Parecia que Londres não queria que eu fosse embora. Primeiro tentou me convencer a ficar com noites animadas, encontros felizes com amigos. Depois, programas que adoramos se repetindo perfeitamente. Por fim, um crepúsculo que só essa cidade sabe produzir. Como se o tempo parasse, como se houvesse um degradê no céu. Como se o sol se deitasse tão vagarosamente que quase se esquecesse que deveria ir embora. Um pôr do sol único, raro, que só acontece quando o céu está limpo, o dia, ensolarado, e a temperatura, agradável.
Quando Londres viu que essa tática da sedução não iria dar certo, tentou outra mais arisca, como uma mulher vingativa que sente que vai ser trocada.
Primeiro, multiplicou nossas malas. A bagagem se reproduziu sem qualquer aviso ou gestação. Quando não brotavam mais malas, elas engordavam. Cresciam de peso, tornando o transporte quase impraticável. O taxista, um imigrante africano que falava um inglês ainda pior que o meu, reclamou, claro: "it's overloaded". Estava mesmo. Estávamos levando um ano de souvenirs - não à toa, "lembranças" em francês. Era um pedaço da nossa vida que tínhamos empacotado para viagem.
Por fim - e até agora - Londres deu o seu golpe final: me isolou, me fez passar uma noite em claro, pensando nela. Me deu um café, essa nova tradição pessoal minha, e me fez escrever sobre ela. Mostrar o quanto ela foi e quanto ela sempre será importante para mim.
Agora, com o meu destino razoavelmente traçado, eu posso dizer que eu até conseguirei me desvincular dessa maldição. Mas, para o resto da minha vida, ela vai ter um destaque na minha prateleira de cidade favorita.
Quando Londres viu que essa tática da sedução não iria dar certo, tentou outra mais arisca, como uma mulher vingativa que sente que vai ser trocada.
Primeiro, multiplicou nossas malas. A bagagem se reproduziu sem qualquer aviso ou gestação. Quando não brotavam mais malas, elas engordavam. Cresciam de peso, tornando o transporte quase impraticável. O taxista, um imigrante africano que falava um inglês ainda pior que o meu, reclamou, claro: "it's overloaded". Estava mesmo. Estávamos levando um ano de souvenirs - não à toa, "lembranças" em francês. Era um pedaço da nossa vida que tínhamos empacotado para viagem.
Por fim - e até agora - Londres deu o seu golpe final: me isolou, me fez passar uma noite em claro, pensando nela. Me deu um café, essa nova tradição pessoal minha, e me fez escrever sobre ela. Mostrar o quanto ela foi e quanto ela sempre será importante para mim.
Agora, com o meu destino razoavelmente traçado, eu posso dizer que eu até conseguirei me desvincular dessa maldição. Mas, para o resto da minha vida, ela vai ter um destaque na minha prateleira de cidade favorita.
Um comentário:
Bonito, Ronaldo. A partida é sempre durinha, por mais calorosa que seja a chegada que te espera. Me lembrou um post que fiz quando estava preparando a mudança para o Brasil:
http://unavelaparabalzac.wordpress.com/2010/11/01/a-folha-em-branco/
Bjs e bom retorno!
Clarissa
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