sábado, 27 de fevereiro de 2010

Deuses gregos, um teste

Estou numa fase (otimista?) em que acredito que qualquer coisa, qualquer ato mais ínfimo pode ser a origem de uma interpretação mais aprofundada. Em outras palavras: como se todo ato pudesse ser visto de diversos ângulos e eu acreditasse, agora, que pudesse falar mais que um desses lados.

Por exemplo, um teste desse tipo aqui. O meu resultado deu Dionísio. Mas, como eu fiz as perguntas, sabia as respostas já. Não quer dizer que eu responderia de acordo com o que eu queria que desse, mesmo porque, relaxadamente como eu fiz o quiz, não poderia lembrar quantas questões eu marquei letra "a", "b" ou "c". A questão é que ficava sempre entre as letras que me mandavam para a solução de ser Atena e do Dionísio. Entre as opções dadas, era uma espécie de encontro forma-conteúdo, inteligência-emoção, ying-yang, que também pode ser representado pelo famoso par eternizado por Nietzsche Apolo-Dionísio.

Ou seja, ao optar pelas respostas de Dionísio, talvez estivesse inconscientemente escolhendo ser Atena. Como disse, respondi de maneira relaxada, mas, talvez, no fundo, a minha resposta mais correta fosse as de Atena. Ou, ainda, que a mistura dos dois lados, na escolha e no resultado, que é, a seu modo, a realidade, fosse a alternativa mais segura. Como sempre, escolhi o meio termo.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Quem gosta de plágio?

Essa história não é nova. Mas é sempre bom deixar claro que não sou a favor do plágio stricto sensu, ou seja, a “apresentação feita por alguém, como de sua própria autoria, de trabalho, obra intelectual etc. produzido por outrem”, nos ensina o Houaiss. Todo e qualquer autor pega algo do passado, como se pagasse um tributo à tradição. Mas de posse desse “primeiro”, o autor deve retrabalhar e recriar uma nova obra.

Se for uma questão de copiar letra por letra a versão primeira, não há “originalidade” que se salve. Vai ficar para o futuro aquela obra que tiver mais poder para se autopromover, para se autodivulgar. Ou seja, quem tem mais poder e dinheiro. Não adianta, por exemplo, só trocar as palavras de lugar. Como, aliás, lembrou o humorista Arnaldo Branco sobre a “versão” de Rafinha Bastos do vídeo do inglês Charlie Brooker,

Original


“Versão baseada”

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Quem é que manda, o leitor ou o autor?

Como funciona a interatividade quando falamos sobre aquela coisa ultrapassada chamada arte? Quem é que manda, aliás, o leitor ou o autor? Isso tudo e um ótimo discurso de Victor Hugo.

Propaganda política: Tromba Trem

Um camarada meu, o grande , está concorrendo com o piloto de animação para tentar virar uma série na TV Cultura. Abaixo, o texto-propaganda do Zé:



Amigos,

No dia 19 de Janeiro enviei um e-mail para vocês divulgando a estréia na TV do piloto da nossa série de animação, o Tromba Trem, junto com o trailer.

O desenho passou na TV Cultura e na TV Brasil entre os dias 25 e 30 de Janeiro, mas muita gente não conseguiu ver.

Agora o desenho está disponível na íntegra na internet, para quem quiser ver e… VOTAR!!!
É isso mesmo, haverá uma votação online para a escolha do melhor piloto do ANIMATV na opinião dos internautas.

Essa votação dará um prêmio de “melhor da internet” e em teoria não decide quais dos pilotos vai virar série de TV.

Porém acreditamos que a opinião de tanta gente não poderá ser ignorada pelos jurados ao definir os vencedores do ANIMATV.

O link para assistir, votar e comentar Tromba Trem:

http://www.tvcultura.com.br/animatv/votacao

(talvez demore um pouco para abrir o link devido o grande número de acessos simultâneos)

Relembrando, o ANIMATV é um programa do governo de incentivo a produção de séries de animação brasileiras. Eu e meus colegas do Copa Studio inscrevemos um projeto, o Tromba Trem, e ficamos entre os 17 projetos contemplados (de 257 inscritos) para produzir um piloto de série de animação para TV, com duração de 11 minutos. Desses 17 pilotos, apenas 2 (dois) vão virar uma série completa de TV, com mais 12 episódios. A decisão dos vencedores está na mão de um grupo de jurados que vão levar em consideração, entre outros quesitos, a popularidade dos projetos.
Por isso seu voto é tão importante para conseguir transformar nosso projeto numa série!

