Roberto Schwarz, em um dos livros em que ele analisa o Machado, "Ao vencedor as batatas" [essa frase é muito boa], fala que Machado foi um gênio como crítico de costumes de uma sociedade brasileira que era baseada em três "classes": os escravos, os senhores de escravos e os "agregados". a discussão intelectual sempre ficou nas duas últimas que tentaram, sem muito resultado, se tornar europeus, importando correntes de pensamento e impondo a força conceitos que não se aplicavam, como, por exemplo, as ideias iluministas. como ser iluminista e escravocrata ao mesmo tempo? acho muito interessante a parte que ele comenta esse "agregado". vou copiar aqui uma interpretação.
Schwarz explica que o Brasil – esse personagem metonímico – exercia uma função de agente duplo, sendo a favor, na teoria, das ideias “modernas” europeias, e agindo como um “atrasado”, ao exercer a escravidão. Essa função tem origem na própria formação econômica do período, escreve. Éramos um país de grandes latifúndios que, por um lado, dependia da mão-de-obra escrava para a produções dos bens agrícolas, e, por outro, vendia esses produtos ao mercado externo, majoritariamente europeu, liberal e burguês. O “marxista brechtiano”[1] fala que, além desses dois atores da sociedade brasileira desse período, o escravo e o senhor, havia uma terceira figura que estava entre os dois extremos, mas ligada aos dois, como se fosse uma ponte, o que ele chama de “homem livre”, com um adendo: “porém dependente”, e o caricaturiza num personagem de fácil identificação: o agregado. Para Schwarz, a parte central para entender esse terceiro elemento e a sua relação com os senhores, é desvendar a instituição do “favor”. Diz ele que será entre essas duas esferas superiores, os senhores e os “agregados”, que se dará a vida intelectual. “O favor, ponto por ponto, pratica a dependência à pessoa, a exceção à regra, a cultura interessada, remuneração, e serviços pessoais”, escreve. O favor ainda tinha uma função de assegurar para as duas partes envolvidas, principalmente para os favorecidos, de que, “nem mais miserável dos favorecidos” era um escravo. Era uma marca de ascenção sobre um grupo social. Era uma relação que expunha um certo tipo de status. Segundo Schwarz, “Machado de Assis será mestre nestes meandros”, sendo capaz de fazer uma crônica de costumes, temperada com sua tradicional ironia para demonstrar suas incongruências.
Depois, rolou uma discussão de "nós" [brasileiros] x "eles" [estrangeiros], que eu também entrei, para confundir, não para explicar, como diria lá o Chacrinha. Demonstrei que, hoje em dia, não somos assim tão diferentes, principalmente na internet. Copio abaixo:
saiu o google zeitgeist, que é a retrospectiva do google para 2010.
os dez assuntos mundiais que mais cresceram foram: chatroulette, ipad, justin bieber, nicki minaj, friv myxer, katy perry, twitter, gamezer, facebook.
ou seja, celebridades, redes sociais, gadgets, gente que a gente nunca ouviu falar.
no brasil, foram: larissa riquelme, formspring, justin bieber, bbb 2010, enem 2010, restart, hotmail.com.br, luan santana, assistir filmes online, globo.com.br.
bem, não modifica tanto assim. e ainda temos assuntos mais "sérios", como enem 2010, e "assistir filmes online" [convenhamos que um pouco de anarquia faz bem]. também mostramos o quanto somos estranhos: procurar "hotmail.com.br" e "globo.com.br". ou somos viciados no google ou somos mongóis.
tudo bem, o mundo não é o bastante para a gente - e é influenciado por um bando de gente estranha - nós inclusive. vamos ver outros países. frança, pode ser?
chatroulette, grepolis, portailorange, justin bieber, facebook, gmail, message, hotmail sign in, haiti, deezer.fr, pole emploi.
redes sociais, celebridades, mongolismo-vício-portais, site de procura de emprego [é a crise, estúpido] e haiti.
considerando que houve uma catástrofe no haiti esse ano e que há muito haitiano na frança, eu desconsidero o caráter humanitário simples dessa busca.
ou seja, talvez estejamos vivendo uma situação em que o nível mundial é muito parecido. não há tanta diferença assim entre o "nós" e o "eles", pelo menos não na internet.
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