de maneira em geral, pelos norte-americanos - seja lá quem essa minoria represente hoje. Não pertencendo à WASP como a conhecemos, o grupo entra no caldeirão dos excluídos. Durante toda a temporada, eles brincam que nunca haverá um presidente italiano nos EUA. O posto acabou com outra minoria - mas esse é um papo para outro pôr-do-sol.

Por outro lado, o nosso lado, os italianos são extremamente bem-vistos, como os europeus que vieram nos salvar e gentilmente deixaram os seus genes. É incrível a quantidade de sobrenomes com letras duplicadas entre os de classe-média.

De certa forma, para os americanos do norte, isso já é uma forma de identificar os italianos. Basta que o seu sobrenome termine em uma vogal - diz Tony Soprano, o cappo que também chora. Aqui, nem isso.

Aqui, num país que era separado entre casas-grande e senzalas, os italianos vieram para ser a classe-média. Lá, eles formaram o povo americano, ou seja aquela grande classe-média, em que todos tentam se diferenciar uns dos outros vestindo meias de cores diferentes compradas na mesma loja.

Por isso, é importante, para eles, tentarem identificar do que são feitos. Para nós, o melhor é esquecer a pronúncia correta dos nossos nomes. Antes de sermos italianos, ainda temos que aprender a ser brasileiros. Ou, sendo mais radical, esquecermos qualquer limite geográfico.

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