Assistam ao filme e se acharem que nosso projeto é o melhor, votem na gente e escrevam comentários!

E não deixem de divulgar para todos que quiserem!
Mais informações no blog do projeto:

http://trombatrem.blogspot.com/

No site do Copa Studio:

http://www.copastudio.com/

E no twitter:

http://twitter.com/copastudio

Abraço e obrigado!!!!


Zé Brandão
Diretor Criativo
Copa Studio
(21) 2222 0640

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

J.K. Rowling, as colagens e os processos de plágio

A escritora J.K. Rowling foi incluída num processo de plágio no mesmo "período histórico" em que uma menina de 17 anos é acusada de fazer colagens de outros autores para o seu primeiro livro. Mas onde fica a origem de tudo isso? Em Shakespeare.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Autojabá

Sou tão ruim com autopromoção que me esqueci de colocar um link aqui sobre a venda do meu segundo livrinho, que está disponível há mais de mês. Como esse carnaval é o início de uma nova fase desse blog, vou começar fazendo propaganda de mim mesmo. Compre "AUTOASSASSINATO".

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

'O show de Truman', o destino, as identidades e outras pseudices

Continuando a semana de reprises (na sexta vi o incrível "Top secret"), assisti ontem a "O show de Truman" e fiquei pensando sobre duas das muitas implicações filosóficas do longa de Peter Weir.

Mas antes de começar, quero lembrar que o filme foi feito ANTES do primeiro reality show com a marca Big Brother - se a wikipedia está certa, um ano antes. Claro que já existia a experiência da interatividade e os chamados programas de realidade também aconteciam nessa época, mas é de tirar o chapéu para o diretor. De certa forma, também não é uma surpresa muito grande, considerando que Weir, a quem eu não ligava o nome à pessoa, é responsável por, entre outros "Gallipoli" e "Sociedade dos poetas mortos". O cara sabe das coisas.

Voltando ao assunto, pensei em um pequeno diálogo em que Christof (Ed Harris), o deus do programa, afirma que o mundo é aquilo que nós acreditamos ser. Em seguida, perguntam para ele se Truman não gostaria de sair, e ele responde que o vendedor de seguros interpretado por Jim Carey (não precisa mostrar mais nada a ninguém) voltaria para a sua cela, caso tivesse a possibilidade de sair.

A ideia do mundo ser a nossa representação, como bem escreveu Schopenhauer, é um conceito desenvolvido pelo seu "padrinho", o cara que o inspirou a escrever sua obra-mestra: Kant. Emanuel, para os íntimos, demonstra que só podemos saber aquilo que é mediado pelos nossos sentidos. O restante é baseado na nossa razão, que desenvolve códigos de comportamento para organizar a nossa volta, como a moral, as leis, a conduta.

O raciocínio de Kant tem um sentido praticamente irretocável. Foi a primeira vez que separaram o homem do mundo, dando a ele noção do seu tamanho e da sua responsabilidade. Mas deu corda para outros pensadores desenvolverem as suas máximas. Por exemplo, Foucault. Nunca li nada do francês, mas sempre afirmam da sua proposta de criação de identidade. Aliás, no carnaval, após anos da ideia de período permissivo, em que os sinais eram trocados (o homem se veste de mulher, a mulher, de homem), como defende DaMatta, acho que estamos entrando num período de construção de personagens, muito afeito ao nosso tempo histórico, em que, com as várias camadas de virtualidade que experimentamos, podemos ser quem quisermos à medida que mudamos de segmento.

Por isso, não se aplica, a ferro e fogo, a proposta de que o mundo é aquilo que nós conhecemos. Porque, de certa forma, podemos também criar um mundo. Podemos optar por uma nova interpretação, um novo jeito de ver, sentir, tocar as coisas. É como se Kant tivesse ignorado o nosso livre arbítrio e tivesse apenas afirmado que somos criaturas dentro do mar do destino. Por isso, o homem pode sair de sua cela - ou de sua caverna, como queria Platão - e pode voltar. Ou pode nunca mais voltar, e viver uma vida completamente diferente. Funciona como escolha. Não por acaso, o nome do livro mais famoso de Schopenhauer é "O mundo como VONTADE e representação" (grifos meus).

Talvez o livre arbítrio seja apenas um caminho mais longo para chegarmos ao nosso destino. Talvez o livre arbítrio seja a rodovia e o destino, o fim. Mas é nossa escolha.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Os cínicos

Ontem assisti novamente a "Casablanca" e fiquei me perguntando por que todo mundo acha Rick "o cara". Mesmo sendo mostrado como o homem que "não arrisca o pescoço por ninguém", que não se senta nas mesas com os clientes de seu bar, não dá trela para gente desconhecida, barra estranhos no seu estabelecimento, ele é visto como um homem charmoso e até irresistível.


Ugarte, o homem que tem os passes-livre e os deixa com Rick, diz inclusive que só confia nele porque ele o despreza. E não é só ele que fica hipnotizado pelo novaiorquino que tem respostas para tudo, sempre afiado numa ironia desconcertante. Ele é "apresentado", por exemplo, para Ilsa pelo capitão Renault como o homem por quem, se o policial fosse mulher, seria apaixonada. Também vemos, ainda bem no início do filme, outra mulher, Yvonne, que nitidamente ama o dono do bar-cassino. Além da própria Ilsa, que é casada com um líder da resistência aos alemães, um herói de guerra, mas, mesmo assim, se confessa caída pelo sujeito.

Rick, como todo mundo sabe, foi imortalizado na pele de Humphrey Bogart, um ator cujos papéis - se não todos, pelos menos uma boa parte - eram uma mistura de homens cínicos, irônicos, durões, inteligente, com tiradas incríveis e um senso de humor que não perdoava ninguém. Era um perfil, um arquétipo masculino, bastante valorizado até metade do século passado, antes dos homens descobrirem que as mulheres também gostam de sensibilidade do outro lado.

Mas o curioso sobre Rick é que Renault, que vai se tornar uma espécie de amigo para Rick, fica, durante todo o filme, tentando entender que tipo de personalidade é aquela. Se por um lado, o dono do bar não gostava de se envolver com outras pessoas, ele tinha um histórico de apoiar em guerras o lado "dos mocinhos", ou seja, contrário aos fascistas. O que demonstrava que, se ele não se importava agora, ele já tinha se importado em outros tempos.

Renault acredita que esse cinismo de Rick é apenas uma fachada para o seu "eu-verdadeiro", alguém sentimental. Rick se fechou dentro de uma carapaça após ter sido abandonado por Ilsa, em Paris, logo que os alemães entram na cidade. A partir daí, decide viver sozinho. Ilsa, por sua vez, acredita que ele, apenas, sente pena de si mesmo, e prefere sofrer a enfrentar o mundo. Assim, evita o primeiro contato, para não ter mais nenhum outro.

Acredito que Rick desperta essa admiração por onde passa por uma combinação de fatores. Em primeiro lugar pelo ar de mistério. Já que ele não se envolve, ninguém sabe ao certo quem ele é. Depois, vem o fato de ele ser inteligente e irônico, o que alimenta a vontade dos outros em ouvir sua próxima tirada. Mas o principal, talvez, seja esse sentimento que Renault consegue exteriorizar. É como se todos soubessem que ele não é assim, que não é possível haver um sujeito apenas irônico, cínico, que isso é um disfarce para algo mais profundo, e esse outro ser não vem à luz facilmente. As pessoas, talvez, queiram escavar esse exterior para encontrar a verdade que está lá dentro e por isso ficam encantadas. Como se esses personagens tivessem uma segunda dimensão a mostrar, enquanto os demais são mais simples de entender. Os cínicos somos assim.

ps. a cena em que os alemães começam a cantar no bar e os demais começam a responder com a Marselhesa é, talvez, a melhor de todo o filme.